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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

OBRIGADO, INTERNET...


OBRIGADO, INTERNET (POR ME FAZER JUNTAR MILHARES DE REAIS NA ADOLESCÊNCIA, DAR UMA VOLTA AO MUNDO AOS 19, E PUBLICAR UM LIVRO AOS 21).
POR FELIPE GAÚCHO
Dos concursos culturais ao financiamento coletivo, usei e abusei da web para realizar meus sonhos e inspirar mais gente a fazer o mesmo. 
Talvez tenha chegado a hora de agradecer.

O cumprimento padrão nos arredores do Himalaia é também um gesto de agradecimento. © Felipe Gaúcho.
Ela é como irmão ou irmã: a gente xinga, briga, culpa por todos os nossos problemas, tenta ficar longe por um tempo, mas, no final das contas... ama e reconhece a importância.
Eu nasci (e tu também, provavelmente) em um daqueles momentos singulares na história da humanidade. 
Minha infância coincidiu com a infância da internet, e minha casa foi incorporando os avanços cibernéticos na medida em que eles surgiam e chegavam ao Brasil. 
Tive um tijolo da Nokia, um celular com toque polifônico, uma com tela colorida e depois um smartphone (parei antes de chegar ao iPhone). 
Um computador de CPU jurássica, um PC que rodava joguinhos de tiro, um notebook onde eu baixava discos pelo Kazaa, um netbook que buscava torrents e, por fim, um Macbook que faz streaming de tudo quanto é música e filme (tampouco cheguei até o iPad).

Prestes a cruzar alguma fronteira na Europa Oriental.
Me empolguei com cada possibilidade que uma nova tecnologia descortinava, até o ponto em que passei a achar que as possibilidades já eram muitas, e que estavam sufocando nossa capacidade de agir através do paradoxo da escolha. 
Rede social para criar uma persona, aplicativo para encontrar garotas perto de ti, software de busca de antecedentes pra checar o histórico de um potencial par: não é mais fácil simplesmente ir às ruas e encontrar alguém para bater um papo? 
Envio de mensagens que desaparecem em 5 segundos, "VV"s duplos e azuis para indicar que fulano recebeu ou leu o que tu disse, programas de camuflagem de voz: é tão sem graça assim uma conversa olho-no-olho?
A desilusão não teve espaço para florescer, contudo. 
Cada uma dessas funcionalidades bizarras fazia parte de um movimento que trazia também ferramentas poderosas. 
Meu primeiro contato com o poder multiplicador da web aconteceu na adolescência (minha e dela). 
Tinha 12 anos quando comecei a entrar em concursos culturais na internet, inspirado pela reportagem com um moço que tinha conhecido dezenas de países de tanto que já tinha sido premiado com viagens. 
Passaram-se alguns meses, e eu quase desisti da brincadeira antes de ganhar a minha primeira promoção. 

Lembro como se fosse hoje. 
O prêmio era um ano de Mentos grátis, e isso veio na forma de 365 caixas de balas, sendo que cada caixa continha uns 20 tubinhos. 
Traduzindo: até chegarem as férias, eu aparecia na escola sempre oferecendo balas pra quem aparecesse pelo caminho.

Com algumas caixas de balas, parte do primeiro prêmio que ganhei em promoções na internet.
Depois, vieram videogames, televisões, celulares e os mais diversos kits que, revendidos no Mercado Livre, me fizeram acumular alguns bons milhares de reais. 
Eles ficaram rendendo por alguns anos. 
E depois bancaram grande parte da viagem que era o meu sonho de infância.
Aos 19, tranquei a faculdade e pus o pé na estrada. 
Tinha passado parte do último semestre pesquisando (na internet) a respeito dos destinos que constituiriam o trajeto da minha volta ao mundo. 
Tinha reservado (pela internet) hospedagens em alguns lugares, e comprado uma ou outra passagem aérea. 
Durante o ano e meio que se seguiu, evitei ao máximo o contato com a tecnologia que tinha permitido a realização daquilo tudo. 
Colocava no Facebook, volta e meia, fotos para que a família e amigos soubessem por onde eu andava - e era isso. 
Mal sabia eu que, ao fim da jornada, voltaria-me de novo para a web, de modo a concretizar o próximo passo daquele grande projeto. 
Estávamos fadados a nos reunir de novo, eu e ela.

Conhecendo gente do jeito old school: na rua, sem mandar mensagem pra marcar um encontro, ligar pra confirmar, e nem falar a mesma língua.
Durante minha viagem, meu propósito era o de conversar, fotografar e conviver com as crianças que cruzassem o meu caminho, no intuito de redescobrir, através delas, a juventude. 
O material gerado virou um livro, e esse livro foi rejeitado por nove editoras antes de ser viabilizado através da... internet.
Topei por acaso com o financiamento coletivo, e formatei meio às pressas um projeto centrado no tal livro. 
Com uma campanha de divulgação 100% alicerçada no digital, a meta de arrecadação foi batida em cinco dias; o projeto chegou a ser mencionado em rede nacional, em trinta; e, depois de dois meses, tornou-se a mais bem-sucedida campanha dacategoria literatura no Catarse. 
Os direitos do livro foram adquiridos por uma editora, a obra foi publicada e, por fim, chegou às livrarias.

Não fosse a internet, essa pilha de livros não estaria nessa livraria.
Eu tinha de agradecer às mais de 800 pessoas que me ajudaram a realizar o sonho de escrever um livro, e só seria possível chegar até todas elas usando, mais uma vez, o alcance da web. 
Mas era preciso, também, expressar um pouco da gratidão que senti em relação a todas as crianças que encontrei durante a viagem que foi o motivo de tudo isso. 
O vídeo abaixo foi a maneira que encontrei para tentar fazer isso. 
E, é claro, não daria pra não agradecer a ela, da qual outrora desdenhei, mas que aprendi a admirar, respeitar e, acima de tudo, a usar com um pouquinho mais de sabedoria. 
Obrigado, internet.


FELIPE GAÚCHO
Acha que o lar do passarinho é o ar, em vez do ninho; sente-se nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo; e não vê problema em emprestar citações alheias.

post: Marcelo Ferla

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