O fim da polêmica
David Coimbra: o Muro
Sem-Vergonha
Por:
David Coimbra
19/10/2015
O Muro da Mauá, que já foi
chamado de Muro da Vergonha, esse muro, eu o transformaria no Muro
Sem-Vergonha.
Porque seria para trás dele que transferiria toda a chamada
"noite forte" de Porto Alegre, com seus ardores e seus sem-pudores.
Toda a gente da noite, que
não liga para preconceito, que tem as estrelas na alma e a lua dentro do seu
peito, toda essa gente escorreria para trás do muro, e lá eles se refocilariam,
se repoltreariam e espadanariam, como doces vampiros, do deitar ao levantar do
sol.
Esses bares e boates da
Cidade Baixa, essa gente da vida cansada, que ergue seu mundo na madrugada e
que vive às turras com os moradores pais de família, que precisam do silêncio
para repousar a fim de acordar cedo no dia seguinte, esses bares e boates, eu,
se fosse prefeito, ofereceria algumas isenções a eles para que aceitassem a
transferência, e creio que aceitariam de bom grado.
Que bela noite seria, a da
capital de todos os gaúchos.
O muro protegeria os
noctívagos.
Porque, havendo apenas dois ou três acessos, ficaria fácil de fazer
a segurança. Meia dúzia de brigadianos e mais dois ou três agentes da EPTC
manteriam facilmente a paz.
E, como não há ninguém residindo na vizinhança, a
noite se estenderia até que a Estrela D'Alva no céu despontasse e a lua
tonteasse com tamanho esplendor.
Mais: o número de
acidentes com motoristas bêbados diminuiria drasticamente, porque seria quase
impossível alguém sair de lá dirigindo alcoolizado sem ser visto pelos
azuizinhos.
A melhor noite do Brasil,
é no que se transformaria a noite à beira do rio que não é rio.
Os que querem shopping no
cais e os que querem lojinhas de artesanato e os que não querem nada, todos
seriam contemplados e estariam sorridentes, como convém a uma autêntica Cidade
Sorriso.
E o Muro... ah, o Muro,
que uns acham útil por temerem cheias, que outros acham inútil por considerá-lo
devassável, que mais alguns, por fim, querem atorá-lo ao meio para contentar a
estes e aqueles, o Muro poderia ser decorado e suavizado pelos nossos
talentosos grafiteiros e, ao raiar do sol, quando raiam também as desilusões,
quando os amores rotos se mostram inconsúteis, quando o remorso sucede ao
arroubo, ao raiar do sol, o Muro Sem-Vergonha serviria como Muro das
Lamentações, e, em vez de preces, agradecimentos e pedidos à
Divindade, seria
tapado por cartas de amor, e seria lindo, que até um muro pode ser lindo.
post: Marcelo Ferla
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