Mulheres admiráveis.
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A equipe de psicólogos de um grande hospital
me pediu uma palestra sobre perdas.
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LYA LUFT - O Rio das
Perdas
Perdas de quê? Dinheiro,
saúde, emprego, amor, juventude, beleza… perda da alienação quando se aproxima
a morte, nossa ou de alguém próximo, desconstruindo tudo o que parecia sólido
em nós?
Qualquer perda. Pois, no
trabalho deles, lidavam com isso o dia todo.
O que podia eu dizer a
esses competentes profissionais que diariamente enfrentam os dramas que afluem
a um hospital, aquele rio de perdas que se enfia por todos os cantos, atrás de
cada porta ou biombo atingindo alguém com todo o direito de chorar?
Então procurei ser
simples: falar das naturais dificuldades em lidar com qualquer perda - também
fora do contexto hospital, saúde, vida e morte.
Primeiro, não queremos
perder.
É lógico não querer
perder. Aliás, nem deveríamos ter de perder nada: saúde, pessoas, posição,
dignidade ou confiança. Mas uma constante alternância de ganhos e perdas forma
em parte a nossa humanidade ameaçada. Nós somos também isso.
Segundo, perder dói mesmo.
Não há como não sofrer. É
tolice dizer "não sofra, não chore". Também o luto e a dor são
importantes - desde que não nos paralisem demasiado por demasiado tempo.
Terceiro, precisamos de
recursos internos para enfrentar a dor.
O apoio dos outros é
relativo e passageiro. A força decisiva terá de vir do nosso interior, onde se
depositou a bagagem da nossa vida. Lidar com a perda vai depender do que
encontramos ali: se nesse lugar crescem árvores sólidas, teremos onde nos
agarrar. Se houver apenas plantinhas rasteiras, estaremos mal. Por isso, aliás,
a tragédia faz emergir forças insuspeitadas em algumas pessoas, e para outras
aparece como uma injustiça pessoal ou uma traição da vida.
Uma doença grave, um
insulto à dignidade ou o esvaziamento da nossa confiança deixam-nos
encurralados. Já não vemos sentido em nada, e isso será mais difícil se até ali
corremos desnorteados no tempo em que, sem refletir nem apreciar, ainda
possuíamos isso que agora perdemos.
Não acho que seja preciso
alta filosofia nem devoção ardente, nem acredito em muita teorização sobre o
sentido da existência.
Mas creio numa expressão
algo fora de moda, que no meu caso não tem conotação religiosa: vida interior.
Que é o espaço da ética, dos afetos, da humildade e da coragem, da visão da
nossa transcendência. Somos parte de um misterioso ciclo vital que é o da
própria natureza, e nos confere sentido.
Dentro dele, mesmo sendo
insignificantes, temos grandeza. Mesmo sendo muito jovens, podemos ser maduros.
Por tudo isso, que não
compreendemos mas podemos sentir, a vida vale a pena - também quando o mundo
parece desabar sobre nós ou arrancar-nos das mãos aquela última pequena e
pálida esperança.
texto: Lya Luft
post: Marcelo Ferla
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