"Gears of War 4"
consegue a transição perfeita entre gerações.
Novo
game da franquia mantém o cerne da trilogia original atualizando personagens e
valores.
Por:
Gustavo Brigatti
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Kait,
J.D. e Del, os novos protagonistas de "Gears of War"
Foto:
reprodução / Divulgação
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As armaduras não parecem
mais pesar uma tonelada.
O senso de humor melhorou bastante.
Mas quando o
primeiro inimigo aparece e o brilho de um disparo é seguido pelo som de uma
motosserra, não há dúvida: Gears of War está de volta.
Lançado há pouco, o quinto
jogo da franquia e quarto título da saga chegou para fazer a necessária ponte
entre a velha e a nova geração – de sistemas operacionais, de personagens, e,
principalmente, de jogadores.
E da mesma forma que Star Wars – O Despertar da
Força, o faz de maneira triunfante.
A história de Gears of
Wars 4 já era conhecida antes do lançamento: 25 anos depois do fim da guerra
contra os Locusts, os humanos vivem em relativa paz quando uma nova ameaça
subterrânea emerge.
Só que tudo – incluindo o próprio planeta – mudou. E não
foi para melhor.
A vitória dos homens
revelou-se uma Vitória de Pirro: eliminou os Locusts, mas quase causou também a
extinção da raça humana.
Com a população e a capacidade de gerar recursos
reduzidas, a CGO (Coalizão dos Governos Ordenados) fez o que qualquer
organização militar faria: instaurou uma ditadura, onde o contingente humano
sobrevivente é obrigado a viver em acampamentos murados sob lei marcial – que,
entre outras coisas, "incentiva" as mulheres a terem o máximo de filhos
que puderem para repovoar o mundo.
Quem não concorda com a
nova ordem estabelece-se em povoados nas áreas selvagens do planeta e vira alvo
da CGO.
Ou seja, se nos primeiros Gears o exército era visto como a única
resposta para uma crise, agora ele é o problema.
E não apenas pelo sua pouca
disposição ao diálogo, mas pela inclinação à mentira e dissimulação para se
manter no poder, como se revelará mais tarde.
Entre estes renegados
estão J.D. Fenix, filho do herói de guerra Marcus Fenix, e seu amigo Del, ambos
desertores do exército, e Kait, filha de uma líder tribal.
Os três executam
missões de pilhagem em acampamentos da CGO para conseguir suprimentos para a
população marginal.
Numa delas, encontram o primeiro novo inimigo se impõe:
robôs criados para "manter a ordem", mas que usam munição letal.
Qualquer semelhança com estados policialescos que utilizam do seu aparato de
segurança para reprimir com violência as reivindicações da população não é mera
coincidência.
Em um dos cercos das
máquinas ao assentamento da mãe de Kait, a matriarca é levada por monstros até
então tratados como lendas urbanas.
Resta ao trio recorrer a Marcus Fenix, que
desde o fim da guerra contra os Locusts e a chegada da CGO ao poder, abandonou
tudo para viver no campo.
A relação com o filho, claro, é tão complicada quanto
a que tinha com o próprio pai, Adam.
Mas ele não perde a chance de sair
fatiando monstros (e robôs) quando a oportunidade aparece.
Como jogo, Gears of War
permanece o mesmo: alterna longas caminhadas pelos belíssimos cenários (quando
os personagens conversam entre si e parte da história vai sendo revelada) com
momentos de ação frenética – incluindo uma fuga de motocicleta em alta
velocidade e a uma escapa alucinante utilizando cabos de sustentação de um
elevador.
O sistema de troca de armas permanece o mesmo e, às já conhecidas
metralhadoras e pistolas, foram acrescidos armamentos que podem ser coletados
dos robôs destruídos.
Mas o mais importante,
mesmo, foi o excelente trabalho feito com a história do jogo.
A busca pela mãe de
Kait leva o jogador até um epílogo não mostrado em Gears of War 3, quando o
exército decide enterrar os corpos dos Locusts em minas desativadas.
Só que os
bichos, supostamente mortos pela radiação que destruía todas as criaturas que
tiveram contato com a emulsão, na verdade estavam apenas hibernando.
E
acordaram metamorfoseados em outra coisa – uma coisa que, a exemplo dos
humanos, também precisa se reproduzir o mais rápido possível para expandir seus
domínios e garantir a supremacia sobre o planeta.
E pretende fazer isso
incubando... humanos.
Mas diferentemente de
Marcus, Dom, Cole e Baird, o quarteto original, J.D., Del e Kait não são
soldados de coração.
Por mais que vivessem descumprindo ordens, os primeiros
Gears era guerreiros leais (legítimas engrenagens de guerra facilmente
substituíveis) dispostos a dar sua vida pelo exército porque tinham a esperança
de que a instituição restauraria o mundo como eles o conheciam.
O novo trio de
protagonistas nunca conheceu uma realidade diferente da de um governo
totalitário erguido sobre uma civilização em ruínas.
Talvez por isso, sejam
mais relaxados e confortáveis com o ambiente onde vivem.
E mesmo que se atirem
com fervor às batalhas, J.D., Del e Kait não acreditam que essa seja a solução.
Para eles, família e amigos vem antes de qualquer sistema governamental ou
ideologia.
Se puxam o gatilho, é para garantir a segurança dos seus, e não para
cumprir ordens de sabe-se-lá-quem.
O inimigo não é o monstro rugindo contra
eles, mas aqueles que os abandonaram quando mais precisaram.
É uma interessante mudança
de postura da série.
O tonel de testosterona, o tom francamente militaresco e o
caráter sisudo que deram a tônica dos três primeiros jogos da franquia agora
aparecem diluídos.
Gears of War 4 é um produto do seu tempo, com os valores do
seu tempo.
Um tempo em que a intolerância e a intransigência têm cada vez menos
espaço e todo esforço é feito para a conciliação.
O cheiro de Napalm no ar há
muito deixou de ser desejado e era hora de avançar.
E Gears of War fez isso da
melhor maneira possível.
post: Marcelo Ferla
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