Capitão Nascimento, Tropa de Elite I e Tropa de Elite II. Este nome e estes títulos de filmes, foram os responsáveis por colocar o cinema nacional em um novo patamar no que se refere a forma de se mostrar a violência real brasileira que se torna objeto de filmes, sendo transferida para a tela do cinema, tudo com uma qualidade da obra, história e atores impecáveis, batendo, em sua segunda versão (Tropa de Elite II), todos os recordes de bilheteria.
A época , isso tudo se deu por um fator muito simples, do qual inclusive já escrevi aqui, foram todos, um fenômeno. Disse mais á época, disse que alguns criticaram o filme veemente, sob o fundamento de que a polícia ao estilo Nascimento não é a ideal. Outros, na contra-mão, atribuem ao ator Wagner Moura, a criação do primeiro anti-herói brasileiro em grande escala.
Mas esta conversa foi objeto de outro texto meu que está disponível aqui e engana-se quem pensa que estes dois filmes e Nascimento foram os primeiros. Na verdade são filhos, todos eles de uma longa história em nosso cinema no que diz respeito a realidade da violência urbana aqui no Brasil.
Mas onde tudo isto, esta forma de mostrar os problemas do Brasil e do mundo, de forma real e crua, começaram? Para mim, começou, incrivelmente, por uma obra não nacional, na obra Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída, (Alemanha - 1962), uma obra de origem estrangeira mas que atingiu o mundo todo como uma bomba nuclear de realidade e brutalidade.
Me recordo que na época de minha adolescência, no fim dos anos 80 e início dos anos 90, ler Christiane F. era mais ou menos como ler, por exemplo, Mein Kampf, de Hitler. Era o tipo de livro doidão, o livro que quando comentado na roda de amigos se dizia: "Cara, tu tem que cuidar para não pirar lendo esse livro, ele é muito doido e, se não cuidar ele te convence, faz tua cabeça".
Era o tipo de livro, que segundo as lendas urbanas da época a seu respeito, se lido por alguns mais fracos e menos preparados, poderia fazer a cabeça do leitor mesmo, o tornando um viciado em heroína e prostituído ou um fanático nazista, dependendo da obra.
Realmente, tratam-se de duas leituras pesadas,mas não menos interessantes, e que exigem sim, um certo preparo e curiosidade aguçadas, ao ponto de manter o interesse e a cabeça do leitor sem impressões amedrontadoras que possam causar efeitos colaterais.

No Brasil tivemos uma rica variedade de filmes que fizeram, e muito bem, o seu papel nesse tipo de obra. O primeiro que me vem a cabeça é Pixote, a lei do mais fraco, (1984), a primeira grande obra de Hector Babenco.
Neste filme, o diretor construiu um dos mais cruéis retratos da realidade nas ruas de São Paulo, onde crianças têm sua inocência retirada ao entrarem em contato com um mundo de crimes, prostituição e violência, ou seja, o mesmo enfoque de Christine F., mas aqui em nosso país. Estavam abertas as portas para os filmes que retratam a realidade brutal da violência mais cruel, crua e devastadora de nossa sociedade.
Continua...
Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.