Mega-Sena ou Eduardo
Cunha?
Estava eu quarta a noite assistindo
televisão na casa de minha mãe esperando o confronto entre meu time o Grêmio e
o poderoso Palmeiras pela Copa do Brasil, quando me deparei com uma propaganda
promocional, a qual oferecia um prêmio de 1 milhão de reais.
Nesta mostraram, logo
depois, a reação daqueles que já haviam ganho o valor via promoção.
Na mesma propaganda ainda,
perguntaram aos já vencedores o que pretendiam fazer como prêmio.
A reação destes foi a
seguinte:
"Eu não sei o que eu vou fazer com o dinheiro que acabei de
ganhar, preciso parar e pensar".
Como resultado da
propaganda que acabara de assistir, refleti a respeito, isso acontece com frequência
em uma cabeça analítica e cheia de análises e ideias malucas como a minha, e
cheguei a uma conclusão que até então não tinha me chamado atenção.
Notei que sou acometido do
mesmo mal que os vencedores da promoção tem.
De imediato coloquei minha
cabeça a refletir, me perguntando em um exercício mental:
"O que eu, Marcelo,
faria se ganhasse 1 milhão de reais?".
Fora o óbvio, também não sabia.
Mas a coisa ainda
pioraria.
Hoje lendo mais notícias,
vício que tenho a mais de 15 anos, descobri que a Mega-Sena acumulou de 33
milhões para 42 milhões de reais.
Não descobri, nem a
matéria mencionou, como costuma ocorrer, quanto que tal valor renderia no mais
simples dos investimentos, a poupança.
Ouvi que giraria em torno
de 351 mil reais por mês, mas não tenho certeza deste número.
A primeira coisa que pensei,
na verdade a única que consegui elaborar era a de que, em sendo vencedor de um
valor do vulto da Mega-Sena, realizaria os desejos coerentes de meus pais e
meus irmão, assim como de meus três avós, dois maternos e uma materna, ou seja,
o típico pensamento de quem ganha uma grana preta, ser grato pelos familiares que
te ajudaram em teu caminho por meio do exercício da gratidão.
A segunda ideia que veio
logo depois foi a de honrar minhas poucas dívidas, questão de palavra, caráter.
Mas continuei pensando e o
fazendo tudo de forma muito rápida.
Ainda no exercício
delirante, eis que nas pouquíssimas vezes que apostei em algo deste tipo nunca
cheguei nem perto de ganhar, acertando no máximo dois números, tive, como um
raio, outro pensamento que me atingiu.
Assim pensei:
“Com um dinheiro destes,
por questões de segurança, colocaria todos embaixo de minhas asas e sairia do
país, já que não há, de forma segura, como viver e garantir a segurança de
todos que amo em sendo um multimilionário aqui, no Brasil”.
Confesso que montei esses
pensamentos em minha cabeça, levando em consideração baseado no primeiro
sentimento que deve atingir um vencedor multimilionário, o medo.
Digo isto, haja vista a
natureza dos demais seres humanos que não conheço, mas sabem quem sou e que me
cercam, bem como aqueles que me conhecem ou me conheceram em algum dia em
nossas vidas que se cruzaram, mas que é suficiente para recordarem de mim, tudo
diante de tal notícia, ele é um multimilionário.
Poderiam estes se
transformar, poderiam já ser ou converter-se em seres do mal, eis que, como
disse, muitos não conheço e aqueles que conheço, por sua vez, poderiam mudar de
ideia em relação a minha pessoa por conta da notícia de que me dei bem,
restando somente meus parentes mais próximos e muito íntimos para confiar.
Paranoia instalada.
Junto com esta, estaria
instaurada a famosa maldição do multimilionário, que consiste em derrubar o
jargão popular de que “dinheiro traz felicidade”.
Pelo contrário, dinheiro não
traz só felicidade, mas também, sérios problemas e graves, como colocar as
pessoas que você ama de verdade em perigo de vida, haja vista eu ser morador de
um país absurdamente violento.
Sequestros, latrocínios,
assaltos, tudo vindo com o dinheiro.
Que problema.
O que parecia ser a
solução de todos os meus problemas, quando pensado com mais profundidade, passa
a ser um tremendo problema, tão grande quanto o prêmio da Mega-Sena tão
desejado e almejado por qualquer mortal.
Alguns iriam me criticar,
chamando-me de amarelão, antipatriota, covarde, etc.
Mas me mandaria mesmo
daqui, mesmo não sabendo se realmente o lugar que escolheria é realmente tão
seguro quanto parecia ser antes de me importar e estudar ele com mais atenção
como opção.
O que sei é que já vi
muitas matérias em que a principal vítima em ganhar um prêmio desta natureza é
o próprio vencedor, tudo em decorrência do aparecimento, pós-prêmio, dos seus perante
a situação, agindo estes últimos como verdadeiros abutres.
