O que é ser homem? Um
documentário para repensar nossa masculinidade.
Rafael C. Oliveira
“Ele veste uma máscara e
seu rosto se molda a ela” George Orwell
O que é ser homem na nossa
sociedade?
Como essa concepção de masculinidade pode influenciar as gerações
que nela vivem e as que virão?
É essa a questão principal do documentário The
mask you live in.
Disponível no Netflix, ele vem em um momento apropriado.
Para
combater o machismo, as mulheres vêm se engajando em movimentos feministas que
buscam a igualdade e por isso lutam contra uma legislação que não garante
proteção e pensamentos retrógrados que atuam de forma repressiva principalmente
sobre os corpos das mulheres.
E quanto aos homens?
Como combater aquele
machismo que está dentro de nós?
Minha memória mais antiga
é a do meu pai me levando ao porão da minha mãe, levantando as mãos e me
ensinando a dar golpes e socos.
Foi lá que ele me disse as palavras: “Seja
homem.
Pare de chorar, não se emocione.
Se vai ser homem no mundo, é bom
aprender a dominar e a controlar as pessoas e as situações”.
Isso me deu uma
vergonha tremenda.
Saí de lá com lágrimas nos olhos, achando que eu não era
homem o bastante.
O trecho acima é a
primeira fala presente no documentário.
Quem narra é o treinador de futebol
americano Joe Ehrmann.
Ele acrescenta que a frase “seja homem” é uma das mais
destruidoras de nossa cultura.
Pensemos em uma criança ouvindo dos pais, dos
colegas de escola, dos professores, do diretor, dos filmes, que ele deve ser
homem.
Que ele não deve chorar.
Que ele não pode ser “mulherzinha”.
Logo aí já
identificamos um grande problema: ensinamos e/ou reproduzimos que ser “mulher”
é algo ruim.
E associamos tudo que um homem não deve fazer (chorar, não
agredir, etc) com o que mulheres fazem.
Essa é a gênese da fabricação de
sujeitos machistas.
Uma abordagem importante
que The mask you live in faz é com relação às três mentiras.
Mentiras ditas
pela mídia, pela família, escola, na rua, amigos, etc.
São elas:
Ser atleta – um homem para
atingir o sucesso, a masculinidade, deve praticar um esporte, se tornar um
atleta.
Na cultura americana, o futebol americano é o exemplo máximo desse
pensamento.
Em termos locais, o futebol nas escolas representa bem essa máxima.
O bom jogador de futebol nas aulas de educação física é aquele que terá mais
amigos e consequentemente atrairá mais garotas.
Pelo menos é o que se acredita.
Um garoto não pode fazer teatro, pois isso seria coisa de “mulherzinha” ou de
“viado”.
Ligar masculinidade ao
sucesso econômico – Steve Jobs, Bill Gates, Mark Zuckerberg, grandes atletas
como Neymar, Cristiano Ronaldo, empresários, entre outros.
Todas essas figuras
são milionárias, bem vestidas, ricas, sempre com muitas pessoas ao seu redor.
A
mídia reproduz essa ideia e o Lobo de Wall Street é o exemplo de como exercer
sua masculinidade.
Conquistas sexuais – Ter
várias mulheres, ser o pegador, o garanhão, o jack (aprendi essa com meus
ex-alunos).
Ser homem, segundo a terceira mentira, é se envolver com várias
mulheres e mostrar isso para todos.
Há passagens interessantes
e de universos diferentes, mas que compartilham do mesmo problema que é o
machismo impregnado nos homens.
Há o depoimento de presidiários que relatam
casos de bullying que envolviam sexismo e homofobia, causando revolta nas
vítimas, contribuindo na construção da agressividade e negação de tudo aquilo
que fosse considerado feminino.
Em outro momento, crianças contam das coisas
que gostam de fazer, mas não fazem porque seus colegas não consideram aquilo
coisa de meninos.
Às vezes a fala não vem dos colegas, mas da família.
Um estudo psicológico também
é exibido no filme e contribui também para repensarmos a questão da
masculinidade.
Fala-se da hipermasculinidade e da hiperfeminilidade.
O que
seria isso?
Ora, quando o casal descobre o sexo do bebê, a decisão parece ser:
se é menino, vamos comprar carrinhos, as roupas e o berço deve ser azul.
E se
for menina vamos comprar roupa rosa, o berço será rosa, ela vai brincar de
bonecas, comidinha, etc.
Desde o nascimento cria-se um abismo enorme entre o
masculino e o feminino, não há outras possibilidades aí.
São dois opostos.
Um
chora, o outro não. Um é agressivo, o outro não.
Um ajuda nos afazeres da casa,
o outro não.
Todos esses elementos influenciam nessa hipermasculinidade e
hiperfeminilidade.
Como jovem você aprende
que o homem deve sempre ir à caça.
Um homem deve sempre ser agressivo.
Os estereótipos sociais
presentes na tv, na música e nos games criam indivíduos capazes de agredirem
mulheres.
Dados expostos mostram que essa cultura influencia fortemente o
aumento de mitos como “as mulheres querem ser estupradas”.
The mask you live in é um
documentário que todo homem deveria ver para que possamos repensar o que é ser
homem, o que é essa tal masculinidade que nos é colocada.
E é a partir daí que
podemos repensar certos vícios que levamos para nossos filhos, alunos, amigos e
familiares.
post: Marcelo Ferla
fonte: http://literatortura.com/2016
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