Os
próximos passos na recuperação dos meninos resgatados na Tailândia
Foram dias vivendo em
temperatura baixa, sem alimentação, pouco oxigênio e expostos a todo tipo de
bactéria
Por Felipe Sali
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(SOE ZEYA
TUN/Reuters)
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Após 17 dias presos em uma
caverna inundada na Tailândia, os 12 garotos de um time de futebol amador e seu
técnico finalmente foram resgatados, em uma operação delicada com três dias de
duração.
Mas nove dias sem comer em um ambiente inóspito não são para qualquer
um – isso, sem contar as consequências psicológicas da experiência.
A maioria dos rapazes não
está em estado de saúde grave, os médicos garantem.
No entanto, uma autoridade
do departamento de saúde da Tailândia, Thongchai Lertwilairattanapong, disse
que não haverá “abraços ou toques” até que exames de sangue provem que os meninos
estão livres de infecções.
Eles foram colocados em quarentena e estão sob
observação enquanto realizam uma bateria de exames de todos os tipos.
Mas quais são, de fato, os
riscos que os rapazes correm?
Em entrevista ao jornal Los Angeles Times, Roger
Mortimer, coordenador da região ocidental da National Cave Rescue Commision
disse que a primeira preocupação da equipe que atende os meninos seria,
provavelmente, com a leptospirose.
A doença vive em roedores e
pode ser transmitida pelo contato físico com a sua urina, através da água.
A
doença pode ser fatal e é muito comum no sudeste da Ásia, onde ocorreu o
resgate.
Além disso, as temperaturas
baixas a que os rapazes foram expostos podem facilitar a vulnerabilidade à
pneumonia, além de provocar hipotermia.
O primeiro rapaz a ser resgatado
apresentou sinais de ambos os quadros.
Todos os demais estava com temperaturas
corporais muito abaixo do normal quando chegaram ao hospital.
Mas não basta tratar esses
males relativamente esperados após o resgate.
Os meninos ainda precisam ser
reintroduzidos, tanto física quanto psicologicamente, à vida normal após o
resgate.
Readequação à vida normal
Boa parte dos garotos perdeu
a noção de tempo durante o incidente – quando resgatados, alguns deles
perguntaram quanto tempo passou desde o desabamento.
A culpa disso é a
exposição prolongada ao escuro.
O reajuste à claridade,
portanto, está sendo feito aos poucos.
Para isso, os meninos estão usando
óculos escuros em tempo integral.
Infelizmente, eles também
não puderam matar a fome do jeito que gostariam.
Depois de 9 dias sem comer, os
seus pedidos para um jantar tradicional Tailandês não pôde ser atendido.
Por
mais difícil que seja negar um desejo tão simples, realizá-lo poderia ser
perigoso.
Uma refeição normal poderia
causar complicações depois de tanto tempo de jejum forçado.
Em vez disso, a
alimentação está sendo reintroduzida aos poucos, com mingau, pães e uma dieta
rica em fibras.
Já as questões psicológicas
precisarão ser analisadas à longo prazo – como mostram exemplos do passado.
Alguns dos mineiros chilenos que ficaram presos em 2010 ainda sofrem com
problemas de saúde mental relacionados à experiência, com dificuldades até de
conseguir trabalhar.
Segundo Sarita Robinson,
professora de psicologia da Universidade Central de Lacanshire, no Reino Unido,
dá para ter esperanças de um destino melhor para os meninos.
De acordo com seu artigo
publicado no The Conversation, ela afirma que o fato deles estarem confinados
em grupo (e ainda serem amigos) pode ter promovido mais resiliência emocional e
ajudado os rapazes a manter o equilíbrio necessário na situação.
Ainda assim, eles poderão
sofrer com ansiedade, ataques de pânico, fobias e outros sintomas do estresse
pós-traumático.
Nas gravações, sorriam e brincavam entre si, o que é um ótimo
sinal, mas só um acompanhamento constante pode dizer se haverá alguma sequela.
Apesar dos desafios que
ainda estão por vir, dá para dizer que o time de futebol teve uma história com
final feliz.
O resgate foi um sucesso e, de todos os cenários possíveis, os
exames indicam que estamos longe do mais catastrófico.
Os meninos só vão
precisar de um pouquinho de paciência antes do tão esperado banquete.
post: Marcelo Ferla
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