O SENTIMENTO DE CULPA
DIANTE DA TRISTEZA.
POR
SÍLVIA MARQUES
Este artigo objetiva
analisar o drama dos depressivos ou dos simplesmente melancólicos em um país
tropical e sorridente como o Brasil.
Falar sobre ansiedade,
angústia, depressão ou simplesmente uma profunda tristeza me parece mais
simples em países desenvolvidos economicamente e socialmente.
Falar de tristeza
subjetiva em um país onde milhões de pessoas morrem de fome ou perdem um ente querido
por conta da violência urbana parece um ato de futilidade.
Muitas vezes, quem padece
de uma tristeza existencial ou romântica sofre duplamente.
Sofre pelo problema,
pela dor em si.
E sofre também por se sentir culpado por algo aparentemente
menos grave ou importante.
Mas não existe dor pequena.
Dor é dor.
O tamanho da
dor depende da natureza e da percepção de cada um.
Depende da bagagem de vida
de cada um.
Depende dos traumas.
Depende do nível de cansaço.
Sim, sofrer
cansa. Cansa muito.
Sofrer repetidas vezes pelo mesmo tipo de drama, pelo mesmo
tipo de situação repetitiva pode ser uma verdadeira tortura para a alma.
Quando nos deparamos com
desafios e problemas novos, instintivamente nos enchemos de energia para
transpor a barreira.
Para dizer a nós mesmos que arrumaremos um caminho para
superar o drama.
Quando uma questão começa a se repetir de forma insistente,
começamos a perder a força e a vontade de resolvê-la.
Como já pressentimos de
que ela voltará a se repetir outras vezes, num ciclo a moda Prometeu
acorrentado, nos sentimos desanimados diante de algo que já esgotou todas as
suas possibilidades conosco.
É o mesmo que ver um filme insuportável e brutal
por 20, 30 vezes, enjoando, vomitando e chorando nas mesmas cenas.
Vivenciar o mesmo drama
inúmeras vezes não nos torna mais aptos para enfrentá-lo.
Muito pelo contrário.
Cria uma saturação, uma espécie de reação alérgica que se torna cada vez mais
forte e feroz a cada regresso.
Os velhos antibióticos já não funcionam mais e o
pavor da antecipação de novas situações similares nos tira a coragem para
superar.
Mas por que perdemos esta coragem? Sou leiga no tema.
Falo baseada
por experiências vividas e presenciadas.
Creio que perdemos a vontade de
superar porque sabemos que após a superação virá um período de calmaria.
E logo
em seguida, uma nova crise.
Ao não desejarmos a superação, não estamos buscando
o sofrimento.
Muito pelo contrário. Não queremos superar para não entrarmos em
um novo ciclo de desespero e frustração ainda mais intenso e perturbador do que
o anterior.
Falar de amor, vida a
dois, insatisfação na carreira, decepção com os amigos e parentes é algo muito
complicado em uma sociedade como a brasileira.
Sim, parecemos fúteis, as
pessoas mesmo sem querer nos julgam e nós mesmos nos julgamos.
O Brasil é terra hostil
para os deprimidos, para os românticos incorrigíveis, para os atormentados
existenciais.
Se acusam a neve e as baixas temperaturas de promotoras da
depressão em países frios, o sol quente, os dias claros e o povo sempre
sorridente mesmo com tantas mazelas sociais pode ser o mais nefasto cenário
para quem padece dos males da alma.
post: Marcelo Ferla
texto:
SÍLVIA MARQUES
Paulistana, escritora,
idealista em crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora universitária com
alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata na vida, filosofa
de botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas, amante das artes, da
boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias inusitadas.
Serei uma atleta no
dia em que levantamento de xícara de café se tornar modalidade esportiva.
Sim,
eu acredito realmente que um filme possa mudar a sua vida!
Autora do blog
Garota desbocada.
Lancei recentemente em versão e-book pela Cia do ebook o
romance O corpo nu..
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