NÓS ROBÔS?
POR
VANELLI DORATIOTO
Em nosso dia-a-dia muitas
vezes nos perdemos em meio a um mar de rostos sem expressão...
Nós robôs?
Vamos ao mercado, ao
banco, aos Correios. Pegamos filas, olhamos para dentro de nós.
Nas mãos as
compras para mais tarde, as contas de hoje, as postagens dos acertos de ontem.
O tempo não pára.
Quantas filas, quantas
senhas de espera.
Transmutamo-nos em números, dói ser só número, sem nenhuma
vontade a não ser a da espera.
Algumas vezes alguém puxa
papo, aquele genérico sobre o tempo.
Ninguém fala dos bons segredos descobertos
nas andanças da vida.
As mesmas frases, as mesmas piadas que perderam a graça
na previsibilidade.
Sorrimos, um sorriso confortador, contudo não mostramos os
dentes.
Nessas lacunas existe o impulso
de querer sublimar-se.
Queremos anular o presente monótono.
Desejamos o passado
do que devia ter sido ou o futuro que urgente grita aos nossos ouvidos.
No
entanto, podemos firmes fincar nossos pés no chão da realidade e observar.
Esqueçamos dos nossos pequenos passatempos virtuais para embarcarmos no
fantástico mundo da realidade robô.
Olhemos os rostos ao lado
e atrás.
Se antes os tivéssemos olhado teríamos notado que muitos nos são
familiares.
Que os vimos em outros dias, em outros lugares.
Despertos, notaremos que
várias pessoas, assim como nós há bem pouco, não estão realmente ali.
Cumprem
alguma tarefa imposta pela razão dos tempos modernos e trancam o sentimento em
algum lugar inacessível.
Suas feições são
caricaturais, pesarosas ou inexpressivas, contudo sem o real viço que apenas a
vida humana repleta de sentimentos pode ter.
Todos estão seguindo por
caminhos traçados, dentro de linhas vermelhas demarcadas. Cada qual com sua
senha parece não se preocupar muito com o entorno.
Até mesmo as edificações que
nos recebem já não se importam conosco.
Elas nos dizem sussurrantes através de
paredes mal pintadas que não estão nem ai.
O painel chama nosso
número.
Olhamos o papel amassado para ter certeza de que nossa espera acabou.
Damos passos à frente passando por tantos números (ou pessoas?) quanto nossas
vistas podem tocar.
Pedimos licença e em resposta apenas o silêncio nos embala.
A atendente carrega o nome
em um crachá, reminiscências de sua humanidade, ela parece efetuar movimentos
repetitivos e sincronizados.
Ela não olha em nossos rostos.
Ela executa sua
função e termina de nos atender com um sorriso sem dentes.
Ignora nosso sincero
agradecimento pelo serviço executado e chama o próximo.
Retornamos afoitos para
nossa vida.
Tentamos esquecer que quiseram que fôssemos apenas número.
Voltamos
para nossos trabalhos, sentamos apressados na mesa que nos delegaram.
Lutamos para nos manter
despertos, contudo tudo ali parece nos anestesiar.
Uma opinião sincera não é
bem-vinda.
Qualquer ímpeto criativo é decapitado antes mesmo de criar asas.
Somos obrigados a encenar a peça robótica das obrigações diárias.
Adormecemos.
O dia passa devagar.
Muitas questões têm que ser resolvidas.
Parece que somos máquinas de resolver
problemas... para os outros.
Oh queridos, quanto tempo
ainda desperdiçaremos até darmos basta a esse ciclo de obrigações?
Olhemos para dentro de nós
e, despretensiosos, livremo-nos dos resquícios dessa assombrosa carapaça
robótica.
Resgatemos em nós o amor,
essa centelha mágica que nos torna sublimes e tão belamente empáticos.
O amor despe nossas roupas, beija nossos pés, acaricia cada canto de nossa pele.
Afaga nosso corpo, ouve nossas boas histórias.
Ele não nos cobra, ele não quer que andemos em linha reta.
Ele quer que sejamos nós mesmos.
O amor nos embala em
dança, aceita nossas limitações e nos auxilia para que nunca esqueçamos quão
humanos somos.
Apenas ele, em nós e nos que nos cercam, pode manter acesa a
centelha mágica que nos torna únicos.
O amor olha fundo em
nossos olhos e vislumbra nossos mais profundos anseios.
O amor enxuga delicado
a lágrima que se cristalizou em nossa face durante o dia de obrigações.
Transbordemos amor.
Que
ele não seja apenas um veio de água em nós, mas sim mar profundo e sem fim.
Só o amor é capaz de ver
beleza onde ninguém mais vê, só ele percebe que uma lágrima nasce para nos
lembrar que máquinas não choram.
post: Marcelo Ferla
Texto:
Vanelli Doratioto -Alcova Moderna.
VANELLI DORATIOTO
Vanelli Doratioto é
escritora e autora desse e de outros textos que podem ser lidos em sua página
no Facebook.
Ela espera todos vocês por lá
(www.facebook.com/vanellidoratioto).
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