Quem você, vencedor, menos
espera, pode trazer a tona seu lado mais íntimo, bizarro e nefasto, lado este o
qual não costumamos conhecer, eis que a situação ainda não existia, não as conhecia,
nunca ganhara um prêmio assim.
Se mal sei o que fazer com
o dinheiro ou como começar as coisas, como vou ter a petulância de achar que
conheço integralmente certas pessoas próximas a mim?
São duas coisas
completamente novas, eu multimilionário e a reação das pessoas diante disto.
Que as pessoas que até
então eram classificadas por mim como “do bem”, agora podem transformar-se em predadores
por eu ter me dado bem?
Os dias passaram, mas
guardei tudo isto, meu delírio ou nem tanto, além do que não sei do futuro e do
que ele, nesse sentido específico, me guarda.
Ai veio o que muitos
duvidavam até um tempo atrás.
O poder em forma de ser humano
em nossas terras brasileiras fora preso.
Sim, Eduardo Cunha estava dentro de um
jato da PF decolando de Brasília para a cela da PF em Curitiba.
Fiquei olhando aquele
avião e recordando-me que coberturas assim só eram feitas aqui quando da morte
de pessoa pública importante.
Mas os pensamentos lá, da
Mega-Sena retornaram e pensei:
“Se até o poder em pessoa,
o ex-Deputado Federal e ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha estava
com medo da prisão, e após esta, da integridade de seus familiares, caso este
venha a abrir a boca em uma delação premiada do tanto de coisas que sabe, quem
sou eu, Marcelo, um mortal, para achar que nada aconteceria comigo por ter
adquirido poder por meio de um prêmio, o fato de ter dinheiro em abundância?".
Ter dinheiro traz consigo
poder, ter poder custa muito caro, cobra-se um alto preço. Engana-se quem pensa sr o poder gratuito.
Pessoas que exercem isso
com frequência como o ex-Deputado Federal e o ex-Presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, mesmo sendo este calejado, tendo muita experiência e tendo todos os
macetes de como lidar com situações limites, amedrontam-se ao saber que
problemas surgirão a partir de sua atual situação, quem sou eu com minha Mega-Sena de 42
milhões?
Nada.
Agora um homem que tinha a
capacidade d articulação como Cunha tinha, Presidente da câmara dos Deputados,
um dos responsáveis pelo Impeachment da ex-Presidente Dilma, que segundo
especialistas consultados pela BBC, possui estimados mais de 5 milhões de
francos suíços (US$ 5,1 milhões), espalhados por quatro contas na Suíça, que pagou uma festa de casamento para sua
filha ao custo de R$ 266 mil, em documento de abertura de uma, eu disse uma só destas
contas na Suíça, a Triumph, no Banco Suíço Julius Baer, em 2007, o peemedebista
declarou possuir um patrimônio de US$ 20 milhões.
A coisa não para por ai.
A declaração feita por
Cunha ao IR foi de R$ 1,2 milhão de reais, o que já seria uma bela bolada.
Em 2008, Cunha abriu outra
conta, a Orion SP, no Banco Merril Lynch na Suíça (atual Julius Baer) e a
própria instituição financeira avaliou seu patrimônio em US$ 16 milhões
“proveniente de investimento no mercado imobiliário e na bolsa de valores”.
Naquela ocasião, o
ex-parlamentar declarou que o patrimônio seria de US$ 11 milhões.
“As demais contas suíças
foram fechadas pelo ex-deputado federal, sendo que permanece oculto um
patrimônio de aproximadamente USD 13 milhões”, diz a gerente do Merril Lynch, responsável
pela conta de Cunha no Banco Orion, em Nova York.
Agora pegue parte do que
coloquei aqui e pense que esse pode ser só um pedacinho que não pode ser sequer
chamado de ponta do iceberg do que Cunha tem, podendo seu patrimônio ilegal ser
53 vezes maior.
Imaginem quanto dá isto?
Impossível saber, só calculando e o número final será absurdamente surreal.
Desta forma, começo a
pensar que realmente este homem precisa se preocupar com sua mulher e filhos.
Ele teme pelo que sabe,
deve temer em falar o que sabe, tudo em decorrência das teias que prendeu a
certas pessoas, articulações feitas, pedidos, favores feitos, favores pedidos,
enfim, tudo que engloba ambiente de “tramas políticas” que são comuns em nossa
política, coisas que podem se tornar trágicas para Cunha, na medida em que
quando dinheiro se tem, mais poder ele tinha e mais perigoso se torna a sua
delação para ele e para os seus, como já se sabe.
Depois de tudo isto, chego
a uma conclusão bem simples:
A diferença entre o que
delirei para mim e o que Eduardo Cunha possuía, para mim não é problema.
Problema é estar preso fisicamente, psicologicamente e intelectualmente que é a atual situação de Eduardo Cunha.
Em sendo assim, respondo
que depois de tudo acima, ainda optaria em ser o vencedor da Mega-Sena, nada
mais.
texto: Marcelo Ferla
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