Um poema “censurado” por
20 séculos.
Rôney
Rodrigues
Pedicabo
ego vos et irrumabo
(Gaius
Valerius Catullus)
Se você não manja de
latim, saiba que a frase acima é o primeiro verso de um poema considerado o
“mais sujo escrito em qualquer idioma” e que demorou 20 séculos para que alguém
se arriscasse a traduzi-lo por inteiro.
Antes, em algumas partes do poema, o
conteúdo era atenuado ou, simplesmente, cortado.
Trata-se de “Carmen 16” –
também chamado de “Catulo 16” -, escrito pelo controverso poeta romano Caio
Valério Catulo, que viveu no século 1 a.C., no final do período republicano.
Ele pertencia a um grupo de poetas que queria romper com o passado literário
romano, apelidado ironicamente por Cícero de “poetas novos”.
Ah, já ia me esquecendo. A
tradução: “Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos”.
Obscenidades romanas
Essas “singelas” palavras
de Catulo eram dirigidas a Marco Fúrio Bibáculo – poeta que teve um caso com
seu namorado – e a Marco Aurélio Cota Máximo Messalino, cônsul na dinastia
júlio-claudiana. Os dois acusavam os versos de Catulo de serem “suaves demais”.
Ele, enfurecido pelas críticas, decidiu mostrar que conseguia fazer uma poesia
mais pesadinha.
“Carmen 16” marcou a
história da literatura pela longa censura e obscenidade, ao tratar temas que
desafiavam o decoro e a moral romana. O poema serviu de inspiração, séculos
depois, para autores como o americano T. S. Eliot e o francês Charles
Baudelaire.
Leia a tradução completa
do poema, realizada por João Ângelo Oliva Neto.
Catulo 16
Meu pau no cu, na boca, eu
vou meter-vos,
Aurélio bicha e Fúrio
chupador,
que por meus versos
breves, delicados,
me julgastes não ter
nenhum pudor.
A um poeta pio convém ser
casto
ele mesmo, aos seus versos
não há lei.
Estes só tem sabor e graça
quando
são delicados, sem nenhum
pudor,
e quando incitam o que
excite não
digo os meninos, mas esses
peludos
que jogo de cintura já não
tem
E vós, que muitos beijos
(aos milhares!)
já lestes, me julgais não
ser viril?
Meu pau no cu, na boca, eu
vou meter-vos.
Imagem: Catulo, retratado
em uma pintura de Lawrence Alma-Tadema.
Fontes: Historia de la
historia, Primeiros Escritos, Plaza UFL.
Marcelo Ferla
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