Mulheres levarão 95 anos
para atingir igualdade de gênero com homens no Brasil.
BBC
BRASIL.com
Uma pesquisa anual do
Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) aponta que seriam necessários
95 anos para que mulheres e homens atingissem situação de plena igualdade no
Brasil.
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Brasil
vem evoluindo em igualdade entre gêneros, mas disparidade ainda é grande,
apontam estudos.
Foto:
Getty Images
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O país ficou na 79ª
posição no ranking global de 2016 da organização sobre o tema. Em 2015, havia
ficado na 85ª posição.
Mas a pontuação do país subiu apenas marginalmente:
0.687, sendo 1 o desempenho ideal.
As brasileiras têm um
desempenho melhor que os brasileiros nos indicadores de saúde e educação, mas
ainda enfrentam acentuada discrepância em representatividade política e
paridade econômica, destaca o relatório.
Para os especialistas do
Fórum, a adoção de políticas concretas poderiam rapidamente reequilibrar a
relação entre homens e mulheres no país.
O Índice Global de
Desigualdade de Gênero avalia desde 2006 o progresso das nações na promoção de
equilíbrio entre homens e mulheres.
Na elaboração do ranking,
são levadas em consideração estatísticas de 144 países, que avaliam as
condições enfrentadas por mulheres nas áreas de saúde, educação, paridade
econômica e participação política.
Em 2016, a estimativa é
que a lacuna de desigualdade entre homens e mulheres leve 170 anos para ser
preenchida no mundo.
A situação mundial piorou
de forma geral, mas houve melhora na região da América Latina e do Caribe.
O Brasil, entretanto, é o
pior colocado entre as grandes economias do continente, atrás da Argentina
(33º), México (66º) e Chile (70º). Ficou, porém, à frente do Uruguai (91º).
Entre os mais bem
posicionados, há apenas um representante latino, a Nicarágua, em 10º lugar.
Mais especificamente, as
brasileiras sofrem com falta de representação política e salários baixos. Isso
apesar de terem desempenho melhor que os homens em saúde e educação.
Para cada estudante homem
do ensino superior brasileiro, elas ocupam 1,3 vaga.
É uma situação que se
reproduz no mundo, já que elas são a maioria dos estudantes universitários em
95 dos 144 países pesquisados.
Na saúde, as brasileiras
também têm melhores indicadores: vivem em média cinco anos a mais que os
brasileiros.
A expectativa de vida
feminina é de 68 anos, frente a 63 anos da masculina.
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Ainda
é grande a diferença nos salários pagos a mulheres e homens no Brasil.
Foto:
Getty Images
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Liberação
Mas se os indicadores de
base são fundamentalmente bons, por que o Brasil não consegue deslanchar na
igualdade de gênero?
Saadia Zahidi, chefe para
iniciativas de gênero e emprego do Fórum WEF, explica que é necessário adotar
estratégias pragmáticas que promovam a inclusão das mulheres no mercado de
trabalho bem remunerado e na política.
"Para mudar isso, é
necessário uma abordagem consciente, do ponto de vista econômico, para o
aproveitamento desses talentos.
Já temos mais mulheres se graduando na
universidade do que homens, não se trata do futuro, isso já é o presente.
Precisamos agora empregar essa força produtivamente", afirma.
Zahidi explica que a
percepção geral é de que as mulheres devem cuidar da família.
Nas camadas
sociais mais elevadas, há recursos para bancar a ajuda de babás para crianças e
enfermeiras para idosos.
No caso das camadas
intermediárias e baixas da sociedade, essas responsabilidades recaem sobre as
mulheres, o que as impede de trabalhar.
"Também é necessário
mudar as percepções.
Diversidade precisa ser vista como um motor para
crescimento, propiciando investimento maior em infra-estruturas de cuidado.
Mulheres de alta renda conseguem pagar para ter ajuda para as crianças e os
idosos, mas mulheres de classe média e baixa não conseguem.
É necessário
oferecer a elas uma rede de apoio social que as liberte para o trabalho",
diz.
Política
O ranking do WEF considera
em seu cálculo, entre outros fatores, o tempo que uma mulher liderou o país e a
porcentagem de representação feminina nas posições políticas mais altas.
Em maio passado, a
organização preparou a pedido da BBC Brasil uma simulação do impacto que o novo
gabinete do - então interino - governo Temer teria sobre o índice, uma vez que
não havia mulheres entre os ministros convocados.
Na simulação, o Brasil
chegou a retroceder da 89ª para 139ª posição no sub-índice Empoderamento
Político.
No índice geral, que inclui saúde, educação e poder econômico, a
queda fora da 85ª para a 107ª posição.
Zahidi destaca que o
retrocessos previstos não chegaram a se materializar na edição de 2016, porque
os dados utilizados como base de cálculo são repassados pela União
Inter-Parlamentar, organização que compila estatísticas e políticas de
parlamentos no mundo.
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Falta
de representatividade no primeiro escalão do governo federal afetará o Brasil
negativamente no próximo ranking.
Foto:
Agência Brasil
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Essas informações são
repassadas com defasagem de cerca de um ano ao WEF.
Zahidi estima que a próxima
edição do ranking deverá ser mais sombria para o Brasil, por conta desta futura
atualização negativa.
Ciente da escassez de
lideranças femininas nos altos escalões de poder brasileiro, Zahidi avalia o
que acredita ser necessário para mudar essa realidade.
"Em uma democracia é
necessário haver representatividade.
As mulheres são metade da população e
deveriam ter representação política semelhante.
A presença de mulheres em
posição de liderança tem um impacto expressivo sobre o empoderamento, pois
estabelece papéis modelo aos quais novas gerações aspiram."
Esse fenômeno de fomento
de inspiração, chamado em inglês de role modelling, serviria para incentivar
uma maior atuação engajada de mulheres na política, gerando um ciclo virtuoso
na qual o número de lideranças femininas seria multiplicado ao longo das
próximas gerações.
"Estudos da OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostram que mulheres
em posições de liderança política influenciam positivamente a distribuição de
recursos públicos.
Elas tendem a fazer escolhas mais solidárias, alocando
orçamento para partes da sociedade anteriormente negligenciadas, o que resulta
em redução de desigualdade de renda", diz.
'Desperdício de talentos'
No topo do ranking ficaram
Islândia (1º), Finlândia (2º), Noruega (3º), Suécia (4º), Ruanda (5º), Irlanda
(6º), Filipinas (7º), Eslovênia (8º) e Nova Zelândia (9º).
Os técnicos do Fórum
admitem que pode parecer surpreendente que países em desenvolvimento, como
Ruanda e Filipinas, figurem entre os primeiros da lista, mas dizem que muito se
deve ao peso econômico que as mulheres exercem em suas sociedades.
No caso das Filipinas, por
exemplo, há uma grande massa de trabalhadoras domésticas que vive fora do país
e colabora decisivamente para a geração de riqueza, com remessas de dividendos
importantes para a economia do país.
Segundo a análise do WEF,
o mundo enfrenta um "desperdício agudo de talentos", ao não propiciar
às mulheres oportunidades profissionais equivalentes às dos homens.
post: Marcelo Ferla
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