21 palavras e expressões
incríveis de outros idiomas que dão inveja à língua portuguesa.
POR ALEXANDRE INAGAKI
Palavras são tijolos com
os quais tentamos construir, através de frases, os pensamentos abstratos que
vagam pela nossa mente. Quase nunca, porém, somos capazes de encontrar os
termos mais apropriados para externarmos a visão de mundo e os sentimentos que
surgem cá dentro. Bem dizia o Drummond: “Lutar com palavras/ é a luta mais vã/
Entanto lutamos/ mal rompe a manhã.” Mas é um combate fascinante, e é por isso
que me interesso tanto em conhecer palavras novas, sejam elas da língua
portuguesa ou de outros idiomas.
Afinal, cada nova palavra que ingressa em meu
vocabulário representa uma nova possibilidade de expressão, de aumentar as
chances de conseguir comunicar o que às vezes parece ser indizível.
O título deste post pode
dar a impressão de que a língua portuguesa deixe alguma coisa a desejar: ledo
engano.
Embora seja um idioma complicadíssimo, com conjugações e normas quase
impossíveis de se decorar (as regras do hífen e o comportamento das mulheres,
duas coisas que jamais conseguirei compreender direito), é um idioma sonoro e
poético que possui palavras mesmerizantes como “cafuné”, “diáfano”, “acalanto”,
“serelepe” e “saudade”. Porém, a intenção deste artigo é citar algumas palavras
e expressões, de outros idiomas, capazes de sintetizar sensações ou
experiências que demandariam o uso de frases inteiras em outra língua.
* * *
1) Komorebi (japonês): uma
palavra poética que descreve a luz do sol filtrada pelas folhas das árvores
antes de atingir o chão, criando aquelas sombras lindas.
2) Gumusservi (turco): o
luar brilhando nas águas.
3) Razbliuto (russo): o
sentimento de afeição, ao mesmo tempo carinhoso e dolorido, que sentimos por
uma pessoa que deixamos de amar.
4) Plimpplamppletteren
(holandês): a capacidade de jogar uma pedra e fazer com que ela ricocheteie na
superfície da água o maior número de vezes possível.
5) numerodobeijo
6) Ilunga (do dialeto
tshiluba, falado no Congo): uma pessoa capaz de perdoar um desaforo pela
primeira vez e de tolerá-lo numa segunda ocasião, mas que nunca, jamais irá
aceitá-lo pela terceira vez. Detalhe: segundo matéria da BBC News, esta é a
palavra mais difícil de ser traduzida.
7) Nedovtipa (tcheco):
pessoa incapaz de entender uma indireta (ou seja: taí uma palavra ótima para
ser utilizada em redes sociais).
8) Bakkushan (japonês):
uma jovem que aparenta ser atraente quando vista de trás, mas pode não ser
quando olhada de frente. No Brasil, até há um termo maisoumenosmente similar a
esta singela palavra nipônica: raimunda.
9) Gigil (filipino): a
compulsão irresistível de apertar ou beliscar algo que seja cuti-cuti demais.
10) Umjayanipxitütuwa
(aimará, idioma falado na Bolívia e Peru): palavra sensacional que sintetiza em
um único termo a expressão “eles me fizeram beber”. Ou seja, trata-se de um
sinônimo para desculpas esfarrapadas do tipo “o cachorro comeu minha lição de
casa”.
11) Ya’arburnee (árabe): a
tradução literal desta palavra é “você me enterrará”. Mas seu significado é
mais profundo: representa a esperança de que você morra antes da pessoa que
ama, porque seria incapaz de prosseguir vivendo sem ela.
12) Prozvonit (tcheco): o
ato de ligar para um celular e deixá-lo tocar só uma vez, para que a outra
pessoa retorne a chamada e você economize a grana de um telefonema. Certamente
seria uma das palavras favoritas do Tio Patinhas.
13) Jayus (indonésio): uma
piada ruim e que, contada de modo mais tosco ainda, faz com que a única opção
ao infeliz que a ouviu seja gargalhar.
14) Kertek (malaio): o som
de quando se pisa sobre folhas secas ou galhos finos.
15) Tartle (escocês): o
momento constrangedor no qual você vai apresentar alguém e constata que
esqueceu o nome da pessoa.
16) Kapau’u (havaiano): o
ato de bater na água com um galho, assustando peixes, a fim de que eles fiquem
presos em uma rede de pesca.
17) duiniutanqin
18) Buksvåger (sueco):
alguém que fez sexo com uma pessoa com quem você havia transado em uma ocasião
anterior.
19) Aki ga tatsu
(japonês): a tradução literal desta expressão é “começou a soprar a brisa do
outono”, mas seu significado, mais melancólico, é o esfriamento de ambas as
partes envolvidas em uma relação amorosa após o fim da paixão.
20) Cualacino (italiano):
a marca deixada em uma mesa por uma taça ou copo gelado.
21) Mamihlapinatapei
(fueguino, dialeto falado no arquipélago da Terra do Fogo): deixei para o final
o meu termo favorito dentre as palavras que deveriam existir na língua
portuguesa. Afinal de contas, não é todo dia que a gente encontra algo com este
significado: “o ato de olhar nos olhos do outro, na esperança de que o outro
inicie o que ambos desejam, mas ninguém tem coragem de começar”.
* * *
P.S.: A fonte principal de
informações deste post foi o saboroso livro “Tingo – O Irresistível Almanaque
das Palavras”, escrito por Adam Jacot de Boined, com ilustrações de Sandra
Howgate. As outras ilustrações, por ordem de aparição, são de autoria de Mark
Cuyos, Fuchsia MacAree, Ella Frances Sanders e Anwesha Bose.
Marcelo Ferla
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