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domingo, 7 de agosto de 2016

A II Guerra e os animais dos judeus.


Judeus revelam o que os nazistas fizeram com seus cães e gatos.
Fátima ChuEcco/Redação Anda – Agência de Notícias de Direitos Animais.

Garota judia e cachorro. Foto do arquivo do blog “ofthingsforgotten”
A Anda, em uma matéria especial, foi atrás de uma parte da história não contada, mas que também causou muito sofrimento aos judeus durante a ocupação nazista: o destino de seus animais que, na época, eram em sua maioria cães e gatos. Relatos de sobreviventes residentes no Brasil mostram que, além de todo o sofrimento ao deixar suas casas, empregos e família rumo aos campos de concentração, houve ainda a dolorosa perda dos animais que faziam parte de suas vidas. Muitos judeus eram crianças e tinham laços afetivos fortíssimos com seus amigos de quatro patas.
Mas não houve trégua. 
Cães e gatos foram executados na frente dos judeus, abandonados dentro das casas, escondidos em porões, levados para morte induzida e, com alguma sorte, clandestinamente acolhidos por famílias não-judias. 
É provável ainda que cães e gatos tenham servido para testar as câmaras de gás antes do genocídio ter início e que também tenham servido a experimentos médico-científicos pelos nazistas. 
Esse é um capítulo da nossa história que vale a pena conhecer. E mais:
Quem era o gato de Anne Frank? E será que Hitler gostava mesmo de animais ou apenas de seus próprios cães? 
O legado: assassinato em massa de judeus teve outras consequências, décadas depois, inspirando o funcionamento das câmaras de gás ainda presentes em muitos centros de controle animal do mundo.
Embarque nessa matéria exclusiva que traz à tona um capítulo do nazismo que ficou esquecido… até agora.

Garota judia segura gato. Foto do arquivo do blog “ofthings forgotten”
Judeus foram proibidos de ter animais
Os judeus já vinham sofrendo muitas restrições desde a década de 30 como ouvir rádio, ir ao cabeleireiro, cinema, concertos, museus, andar de ônibus, passear nos parques, ter máquinas de escrever, frequentar bibliotecas e restaurantes. 
“Para fazer suas compras, os judeus dispunham de apenas uma hora, sendo que não podiam adquirir peixe, café, chocolates e frutas”, comenta em seu diário, transformado em livro (e best seller) o professor de literatura Victor Klemperer (falecido em 1960).
Em 1942 veio mais um golpe. 
Eles foram proibidos de manter animais domésticos. 
A casa do professor foi confiscada. 
Ele, que era nascido na Alemanha, mas filho de judeus, e a mulher Eva conseguiram salvar apenas algumas peças da mobília e seu amado gato chamado Muschel. 
Foram então viver num abrigo na cidade alemã de Dresden para pessoas de casamento “misto” que, na linguagem dos nazistas, eram aqueles em que apenas um dos cônjuges tinha descendência judia.
Em maio daquele ano ele anotou no diário: 
“Encontrei a senhora Ida Kreidl durante as compras e ela me contou o mais recente decreto dos nazistas. 
A partir de agora, os judeus e quem mora com eles estão proibidos de manter animais domésticos (cães, gatos, pássaros). 
Os animais também não podem ser dados a terceiros. 
É a sentença de morte para nosso Muschel, com quem convivemos há 11 anos. 
Amanhã ele será levado ao veterinário para poupar-lhe a morte coletiva”. 
O professor conta que a morte do gato foi um grande choque para eles: 
“Outra pessoa não entenderia nosso martírio, poderia achar ridículo ou até imoral já que há tanta gente sofrendo”.

O diário de Victor Klemperer tornou-se um importante registro sobre o nazismo. Foto: Divulgação
Relatos exclusivos à Anda
“Meu pai teve que matar nosso cachorro”, conta Klara Kielmanowicz que estava com 10 anos de idade quando teve início a perseguição aos judeus. 
Ela estava atrás de uma trincheira com a família tentando se esconder dos soldados nazistas, mas seu cachorro, de nome Tufi, não parava de latir. 
“Foi então que meu pai matou meu cachorrinho com um tiro para não sermos descobertos. 
Eu não vi ele ser morto, mas vi meu pai e irmão o levarem para outro canto. Soube depois que o mataram. 
Lembro que chorei muito”, conta a sobrevivente que reside no Brasil.
Ela diz que na época ouviu falar que um vizinho, ao ter a casa abordada pelos nazistas, teve seu cachorro executado porque ele também começou a latir sem parar. 
“Meu pai vendeu a casa na cidade e fomos para um sítio onde havia cavalos, vacas e galinhas, mas ficou tudo lá. Inclusive, na cidade, quando os judeus tinham que deixar suas casas, largavam também os animais e todos os seus pertences. 
As pessoas entravam nas casas e pegavam o que queriam, inclusive os bichos de estimação. 
Não eram só os soldados que invadiam as casas, mas qualquer pessoa”, relata.

