ENSAIO SOBRE MIM, OU SOBRE
VOCÊ.
POR
CRISTINA SOUZA
O que você é quando só tem
você como platéia?
Você é inteiro, verdadeiro?
Como diz Cazuza, chora e fede
como todo mundo?
Eu canto num canto
sozinha.
Eu sozinha me jogo num canto da calçada e me junto a desconhecidos que
cantam palavras encantadoras.
Enquanto você dorme, eu ando a praia inteira,
enquanto você passa, eu paro e olho a flor.
Eu faço tudo ao mesmo tempo, ocupo
meus dias inteiros em correrias inacabáveis, ao mesmo tempo em que sento numa
praça e fico horas a fio apenas a observar.
Eu abraço – conhecidos ou
estranhos.
Mas abraço mesmo.
Não venha me envolver com braços fracos e espaços
entre o peito, que colo meu coração no teu e te aperto até ficar sem ar.
Mas só
aperto em abraços – eu gosto de espaço.
Do espaço.
Não gosto do sufoco, só se
for aquele causado pelos nossos lábios que de tão colados nos faz ficar sem ar.
Eu dou risada no meio de gente séria.
Eu consigo ficar séria se for preciso.
Luto com unhas e dentes por aquilo e aqueles que amo.
Não consigo ouvir uma
baboseira e ficar quieta, falo demais até.
Não me calo, não suporto calo,
prefiro estar descalça.
Eu choro e não fico bonita chorando, meus olhos apertam
e meu nariz escorre, a voz falha e eu disfarço não.
Eu nunca sei disfarçar:
você saberá quando minto, quando sinto e quando deixo de sentir.
Você tem que
me deixar ir, sempre ir, porque eu volto.
Mas não me obrigue.
Não gosto de ser
obrigada a nada.
Gosto de dançar ouvindo as músicas que vem da minha cabeça
quando para você há só silêncio.
Eu tropeço, ralo os joelhos, me sujo na lama,
me enrolo pra sair da cama.
Eu como.
Como pra caralho.
Ops. Eu falo palavrão.
Eu acho foda que você não fale, quando só há palavrão para expressar o que se
sente.
Eu acho foda que você não fale: não sou dada a desvendar silêncios e só
gosto de jogo se for no vídeo-game.
Eu faço sexo.
Eu faço amor.
Eu faço o que
eu quiser – dispo-me ou me cubro, insisto ou descubro, partilho ou escolho a
partida.
Eu amo.
E amo de novo.
E de novo.
Estou sempre amando, amor é
movimento – não o deixe estagnado.
Eu fico bastante tempo no banho, eu tomo
banho rápido, eu fico sem banho num sábado preguiçoso de inverno.
Eu lavo a
louça depois.
Melhor, eu nunca lavo.
Eu odeio lavar a louça.
Eu sou isso.
Aquilo que
ninguém vê.
Eu não sou um número, um ano de nascimento, mais uma foda ou alguém
que você tire proveito.
Eu sou inteira, eu me aprofundo, eu me jogo e ás vezes
bato a cabeça no raso. Mas me jogo de novo.
E mais uma vez.
Estou sempre me
jogando.
Eu sou culta, mas também sou puta – se é assim que você gosta de
classificar alguém livre.
Não sou santa.
Eu minto.
Sinto ciúmes.
Tenho raiva,
inveja até, mas eu tento entender porque sinto essas coisas, para resolver.
Eu
sei que viver ultrapassa qualquer entendimento, como dizia a Lis (pector, para
os mão íntimos).
Ah, eu erro.
Sempre tenho o que aprender e nunca saberei tudo,
mas quero saber tudo o que eu puder.
Eu sou você.
Ou aquela moça sentada no
banco, aquele rapaz que passou correndo, aquele senhor na rua que você nem está
vendo, aquela mãe que lamenta num pranto.
Eu sou aquele que muita gente jamais
conhecerá, que muita gente só supõe, afinal das contas é tão difícil que as
pessoas queiram entrar a fundo de nós.
Ninguém se interessa.
Minto – alguns
sim, são eles tudo isso também.
São poucos, são loucos, são depravados, mal
acabados.
Mas, assim como eu, são feitos desses atos insanos de amor.
Amor e
humanidade, não há nada mais humano do que ser.
E você, quem é?
E o que deseja
parecer?
PARE.
VÁ. SER.
post: Marcelo Ferla
texto:
CRISTINA SOUZA
Escrevo porque respiro.
Ou
seria ao contrário?
Vejo poesia em tudo, e tudo que eu faço coloco o coração no
meio - e um gole de café, é claro...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.