Austin é uma das cidades
mais hypes dos EUA: o município é um oásis de modernidade dentro do deserto de
conservadorismo que é o estado do Texas – é considerada a cidade mais verde do
país, sede de várias empresas de tecnologia e, como se não bastasse, detém o
título de capital mundial da música ao vivo. Bangalore é uma das cidades mais
hypes da Índia: eleita pela Forbes como um dos municípios do mundo que mais
irão crescer nessa década, ela é o pólo tecnológico de seu país. Empresários
querem criar, em Honduras, uma cidade que combine a vitalidade e a energia
desses dois exemplos… até aí nada de novo, não fosse por um par de detalhes: a
cidade será construída do zero e governada pela iniciativa privada.
A iniciativa é arrojada. O
governo trata o programa como a possibilidade de “transformar o país em uma
máquina de dinheiro” e acelerar o progresso rumo ao padrão de vida do
primeiro-mundo. A ideia é criar algo como ilhas de independência dentro do
país, as REDs (Regiones Especiales de Desarrollo, ou Regiões Especiais de
Desenvolvimento) construídas e gerenciadas por empresas estrangeiras – até as
leis seriam próprias. O objetivo é dar uma injeção de investimento que traria
na esteira outros benefícios, como gente jovem e criativa disposta a trabalhar
no país, dando uma aura cool pra cidade (exatamente como a das duas cidades
citadas no primeiro parágrafo). Essa atmosfera de inovação produziria um ciclo
virtuoso que, em tese, só traria benefícios para Honduras. Aquela velha
história: dinheiro chama dinheiro.
Michael Strong, um dos
maiores entusiastas do projeto (e, veja só, CEO de uma multinacional), diz que
programadores e designers – dois empregos imprescindíveis para qualquer aspirante
a capital tecnológica, não vão trabalhar em um local que lhe ofereça apenas o
salário. Eles fazem questão de restaurantes, bares e casas de show cheias de
gente interessante, que tenham compartilhem do pensamento prafrentex deles.
A iniciativa é polêmica. O
fato de empresas ganharem o direito de criar uma cidade do zero implica na
necessidade de um sistema Executivo, Judiciário e Legislativo, também surgidos
do nada. Não é difícil prever a quais interesses as leis dessas cidades modelos
atenderão. Um dos municípios será construído no mesmo território em que vive
uma comunidade indígena. A dúvida é: será que os índios, que chegaram na ilha
um pouco antes da invenção do primeiro Mac, também estão esfregando as mãos,
ansiosos para conviverem com estrangeiros tatuados, com camisas de xadrez e
óculos modernos?
No dia 6 de setembro foi
assinado um memorando que permite a criação de 3 dessas cidades. A promessa é
que a primeira delas crie 5 mil postos de trabalho logo de cara, com a previsão
de mais 20 mil em um futuro próximo.
Marcelo Ferla
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