‘Corta
a carne e dá ovo para essas crianças’, diz alvo da Operação Prato Feito
Um grampo da Operação Prato
Feito, deflagrada nesta quarta-feira, 9, pela Polícia Federal e pela
Controladoria-Geral da União (CGU), revela que um empresário do ramo da merenda
escolar mandou cortar carne da dieta de crianças e substituir por ovos.
A Prato
Feito mira fraudes de cinco grupos sob suspeita de desviar recursos da União
destinados à educação em municípios dos Estados de São Paulo, do Paraná, da
Bahia e no Distrito Federal.
“O que é chocante nessa
investigação são os registros de inexecução contratual de fornecimento da
merenda escolar”, afirmou a delegada da PF Melissa Maximino Pastor, chefe da
Operação Prato Feito.
“Tivemos registro, ao longo desses anos, de fornecimento,
às vezes no lanche para as crianças, de uma bolacha maizena com leite diluído,
suco substituindo leite, áudios de empresários que falavam: ‘corta a carne,
fornece ovos todos os dias para essas crianças’.
Isso causa uma indignação.”
A PF e a Controladoria
saíram às ruas para cumprimento de 154 mandados judiciais.
Agentes da PF
fizeram buscas na Prefeitura de São Paulo e na Secretaria Municipal de
Educação.
Segundo o secretário federal
de Controle Interno adjunto da CGU, Roberto
César Oliveira Viegas, a
investigação mirava inicialmente cinco prefeituras.
“Dessas cinco prefeituras, a
gente fiscalizou um montante de algo em torno de R$ 12 milhões de repasses.
Algo em torno de 20% a 25% e até 30%, a gente pode afirmar que foram
desviados”, relatou.
“Como se trata de cartel,
essas empresas inicialmente, precificavam, criavam o preço de referência antes
da etapa de licitação, se juntavam, criavam um preço referencial.
Esse preço,
como eram as próprias que apresentavam as propostas, essa média já era uma
média bem acima do mercado.
A partir dessa referência, dentro do processo
licitatório, você já tem um sobrepreço.”
O secretário da CGU narrou
que durante a investigação foram detectados “pagamentos para refeições bem acima,
crescimento exponencial em relação ao número de alunos”.
“Essas prefeituras
incrementavam o quantitativo de alunos completamente diferente do Censo
escolar.
A quantidade e a qualidade, quando fornecidas, eram bem abaixo.
Havia
substituições, inclusive, bem consideráveis, na quantidade e naquilo que você
deveria fornecer.
O cardápio previa um café da manhã com cereais, um leite,
isso não existia.
Em grande parte dos casos apontados, você tinha biscoito com
suco.
Às vezes, cardápios ao longo do dia eram suprimidos”, afirmou.
A delegada Melissa contou
que o nome da operação, Prato Feito, está ligado à inexecução de um dos
contratos investigados.
“As crianças podiam repetir
os alimentos, as refeições várias vezes.
Por conta das empresas desviarem
recursos em benefício próprio e de agentes públicos, elas passaram a receber um
prato feito.
Por isso o nome da operação, é um prato determinado, uma
quantidade determinada de alimentos.
E também para evidenciar o conluio entre
agentes públicos e empresários, já está tudo coordenado.
Eu recebo a propina e
o edital é direcionado para esse agente público”, explicou.
Melissa afirma que, após o
afastamento do sigilo bancário dos alvos da Prato Feito, os investigadores
identificaram “o dinheiro na conta de parentes dos assessores e secretários”.
“Nós tivemos alguns casos de
prefeito e dos próprios secretários.
Na maior parte das vezes, de empresas
indicadas em nome de laranjas”, relatou.
As medidas cumpridas nesta
quarta foram expedidas, a pedido da PF, pela 1.ª Vara Criminal Federal de São
Paulo e pelo Tribunal Regional Federal da 3.ª Região.
Nas cidades de Águas de
Lindoia, Pirassununga, Mauá e Mairinque são investigados ex-prefeitos. Em Mogi
Guaçu, um vereador.
“A investigação foi cindida
em razão de indícios de envolvimento de prefeitos dos municípios de Barueri,
Embu das Artes, Mauá, Caconde, Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Laranjal
Paulista, Mogi Guaçu, Mongaguá, Paulínia, Pirassununga e Registro”, disse a
delegada.
post: Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.