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domingo, 30 de setembro de 2012

Sabia dessa.




Austin é uma das cidades mais hypes dos EUA: o município é um oásis de modernidade dentro do deserto de conservadorismo que é o estado do Texas – é considerada a cidade mais verde do país, sede de várias empresas de tecnologia e, como se não bastasse, detém o título de capital mundial da música ao vivo. Bangalore é uma das cidades mais hypes da Índia: eleita pela Forbes como um dos municípios do mundo que mais irão crescer nessa década, ela é o pólo tecnológico de seu país. Empresários querem criar, em Honduras, uma cidade que combine a vitalidade e a energia desses dois exemplos… até aí nada de novo, não fosse por um par de detalhes: a cidade será construída do zero e governada pela iniciativa privada.

A iniciativa é arrojada. O governo trata o programa como a possibilidade de “transformar o país em uma máquina de dinheiro” e acelerar o progresso rumo ao padrão de vida do primeiro-mundo. A ideia é criar algo como ilhas de independência dentro do país, as REDs (Regiones Especiales de Desarrollo, ou Regiões Especiais de Desenvolvimento) construídas e gerenciadas por empresas estrangeiras – até as leis seriam próprias. O objetivo é dar uma injeção de investimento que traria na esteira outros benefícios, como gente jovem e criativa disposta a trabalhar no país, dando uma aura cool pra cidade (exatamente como a das duas cidades citadas no primeiro parágrafo). Essa atmosfera de inovação produziria um ciclo virtuoso que, em tese, só traria benefícios para Honduras. Aquela velha história: dinheiro chama dinheiro.

Michael Strong, um dos maiores entusiastas do projeto (e, veja só, CEO de uma multinacional), diz que programadores e designers – dois empregos imprescindíveis para qualquer aspirante a capital tecnológica, não vão trabalhar em um local que lhe ofereça apenas o salário. Eles fazem questão de restaurantes, bares e casas de show cheias de gente interessante, que tenham compartilhem do pensamento prafrentex deles.

A iniciativa é polêmica. O fato de empresas ganharem o direito de criar uma cidade do zero implica na necessidade de um sistema Executivo, Judiciário e Legislativo, também surgidos do nada. Não é difícil prever a quais interesses as leis dessas cidades modelos atenderão. Um dos municípios será construído no mesmo território em que vive uma comunidade indígena. A dúvida é: será que os índios, que chegaram na ilha um pouco antes da invenção do primeiro Mac, também estão esfregando as mãos, ansiosos para conviverem com estrangeiros tatuados, com camisas de xadrez e óculos modernos?

No dia 6 de setembro foi assinado um memorando que permite a criação de 3 dessas cidades. A promessa é que a primeira delas crie 5 mil postos de trabalho logo de cara, com a previsão de mais 20 mil em um futuro próximo.



Marcelo Ferla



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