STATUS: EM UM
RELACIONAMENTO SÉRIO.
POR
MARCELO WOLF
Quem de fato sonha com uma
relação afetiva “séria”?
Muitas vezes deixamos de lado o prazer e a
espontaneidade no amor e optamos pela rigidez do sério e estável.
Começo de namoro, muita
felicidade e euforia, e, mais que depressa, corre-se para as redes sociais
atualizar seu status para “em um relacionamento sério”.
Razões para isso são as
mais diversas: demarcação de território, exibicionismo, sinalização de "fora
de mercado"...
Mas convenhamos: que a vida nos livre dos relacionamentos
sérios!
Pois de séria basta a vida com sua carga massacrante de
responsabilidades, contas, horários e compromissos.
Todo mundo quer se
relacionar pra ter uma companhia agradável, partilhar boas experiências,
dividir o peso dos momentos difíceis, enfim, pra ser mais feliz.
Através dos
relacionamentos buscamos prazer e satisfação a curto prazo, e a vida nos dá
evolução e crescimento interior ao longo do tempo.
E não há coisa mais gostosa
do que estar com alguém de forma leve, prazerosa, divertida.
Ouvir as histórias
e causos do outro, rir e aprender com ele, poder desabafar e sentir a alma
aquecida por ter alguém legal conosco.
Relação afetiva deveria ser alento, não
tormento; um oásis no meio das agruras da vida.
Mas, infelizmente, o ser
humano tem uma grande capacidade de transformar algo que deveria ser prazeroso
em enfadonho.
Troca a leveza da livre opção pelo peso do compromisso engessado.
Prefere os pássaros engaiolados às borboletas soltas e que vêm livremente
pousar no seu jardim.
Um bom exemplo disso é o casamento, cujos votos eternos e
indissolúveis do "prometo ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença" roubam a cena do "quero estar com você porque te amo e é meu
sincero desejo neste momento de minha vida".
Talvez isso aconteça pra se
ter a ilusão das garantias frente ao tanto de insegurança, de medo da perda e
do abandono que qualquer relação traz em si.
Ou, quem sabe, por uma baixa
autoestima e preferir o certo morninho ao duvidoso mais quente e arriscado.
E, em nome desta ilusão,
acabamos optando pelo sério.
É bem verdade que, recorrendo ao dicionário, vemos
a definição deste termo como “importante”, “correto”, “verdadeiro”; mas também
“austero”, “circunspecto”, “sisudo”, “regrado”, adjetivos pesados demais para
uma relação a dois.
Muitas vezes substituímos
essa designação por "relacionamento estável"; no fundo estamos
trocando seis por meia dúzia.
Voltando ao dicionário, "estável" tem
por sinônimos “firme”, “seguro”, “sólido”, e também “constante”, “sem
variações”, “permanente”.
Um relacionamento assim faz qualquer um, em dois
tempos, se enjoar dele como se enjoa de arroz, feijão e bife nas três refeições
por anos a fio.
Nossa vida é dinâmica, mudamos o tempo todo, e as relações
humanas precisam ter espaço para essa movimentação, para evoluírem e mudarem de
rumo. Tudo que fica parado apodrece, definha.
E o mais importante é que o casal
e a relação estejam caminhando na mesma direção e sentido.
Na cultura japonesa há uma
crença conhecida como “Kotodama”, cuja tradução literal seria “espírito da palavra”,
na qual toda palavra pronunciada produz uma vibração que pode afetar o
ambiente, pessoas ou objetos.
Pegando esse gancho, até que ponto esses termos
não são uma radiografia inconsciente dos padrões de comportamento do ser humano
em sua forma de se relacionar com os outros?
Um status interesse seria
"em um relacionamento gratificante" ou "satisfatório";
indica que a pessoa está satisfeita com seu parceiro e sua relação, e,
implicitamente, que não procura mais alguém pra se relacionar.
Talvez nem pra
se divertir e passar seu tempo.
A menos que você seja masoquista ou um espírito
de porco que sente prazer única e exclusivamente em destruir a felicidade
alheia, isso funciona como a plaquinha “Não perturbe" no lado de fora da
porta de um quarto.
Pois ela está fechada e os ocupantes do aposento não querem
ser incomodados na esfera mais íntima de suas vidas.
Este texto pode estar
sendo "cricri" demais com termos usados corriqueiramente pra definir
um status de relacionamento, mas não o leiamos de uma forma séria.
Entre suas
linhas, de palavras talvez duras e ideias implicantes, está embutida a mensagem
de que nossas relações precisam ser leves e prazerosas.
Mas isso não é algo
simples, e demanda ação!
Uma relação não é um refúgio pronto em que podemos
dizer "cheguei" de forma definitiva e garantida, mas algo dinâmico e
construído por nós mesmos, com nosso empenho e trabalho diuturnos, com nossa
capacidade de adaptação, de perdão, de reajustar as rotas e de dançar conforme
a música (ou ser conduzido quando necessário).
Um oásis itinerante que nos
obriga a estar sempre em movimento.
Em suma, dá trabalho e não é ponto final.
Abaixo os relacionamentos
sérios, viva os gratificantes!
Seria legal ver uma designação mais leve e feliz
nos perfis sociais digitais.
Mas não vale roubar no jogo!
Dizer o que não se
vive ou não se sente só pra estar bem na foto das redes seria uma alquimia às
avessas, transformando ouro em chumbo em nome das aparências, tão importante
nesse meio, ou da auto-enganação.
Nesse sentido talvez seja melhor manter os
status de relacionamento "sério" ou "estável" intocados, e
fazer do "gratificante" o elixir descoberto pelos fortes e puros de
coração.
Aqueles que tiveram a coragem, paciência, perseverança e sabedoria pra
fazer da relação a dois algo verdadeiro, autêntico, essencial; que empenharam
esforços para isso do fundo de seus corações, sem alardes nem exposições nas
vitrines digitais.
Esses sim merecem o prêmio máximo: a pedra filosofal do amor
verdadeiro.
Pois o essencial é invisível aos olhos.
post: Marcelo Ferla
texto:
MARCELO WOLF
O conhecimento é a
matéria-prima da consciência. Esta sim é a chave que liberta!.
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