Ao fim de oito anos de
Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos, uma pergunta sobre seu governo
começa a ganhar força: como ele entrará na história?
A vitória de Donald Trump
nas eleições deste mês coloca o primeiro presidente americano negro da história
na posição incômoda de passar o cargo a um sucessor que ameaça acabar com seu
legado.
Mas o próprio balanço dos
dois mandatos de Obama possui zonas cinzentas em temas como economia, direitos
humanos, imigração e saúde, inclusive contrastando com promessas feitas por ele
antes de assumir o cargo, em janeiro de 2009.
Abaixo, conheça cifras que
dão pistas sobre a marca que Obama deixará em seu país e no mundo.
4,9%
Foi a taxa de desemprego
nos EUA em outubro, de acordo com o Escritório de Estatísticas de Trabalho,
órgão do governo americano.
O número é menor do que a
média mensal de 5,5% que vigora desde 1948 no país.
A taxa também ficou 2,9
pontos percentuais abaixo do nível de janeiro de 2009, quando Obama assumiu, e
foi 5,1 pontos menor do que o grau máximo de desemprego em seu governo,
alcançado há sete anos.
O número de outubro foi
registrado após 73 meses de crescimento contínuo no mercado de trabalho e
depois de uma recessão feroz que Obama herdou de George W. Bush.
"Estamos saindo de um
poço profundo e, vendo os próprios números, empregos foram criados", disse
Sam Bullard, principal economista do banco de investimentos Wells Fargo
Securities em Charlotte, na Carolina do Norte.
"Dito isso, o calibre
dos trabalhos agregados não têm o impacto de períodos expansionistas
anteriores, já que muitas das vagas criadas são em serviços e de meio
período", disse Bullard à BBC.
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Durante
a administração Obama, quase 11 milhões de empregos foram criados nos EUA.
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10,9 milhões
É o número de postos de
trabalho criados nos EUA desde que Obama assumiu o cargo, de acordo com o
Escritório de Estatísticas de Trabalho do governo americano.
Antes da eleição de
novembro, Obama apresentou o dado como uma conquista de sua administração.
Mas o presidente aumentou
a cifra, dizendo que 15 milhões de empregos haviam sido criados.
Ele fez isso
ao comparar o patamar atual com o ponto mais baixo em relação a trabalho de sua
gestão, em fevereiro de 2010, em vez de relacioná-lo com os números de janeiro
de 2009, quando os EUA tinham 134 milhões de empregos.
Em outubro, o número
cresceu para 144,9 milhões, segundo um levantamento parcial.
43,1 milhões
É o número de pessoas
pobres que havia nos EUA até o ano passado, das quais 14 milhões eram menores
de idade, segundo informou o órgão do censo americano em setembro.
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Em
2015, a taxa de desemprego foi ligeiramente superior a de 2008.
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O valor total representa
uma melhoria ante 2014, quando havia 3,5 milhões de pobres a mais no país.
No
entanto, é pior do que o de 2008, quando a quantidade de pessoas nessa situação
era 3,3 milhões menor.
No ano anterior ao início
do governo Obama, 13,2% da população dos EUA viviam abaixo da linha da pobreza.
Em 2015, essa taxa foi ligeiramente maior: 13,5%.
16,5 milhões
É quanto diminuiu a
quantidade de pessoas sem seguro de saúde nos Estados Unidos entre 2008 e o
primeiro trimestre deste ano, de acordo com pesquisas do Centro Nacional para
Estatísticas de Saúde.
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O
"Obamacare", que pretendia ampliar o atendimento de saúde, recebeu
críticas dos conservadores.
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Essa mudança é largamente
atribuída ao programa de saúde conhecido como Obamacare, que impulsionou a
popularidade do presidente e entrou em vigor em 2013, em meio a críticas de
conservadores.
Apesar do aumento da
cobertura, estima-se que 27,3 milhões de pessoas nos EUA ainda não tinham
seguro de saúde no início deste ano, o que representa 8,6% da população.
2,5 milhões
É o número de imigrantes
deportados pelo governo Obama entre 2009 e 2015 com base em ordens de remoção,
de acordo com o Departamento de Segurança Nacional.
Dados oficiais mostram que
nenhum outro presidente na história dos Estados Unidos expulsou tanta gente
como Obama, que foi chamado de "Deportador chefe" por líderes da
comunidade latina.
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Obama
reduziu o número de imigrantes indocumentados entre 5% e 10%.
