EXPLORADOS PELO TURISMO.
Elefantes
sofrem abusos terríveis para aprender a “pintar”
13
de outubro de 2014
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Elefante "pinta" em campo na Tailândia. Foto: Reprodução |
Dentre as diversas formas
de exploração de elefantes para entretenimento humano, há uma que corre o risco
de parecer “inocente” aos olhos de turistas e espectadores: são os elefantes
“pintores”.
Quando se vê elefantes pintando quadros com aparente desenvoltura,
pode ser tentador para a maioria das pessoas acreditar que eles fazem isso por
algum dom natural, por inteligência, ou porque simplesmente gostam.
No entanto, segundo
reportagem do One Green Planet, se formos refletir por um momento, podemos nos
perguntar: em que circunstâncias alguém se depara com um elefante pintando um
quadro na natureza?
Isso nunca ocorrerá, pois esse é mais um “produto” da
indústria que explora animais para entretenimento.
O turismo que explora
elefantes é extremamente popular na Tailândia, motivo pelo qual a população
nativa de elefantes asiáticos praticamente desapareceu do seu meio natural.
Turistas de todo o mundo vão para esse país com o intuito de ter a experiência
de ver e ter contato com esses animais.
Existem inúmeras excursões que promovem
“passeios de elefante”, e há até mesmo “campos” de elefantes onde, por uma
pequena taxa, as pessoas podem passar o dia na presença dos mesmos.
E dentro
desse mercado de exploração, os “elefantes pintores”, também conhecidos como
“elefantes artistas”, são mais uma modalidade altamente explorada em cativeiro.
Os Elefantes “artistas” da
Tailândia
O Maesa Elephant Camp está
em operação desde 1976, e é conhecido como o pioneiro no conceito de elefantes
“artistas”.
O campo está localizado nos arredores de Chiang Mai, na Tailândia,
um ponto disputado do turismo tailandês. Há setenta e oito elefantes atualmente
“inscritos” no campo, os quais foram “adquiridos” (sic) pelo fundador do dito
arraial, Choochart Kalmapijit, ao longo dos últimos 30 anos.
O site do campo explica:
“Choochart comprou elefantes de todo o país, e com os seus ‘mahouts’
(‘condutores’ de elefantes) e outros especialistas, trabalhou e se apaixonou
por esses animais, descobrindo habilidades e fatos sobre os paquidermes”.
Uma das “habilidades”
louvadas pelo Maesa Elephant Camp, é claro, é a “estranha habilidade dos
elefantes para pintar”.
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Treinador segura "bull hook", instrumento usado para intimidar e ferir elefantes em treinamento. Foto: Reprodução |
Como eles são ensinados?
De acordo com informações
do site do Maesa Elephant Camp, os elefantes artistas do acampamento começaram
a subir ao palco em 2000.
“Quando os filhotes alcançavam dois anos de idade,
era hora de separá-los de suas mães”.
E, como todos os bons
adultos, esses pequenos elefantes foram colocados para trabalhar.
“Daquele dia
em diante, esses pequenos ‘Jumbos’ iriam viver com um adestrador e serem
treinados por ele, aprendendo comandos, desenvolvendo habilidades e – pela
primeira vez no Maesa Elephant Camp – pintando!”.
O site explica que
demorava cerca de um mês para ensinar os elefantes a segurar o pincel com a
tromba – ‘eles eram um pouco relutantes no começo, mas pegaram o jeito
rapidamente!’.
Uma vez que esta habilidade estava dominada, eles estavam
prontos para aprender a mergulhar os pincéis na tinta.
“Um dos nossos
paquidermes prodígio pintou pontos com sucesso, enquanto os outros três
escolheram pintar belas linhas”, diz o site.
E assim, teve início a
Galeria Maesa.
Bem, se você simplesmente
não está satisfeito com essa explicação simplista de como se pode ensinar um
filhote de elefante selvagem a ficar parado e se concentrar em uma pintura,
segue abaixo a verdade. Por favor, continue a ler.
