A
caminhada de Didi, por Paulo Cezar Caju (O Globo)
Postado por Equipe
Ultrajano em 10/jul/2018
Eu, definitivamente, devo
viver em outro planeta.
Quase 100% dos comentaristas de tevê e jornal apoiam a
permanência de Tite.
Os motivos são incontáveis: “deixou um caminho
pavimentado”, “mudou a cara de nossa seleção”, “tem o grupo na mão” e blá blá
blá!!!
Que cansaço!!!
Teve um, na
tevê, que chegou a duvidar que existisse alguém no mundo que não gostasse do
trabalho do professor:
“Liguem para a redação e se apresentem”, sugeriu.
Se o
nível do futebol está ruim, o dos comentaristas, com exceções, nem se fala.
Querem discutir futebol, de verdade?
Então me respondam qual a diferença das
seleções do 10 x 1 do Felipão (7 da Alemanha mais 3 da Holanda), do Dunga e
esta do Tite?
Me apontem alguma evolução tática ou técnica de uma para outra.
Era óbvio que nas Eliminatórias
o grupo estava insatisfeito com o Dunga.
Jogador derruba o técnico que quiser,
isso é muito comum no futebol.
O que mudou na seleção, me digam?
Saiu um
professor sisudo e entrou um pastor, um palestrante de autoajuda.
Mudou apenas
o discurso.
E, se Dunga tinha zero de apoio da mídia, porque nunca fez questão
de ser simpático, Tite teve uma aprovação retumbante.
Aí fica mais fácil
trabalhar.
Mas pensem comigo.
Sua técnica de autoajuda não
melhorou em nada, por exemplo, o lado psicológico de Neymar, que até o último
minuto tentou ludibriar o árbitro com suas quedas.
O Tite psicólogo falhou.
Como uma seleção chega no ponto alto da Copa com tantos jogadores em
frangalhos, contundidos?
O Tite departamento médico falhou.
Como uma seleção
consegue dar 50 passes errados em um jogo tão importante?
O Tite fundamentos
falhou.
Como uma seleção não tem uma jogada ensaiada, um contra-ataque
mortífero, um toque de bola envolvente e coloca o centroavante para marcar como
um cabeça de área?
O Tite técnico falhou.
Como olhar para o banco e ver
Fernandinho, Renato Augusto e Firmino como as principais alternativas?
O Tite
convocação falhou.
A verdade é que o “genial”
Tite falhou além da conta, mas a imprensa continua passando a mão em sua
cabeça, e a CBF já garantiu a sua permanência, a do filho e a do papagaio até o
ano 3000.
É preciso mudar não só o Tite, mas toda a cúpula da CBF que
transformou a seleção em um balcão de negócios.
E olha que essa seria a chance
de ouro de Tite & Cia brilharem porque o nível dessa Copa está abaixo da
crítica.
Pelo menos as seleções em que apostei, tirando a Espanha, continuam no
páreo: Croácia, França, Bélgica e Inglaterra.
O Brasil perderia para as quatro
até porque não somos mais a melhor seleção do mundo faz tempo. Mas o pior é que
agimos como se fôssemos.
E não seremos tão cedo se essa escola retranqueira,
covarde, do futebol de resultado, pragmático, que preza o futebol força e ama
os velocistas, permanecer no poder.
Nós temos nossa própria
forma de jogar, que foi enterrada sem dó nem piedade por Parreira, Mano,
Felipão, Dunga e Tite.
Já deu.
E não me venham com essa de romantismo, isso é o
que precisa ser feito porque a tecnologia está a favor de todos, correr todos
sabemos, mas nenhum outro país do mundo tem o dom para o futebol como o
brasileiro, em nenhum outro país surgem tantos garotos bons de bola.
O problema é que estão sendo
engessados nas escolinhas.
Ali, na mão dos professores de Educação Física
travestidos de técnicos de futebol, eles sofrem a primeira lavagem cerebral e
passam a trocar o drible pelo carrinho, os gols pela ajuda na marcação.
Precisamos nos libertar, clamamos por novos ares, por mais leveza, temos que
partir em busca de nossas raízes.
Mas a mídia precisa comprar essa briga e não
se deixar levar por discursinhos chatos e ensaiados.
Não queremos mais
pastores, gestores de pessoas e fabricantes de brucutus.
Queremos boleiros!!!
E não
me venham, novamente, com o papo furado de que o mundo mudou.
Nós mudamos, nos
influenciamos pela escola europeia e ela só estava tentando nos copiar.
Evoluíram eles, regredimos nós.
Precisamos reverter essa
situação trágica, mas para isso temos que agir com a tranquilidade e a
serenidade de mestre Didi, após o gol da Suécia, na final de 58.
Dá para virar
esse jogo!
Didi acreditou, eu acredito.
post: Marcelo Ferla
texto: Paulo Cezar Caju - O Globo
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