Daqui a pouco vou bater na casa
dos 40 anos de profissão, mais de 90% no jornalismo esportivo. Vi surgirem e
desaparecerem grandes jogadores, esforçados cabeças-de-bagre. Vi promessas se
tornarem astros ou sumirem do mapa, como cometas. Nesse tempo todo, dezenas de
nomes marcantes no esporte criaram asas e subiram ao céu.
Mas, admito, poucos foram os
momentos em que me emocionei tanto como ao ler a notícia da morte de Djalma
Santos. Foi no final da noite, ao repassar as novidades na internet antes de ir
para a televisão, que topei com a informação de que o craque não havia
resistido às complicações de pneumonia e foi reunir-se a velhos companheiros.
Não me envergonho de dizer: fui para o SportSCenter com os olhos cheios de
lágrimas.
Djalma Santos tinha 84 anos e
espírito de garoto. Alegria de menino que jamais perdeu. Aliás, teve a mesma
cara desde quando começou na Portuguesa, no fim dos anos 40, até fechar os
olhos nesta terça-feira em um hospital da cidade de onde morava. O tempo
parecia não ter feito estragos em Djalma, teve tanto respeito por ele que os
danos se limitaram àqueles inevitáveis pelo acúmulo de Natais vividos.
Djalma foi lateral-direito da
mais fina qualidade. Felizes os que puderam acompanhá-lo em ação, seja na Lusa,
no Palmeiras, no Atlético-PR e na seleção brasileira. Opa, e na seleção da
Fifa, numa época em que fazer parte do “time do mundo” era honraria pra lá de
especial. Pois Djalma brilhou, encantou, esbanjou categoria com qualquer
camisa. Jogou quatro Copas (54, 58, 62, 66), foi campeão em duas, acumulou
dezenas de honrarias e taças.
Locutores antigos o chamavam de
“Lorde”. Apelido adequado ao estilo discreto, eficiente, clássico, impecável.
Não se tem notícia de um pontapé desferido por Djalma em canelas adversárias.
Nem precisava: com precisão e bote certeiros, roubava a bola de atacantes com a
mesma naturalidade com que bebia água.
Djalma era irreverente fora de
campo. Dentro, era sóbrio, sólido, uma muralha. Pelo lado direito, treinadores,
companheiros e torcedores não tinham a menor preocupação. Se a equipe rival
atacasse por aquele lado, era tempo desperdiçado. Djalma não se abalava nunca,
não perdia a cabeça, não catimbava, não caía em artimanhas. Era lorde, era
gentleman, era especial. Era Djalma Santos.
Djalma saiu de fininho, discreto
como sempre foi, no futebol e na vida pessoal. Sem se queixar, sem amarguras.
Com sorriso que era uma de suas marcas registradas. Djalma foi como os justos e
puros. Era tão especial que São Pedro mandou para cá seu principal
representante, o papa Francisco, só para conferir que a passagem para o céu
fosse tranquila.
E foi. Djalma agora, mais do que nunca, é
eterno. Adeus, ídolo.
texto: Antero Greco
post: Marcelo Ferla
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