A história mais provável
Enquanto não se pode
afirmar que o Maesa utiliza estes métodos para a formação de seus elefantes
pintores, este é um relato confiável de como os elefantes são tradicionalmente
treinados para pintar na indústria do turismo tailandês, graças a uma pesquisa realizada
por organizações dedicadas à preservação de elefantes de toda a Tailândia.
A ONG Born Free explica
que é um mito a acepção de que a habilidade de pintar seja resultado da
inteligência natural dos elefantes. Muito pelo contrário, refutando diretamente
a história contada pelo Maesa sobre como os elefantes lá confinados aprenderam
a pintar, “elefantes enfrentam meses de abusos físicos para aprender a segurar
um pincel, desenhar uma linha e pintar flores e folhas”.
Como os elefantes usados na
indústria de passeios de elefante, em que
carregam pessoas em suas costas, os elefantes jovens utilizados para a pintura
devem ser “quebrados” e experimentar a dor do processo “phajaan”, práticas
explicadas em reportagem recente da ANDA.
Durante este tempo, os bebês
elefantes estão sedentos, algemados e espancados, até que seu espírito esteja
completamente quebrado e se submeta à vontade de seus captores. Uma
vez que os jovens elefantes passaram por este processo, podem aprender também a
pintar.
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Filhote de elefante é massacrado durante processo de treinamento, chamado de "quebra" do seu espírito. Foto: OGP
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Treinando um escravo
Os elefantes usam pincéis
especiais para criar suas “obras-primas”. Esses pincéis são inseridos
diretamente na tromba e têm uma barra divisória que fica no final dela, para
evitar que a mesma caia do nariz do elefante.
Durante uma performance de
pintura, o treinador do elefante está diligentemente ao lado do elefante,
equipado com “bull hooks” (bastões com ganchos de ferro pontiagudo nas
extremidades, para intimidar e ferir o animal).
Além dos “bull hooks”, há
outro método considerado mais discreto: um prego, que fica escondido na mão do
adestrador, é empurrado para o tecido mole da orelha dos elefantes quando estes
não fazem o que é mandado.
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Pincéis são reforçados com varetas para serem inseridos dentro das trombas dos elefantes. Foto: OGP |
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Como é inserido o pincel na tromba do elefante. Foto: OGP |
Para treinar o elefante a
mover o pincel para criar padrões de traçado que reconhecemos como flores,
árvores ou até mesmo um elefante, os treinadores usam estes aguilhões dolorosos
para guiar os movimentos do elefante.
Além disso, se um elefante
pinta incorretamente, ele é espancado, ou com um “bull hook”, ou com pancadas
com outros objetos em sua cabeça ou tronco.
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"A real inspiração por trás de uma pintura feita por um elefante". Foto: One Green Planet |
Quando essa habilidade é
dominada, o elefante é obrigado a recriar o mesmo padrão todos os dias, às
vezes duas ou até três vezes por dia.
O naturalista Desmond
Morris testemunhou um show de pintura de elefante na Tailândia, para discernir
se os elefantes realmente poderiam criar pinturas por vontade própria, com base
em seus talentos criativos individuais.
Conforme a sua observação, o treinador
mantinha um controle sobre o elefantes durante toda a performance, puxando a
orelha do animal para a direita ou para a esquerda para manipulá-lo a fazer as
pinceladas.
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"Primeira lição de pintura: dor". Note a mão do treinador espetando a orelha do animal. Foto: OGP |
Como ajudar a colocar fim
nessa escravidão
É obrigação de cada um de
nós agir, para ajudar a colocar um fim nessa situação de exploração e
escravidão em que se encontram os animais abusados para entretenimento humano.
Nesse caso, é interessante
compartilhar essa informação, pois a conscientização é o primeiro passo para a
real mudança.
Além disso, o boicote é
uma das formas mais eficazes, senão a mais, de libertar esses animais.
Quem se
preocupa com os direitos animais não vai a eventos que exibam elefantes de
forma alguma, sejam passeios, circos ou shows de “pintura”.
Classificar locais
que praticam essas performances no Trip Advisor, para que outros turistas
também evitem assisti-las, pode ser outro recurso de grande ajuda.
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Elefantes sendo explorados em passeios turísticos. Foto: OGP |
post: Marcelo Ferla
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