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A estratégia, no início de
seu governo, era se concentrar em imigrantes com antecedentes criminais, disse
Randy Capps, um perito do Instituto de Política de Migração, um centro de
análise independente em Washington.
"Mas, no meio de sua
administração, ele começou a estreitar essas prioridades", disse Capps à
BBC.
"E depois de 2012 esses números começaram a cair novamente."
Calcula-se em entre 5% a
10% a redução no número de imigrantes indocumentados durante o governo Obama;
hoje, são cerca de 11 milhões no país.
Entre 64 e 116
É o número de civis mortos
por ataques aéreos autorizados pelo governo Obama fora de zonas de guerra entre
2009 e 2015, de acordo com dados oficiais divulgados em julho.
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As
ações militares em países que não estão em guerra com os Estados Unidos tem
sido criticadas por organizações de defesa dos direitos humanos.
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No entanto, analistas e
grupos independentes estimam que o número de mortos - boa parte deles vítima de
ataques de aviões não tripulados ou drones - é muito maior, aproximando-se de
500.
Os números oficiais
indicam também que entre 2.372 e 2.581 "combatentes" foram mortos
pelos 473 ataques realizados pela CIA e pelos militares americanos em países
onde os Estados Unidos não estão em guerra, como Paquistão e Somália.
Obama aumentou
consideravelmente o uso secreto de drones em relação à administração Bush,
inquietando organizações defensoras dos direitos humanos.
"Estamos preocupados
não só com os drones, (que) não são ilegais por si. A questão é quais são as
regras para seu uso", disse Hina Shamsi, diretora do programa de segurança
nacional da União Americana das Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês).
Em entrevista à BBC,
Shamsi argumenta que "é difícil dar crédito" a números de mortes
geridos pelo governo Obama devido à falta de detalhes com que foram divulgados.
60
É a quantidade de detidos
que permanecem na prisão militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba.
Isto acontece apesar de
Obama ter anunciado que, no primeiro ano de seu governo, iria fechar a
controversa prisão - ela chegou a ter cerca de 780 detentos no governo Bush,
por suspeitas de extremismo islâmico - e de diferentes agências terem
recomendado a transferência de pelo menos 20 dos prisioneiros restantes.
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Uma
das promessas eleitorais de Barack Obama foi o fechamento da prisão
norte-americana localizada na Baía de Guantánamo, em Cuba.
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O presidente conseguiu
reduzir em três quartos o número de prisioneiros, mas encontrou obstáculos
dentro dos Estados Unidos para alcançar o fechamento de Guantánamo e opções
muito limitadas de países dispostos a receber os presos.
Hina Shamsi, da ACLU,
acredita que Obama "ainda tem tempo" para mudar a situação, mas
ressalta que é preocupante que prisioneiros permaneçam nessa situação
questionável.
"Preocupa que a
administração Obama continue declarando sua autoridade para deter pessoas
indefinidamente, em situações que não acreditamos que sejam consistentes com o
Direito nacional e internacional", adverte.
28%
É quanto cresceram as
exportações de bens e serviços dos EUA desde que Obama assumiu o cargo até o
segundo trimestre deste ano, de acordo com o Escritório Nacional de Análise
Econômica dos Estados Unidos.
Essa é uma recuperação
significativa, que reduziu o déficit comercial quase na mesma proporção.
Mas o que foi alcançado
está longe de promessa de Obama de dobrar as exportações durante seu governo.
19,9 trilhões
É o valor em dólares da
dívida pública dos Estados Unidos, que aumentou 87% sob a administração Obama,
segundo dados oficiais.
Isso significa que a
dívida pública dos EUA supera 100% do PIB, com a população e as instituições
domésticos como principais credores e China como o maior credor estrangeiro.
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A
dívida pública tem sido uma questão central nos EUA desde antes de Barack Obama
começar seu governo.
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Por sua vez, o deficit
orçamentário dos EUA chegou a US$ 587 bilhões ou 3,2% do PIB do ano fiscal de
2016 encerrado no final de setembro.
Isso acabou com a
tendência de baixa do deficit registrada durante o governo Obama, que chegou a
reduzir em três quartos o nível herdado da administração Bush.
"A dívida e o deficit
têm sido um problema por um tempo, não só durante a administração Obama",
disse Sam Bullard, da Wells Fargo Securities.
"E vai continuar a
ser uma prioridade", diz ele, "uma vez que não estamos crescendo tão
fortemente como fazíamos no passado."
post: Marcelo Ferla
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