Uma lente que conta
histórias.
Não é de hoje que a
paulista Paula Vasone, 29 anos, aprendeu a olhar o mundo através das lentes de
uma câmera. Desde os 16 anos, quando se apossou de uma velha máquina
fotográfica do avô e teve acesso a aulas de fotografia na St. Paul’s School,
escola britânica na capital paulista, ela descobriu que tinha nas mãos um
instrumento para contar histórias.
Em um bom momento
profissional, Paula acaba de realizar sua primeira exposição solo em Miami
(intitulada Shadow Pointe), participa de uma mostra coletiva em Nova York (a
Raw Beauty NYC) e estuda galerias brasileiras para trazer seu trabalho. Vale
ficar ligado.
Os enredos que Paula
desenvolve em séries como a recente Shadow Pointe são densos, inquietantes e
totalmente lindos.
Como aconteceu sua ligação
com a fotografia?
Sempre fui criativa e
gostei de contar histórias. Na adolescência, passei a ter aulas de fotografia e
descobri as possibilidade de contar histórias usando imagens. Primeiro, usava
uma máquina manual antiga do meu avô, depois comprei uma DSLR e tirava muitas
fotos em viagens. Fui me identificando cada vez mais com fotos e vídeos e com o
estilo de vida proporcionado por esses trabalhos. Sinto prazer em conhecer
pessoas, vivenciar situações diferentes e descobrir detalhes de objetos. Apesar
disso, não pensava em me tornar fotógrafa.
Por quê? E como aconteceu
a virada?
Eu me sentia intimidada. O
mundo da fotografia ainda é muito dominado por homens. Eu não conhecia nenhuma
mulher na área e não conseguia me imaginar nesse trabalho. Resolvi fazer
publicidade e propaganda, mas assim que me formei percebi que só me realizaria
trabalhando com imagem – foto, vídeo, filme. Depois de um curso rápido em São
Paulo, fui para a Miami Ad School, onde fiz o programa de portfólio.
Shadow Pointe é sua
primeira incursão na fotografia profissional?
Não. Já fotografei para
anúncios e para a Healthers Magazine Brazil. Mas Shadow Pointe é minha primeira
exposição solo. Estreou em Miami, agora no dia 13 de setembro, e pretendo
levá-la brevemente para o Brasil. Em paralelo, estou também na mostra coletiva
Raw Beauty NYC, em Nova York, que tem como foco mulheres cadeirantes e terá
renda revertida para a Christopher and Dana Reeve Foundation.
O que é Shadow Pointe?
É uma série formada por 15
fotos e um vídeo, nos quais exploro as confluências do balé e do boxe, por meio
da história da catarse de uma mulher que projeta sua vulnerabilidade e sua
força nas figuras de um bailarino e de um boxeador. A inspiração veio da
observação dos corpos desses dois profissionais. Ambos são tremendamente
definidos, têm movimentos leves e resultam de muito treino e disciplina, mas
buscam efeitos aparentemente antagônicos: a graciosidade no balé e a
agressividade no boxe. Em Shadow Pointe,
essas oposições se fundem e emergem em harmônica integridade. Para realizar a
série, trabalhei com dois bailarinos do Miami City Ballet e um boxeador
profissional.
Foto ou vídeo, o que você
prefere?
Depende. Com fotografia,
gosto de contar histórias de lugares, como a minha mais recente série Calle 8,
onde dou um mergulho no mundo da comunidade cubana de Miami. Já o vídeo,
reservo para expressar percepções e experiências próprias ou de pessoas
próximas, uso muitos close ups e busco criar um clima mais introspectivo.
Recentemente, como aparece em Shadow Pointe, também tenho trabalhado bastante
com fotos em movimento e com exposição dupla, que causam efeitos
desconcertantes.
Quem são seus fotógrafos
favoritos?
Há vários, mas o primeiro
da lista é o fotojornalista americano W. Eugene Smith, que descobri ainda na
adolescência. Os retratos dele, tirados em zonas de guerra, para mim são uma
definição da essência da fotografia: humanidade e empatia.
post: Marcelo Ferla
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