O Elegante.
Não vi Paulo Roberto
Falcão jogar, o máximo que consegui chegar perto dele foi saber que estudou
junto com meu tio materno e que eram amigos e moravam perto de Canoas, eis que
ambos moravam em um bairro chamado Niterói, existente até hoje.
Se hoje me perguntassem o
que acho do que jogava Falcão à época que este desfilava pelos campos,
responderia que ele era um tipo de Zidane ou Zidane seria um tipo de Falcão, acho assim mais apropriado.
Zidane, este sim vi jogar, só consigo pensar
na leveza e elegância em tal grau quando recordo de Zidane conduzindo a bola,
sendo que a comparação se dá em decorrência do perfil de jogador que se cria
quando se pensa nestes dois mitos do futebol.
Falcão era meio campista que
jogava de cabeça erguida, a exemplo de cães de raça pura a se exibir em desfile, peito
estufado, tratava a bola como a mãe que afaga o filho, sem maltrato, sem
violência, puro amor, com um domínio de bola impecável, daquele tipo que aos
olhos de quem via Falcão jogar ter a impressão de que este tinha cola
nas chuteiras, driblava como quem toma água, chutava com ambas as pernas e com
precisão de um franco atirador ao abater seu inimigo e tinha um passe como se desse a
bola com as mãos delicadas de um cirurgião aos pés dos goleadores.
No Internacional de Porto
Alegre, deu três títulos nacionais ao clube, sendo um deles o único até hoje
vencido por um time de forma invicta. Logo depois, encantando a todos foi para
o exterior e abriu a porta dos jogadores com salários exorbitantes, sendo
vendido e indo jogar ganhando muito dinheiro à época. Aqui faço uma observação
de suma importância.
Ao contrário de hoje, Falcão fazia jus ao que passou a
ganhar assinando contrato com a Roma da Itália, onde obviamente recebeu o
apelido de Rei, vestiu todas as camisas dos clubes e selecionados dos quais jogou como se fossem mantos sagrados, pois
naquele momento parecia ser a única roupa do corpo que possuía, tinha um respeito e disciplina inabaláveis, Falcão era jogador de futebol de
verdade.
Não conheço jogador mais
elegante dentro e fora de campo do que Falcão. Se existe David Beckham e
Cristiano Ronaldo com suas grifes e narcisismo com sua imagem isso se dá por que um
dia Falcão, elegantemente, usava e usa, seus ternos italianos, com cortes retos,
milimetricamente moldados a seu corpo de esportista que conserva até hoje.
Voltando ao futebol, ao jogador Falcão, não se pode parar por aqui. Falcão era mais completo que isto, marcando, não tirava o pé em disputas de bola,
não era o tipo de meio campista que não marcava, não existia cercar o
adversário para Falcão, passava este a cão de raça desfilando em concurso para
cão de guarda da defesa de seu time, marcava e o fazia de forma dura.
Fico
pensando cá com meus botões, como pode um jogador atuar de forma tão fina, leve,
sutil, requintada e polida no trato com a bola no pé e ao mesmo tempo lutar por
ela como se fosse à última coisa a se proteger no mundo? Esse jogador existiu e
seu nome era Falcão.
Digo mais, aliás, só há
coisas boas a se falar de Falcão e seu futebol.
Se hoje tivéssemos um
Falcão no meio de campo da seleção, esta já estaria pronta ou no mínimo, seria
ele e mais dez. Ganso, não, Oscar, não, Paulinho, talvez, Lucas Leiva, não,
Fernando, não, Luiz Gustavo, que nada.
Seria preciso um Batista e um Mário Sérgio
ou na seleção o lendário quadrado Falcão, Toninho Cerezo, Zico e Sócrates,
simples assim.
Para se jogar ao lado de
Falcão, era necessário se ter raciocínio lúcido e rápido, visão do além, coisa
de outro mundo, fora do alcance dos jogadores e marcadores normais, visões e
execução da bola indo além de onde os adversários imaginavam que ela iria, era
necessário ver o que ninguém via.
Passes sem olhar como
Ronaldinho Gaúcho e Ganso faziam? Bobagem. Falcão tornava seu passe inatingível
pelo adversário com uma execução simples a ele e a quem via seu jogo, tudo parecia fácil, pela
eficiência e excelência da qualidade que ele tinha em ver o futuro, ver além da
frente e passar a bola sempre onde não se esperava, sem firulas, simples,
inteligente e fatal, um gênio humilde jogando.
Passavam-lhe um tijolo e
ele o transformava em escultura, assim era Falcão em campo, pura realeza, pura finesse.
Nostalgia de minha parte?
Não, até por que no que mais se fala hoje em dia é a necessidade de meios
campistas que precisam chegar à frente para, de surpresa, fazer gols. Falcão
era esse meio campista que ia a frente, jogava e fazia jogar, tornava a máquina
produtiva e convertia o resultado disto em vitórias, fazendo gols, muitos gols, mas já não
era mais surpresa, sempre estava lá, pronto, e mesmo assim, gol.
Falcão às vezes dava a
impressão de ser um camisa 10 que usava a 5 ou um 5 que jogava como 9, não sei ao
certo, tamanha a qualidade que tinha de chegar a frente para finalizar a gol e fazia gols dignos de obras de arte italianas, coisa de museu.
Poderia não estar falando
nada disto, já que vivemos em um país em que seres de outro planeta como
Falcão, e o futebol nos traz muitos, a começar pelo maior deles, Pelé, não são
devidamente tratados como deveriam, caem no esquecimento, somos um país também no futebol. Imaginem se não fossemos cinco vezes campeões
do mundo.
Mas acho que falo tudo
isso de Falcão, pois sou um aficionado pelo futebol bem jogado, não me apetecem
atacantes, me apetecem os meio campistas, defensores, os armadores, pensadores
do time, independentemente de o maior ídolo de meu time ter sido, a sua época,
um ponta nato, sim, falo de Renato Portaluppi, atual técnico de minha maior
paixão, o Grêmio. Vejam vocês, escrevo tudo isto a respeito do maior ídolo
colorado, arquirrival e eis que sou gremista.
Coisas do futebol, coisas
de Gênios, pois só eles podem fazer com que sejam respeitados e adorados mesmo
estando com uma espada em punho pronta para golpeá-lo com um único toque fatal,
um gol.
Parabéns Falcão pelos seus
60 anos de idade e que continue sendo o ser humano que és respeitador e respeitado
como rei que és.
Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.