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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

"Essa informação perturba tudo o que se sabe", diz historiador sobre o Homo naledi.


"Essa informação perturba tudo o que se sabe", diz historiador sobre o Homo naledi.
Professor do Departamento de História da UFRGS, o historiador e arqueólogo Francisco Marshall diz que a descoberta representa uma revolução.


Que relevância tem a descoberta do novo hominídeo?
É o fato científico do ano. É uma coisa extraordinária. 

Esse achado revoluciona a datação atribuída ao mais antigo sepultamento evidenciado de um ancestral humano. 

A espécie encontrada é um hominídeo, com morfologia de hominídeo. E a datação remete a 2,5 milhões de anos antes do presente. A hipótese levantada pelo arqueólogo que escavou e divulgou o achado é de que seja um ato intencional, uma deposição intencional, ou seja, um sepultamento.
O fato de as ossadas de vários indivíduos estarem juntas indicaria isso?
Não houve nenhum outro indício de causa externa, como um animal que tivesse tocaiado ou algum evento sísmico ou hidráulico. Todas as hipóteses verificadas não foram certificadas. A única hipótese hoje em análise é que seja um sepultamento. Hoje, a data de sepultamento mais antiga certificada, consensual, é na Croácia, de 130 mil anos atrás. Então, se for confirmado, estaremos estendendo isso em 2,4 milhões de anos.
Esse sepultamento indicaria a existência de uma cultura com complexidade?
O sepultamento é o grau máximo de cultura nesse ambiente histórico. Para que ele exista, tem de haver uma linguagem que comunique, que coordene a ação de todos esses indivíduos, um sistema de códigos, um aparelho fonador, capacidade cognitiva. Simultaneamente, também um sistema de memória cultural que transmita esse conhecimento, logo, instituições, mitos, ritos, narrativas, representações iconográficas. 

Além disso, concepções metafísicas sobre o post mortem, ou seja, um pensamento abstrato que imagine ser necessário o sepultamento e que o realize ritualmente.
Então havia toda essa complexidade em um período que não se imaginava?
Exatamente. Porque as primeiras ferramentas vão ser encontradas um milhão de anos depois. E sepultamento, que é do que estamos tratando aqui, 2,4 milhões de anos depois. Essa descoberta reescreve muitas coisas. 

Em primeiro lugar, a história cultural dos ancestrais humanos. 

Faz recuar vertiginosamente a datação. Estamos falando de 2,5 milhões de anos. É uma loucura. 

Reescreve também o que se sabe dos demais hominídeos e abre questões: o que houve com essa tradição entre o Homo naledi e o Homo erectus?
Essa tradição se perdeu?
Não há por que achar que se perdeu. Pode ter se mantido.
Esse hominídeo seria um ancestral dos humanos modernos?
Sim. Eles têm vários traços anatômicos do humano moderno. Já é um hominídeo. Não é um australopitecíneo, que são os ancestrais imediatos.
O cérebro era muito menor do que o do humano moderno.
Um terço do tamanho. Todos os fatos evidenciam que eram muito diferentes dos humanos modernos, mas já tinham comportamentos sofisticados. Claro, os padrões são diferentes, mas suficientes para verificarmos o conceito de cultura, que é o que importa reconhecer aqui.
Essa descoberta mostra que ainda temos muito a entender sobre o passado humano?
Neste momento, é uma perplexidade. 

Essa é uma informação que perturba tudo o que se sabe.


post: Marcelo Ferla
fonte: Zero Hora

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