Anne Frank com cachorro anos antes de ter que viver em esconderijo. Foto: Domínio público web.
Michele Schott, de 81 anos, é francesa, mas diz que seu pai também sofreu perseguição por parte dos nazistas por ser católico. Ela tinha apenas seis anos em 1940 e conta que várias crianças judias foram acolhidas por famílias francesas, belgas e holandesas enquanto seus pais eram levados para os campos de concentração: 
“Essas crianças não eram adotadas, mas ficavam sob a guarda dessas famílias para o caso de seus pais retornarem. Junto com as crianças certamente os animais de estimação também eram acolhidos. 
Sei disso porque nunca vi, quando criança, animais andando abandonados nas ruas. 
Tenho certeza que quem acolhia as crianças também acolhia os bichos”, diz.
Ela conta ainda que era tudo feito secretamente para os alemães não levarem as crianças embora. 
Segundo Michelle, na França, essas pessoas que ficavam com as crianças eram chamadas de “les justes” ou “os justos”
A entrevista com Klara e Michelle foram conseguidas com a ajuda da equipe da professora Maria Luiza Tucci Carneiro, coordenadora do Núcleo de Estudos Arqshoah junto ao LEER/USP – Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação que atualmente tem 250 testemunhos gravados. 
O atual projeto do LEER chama-se “Vozes do Holocausto” e irá produzir vários vídeos com fins pedagógicos. 
Mais informações em www.arqshoah.com.br

Judeu feliz com seu cachorro. Foto do arquivo do blog “ofthingsforgotten”
Extermínio de cães e gatos
Uma rara reportagem sobre os animais do holocausto no blog “ofthingsforgotten”(em inglês) diz que, em 1940, vários cães foram executados num gueto judeu devido a um suposto surto de raiva anunciado pela “polícia sanitária alemã”
Depois disso ficou estritamente proibido ter animais nos guetos e a punição seria tanto para quem estivesse abrigando o cachorro quanto para outros moradores da mesma casa. 
“Na grande fome que se seguiu com racionamento de comida e superpopulação do gueto, animais vadios foram por vezes consumidos pelos habitantes esfomeados”, é relatado no blog.
E teve coisa pior. 
Em janeiro de 1942, todos os judeus de uma cidade da Lituânia foram obrigados a levar seus animais de estimação para uma pequena sinagoga. 
Lá os animais foram mortos pelos soldados alemães e suas carcaças deixadas para apodrecer durante meses em local público. 
Há, segundo a reportagem, relatos sobre cães e gatos atirados pelas janelas de prédios por soldados nazistas como forma de aterrorizar os judeus.
Por ocasião do decreto de 1942 que proibia manter animais, os judeus tiveram que entregá-los aos alemães para serem induzidos à morte. 
Como alternativa podiam apresentar certificado de que o animal havia sido morto numa clínica veterinária – como fez o professor Klemperer. 
Consta que os animais recolhidos foram mortos por uma Associação de Proteção Animal Alemã num hospital judeu e houve manifestações com pessoas portando fotos onde apareciam com seus bichos. 
Helen Lewis, uma sobrevivente do Holocausto, conta no blog que testemunhou uma cena comovente em que num posto de coleta de animais, tutores, com seus cães e gatos presos em gaiolas, choravam muito.

Hitler com a cadela Blondie. Foto: Domínio público web
Hitler gostava de animais?
Com toda a matança de animais de judeus e provável utilização desses animais para testar as câmaras de gás onde mais tarde seriam levadas também pessoas, é possível deduzir que Hitler gostava apenas de seus próprios cães. 
A cadela Blondie, uma pastora alemã que aparentemente era a preferida dele, dormia no quarto do comandante nazista no bunker subterrâneo. 
Ela deu à luz a cinco filhotes.
Percebendo sua derrota, Hitler deu comprimidos de cianureto para Blondie a fim de saber se as pílulas também funcionariam com ele. 
Ao vê-la morrer percebeu que poderia cometer suicídio. 
O sargento Fritz Tornow cuidava de todos os cães do bunker e, a mando de Hitler, matou todos os filhotes de Blondi e também os cães de Eva, companheira de Hitler. Veja aqui.
No entanto, há mais coisas para se descobrir sobre Hitler e sua relação com os animais. 
Uma coisa é certa: ele não evitava carne por conta de “respeito” aos animais e sim porque sofria de graves males estomacais e intestinais que o obrigavam a ingerir preferencialmente pratos leves, frutas e verduras. 
E parece que Hitler tinha planos mirabolantes. 
O pesquisador Jan Bondeson, autor do livro “Amazing Dogs: A Cabinet Of Canine Curiosities”, diz que os oficiais nazistas recrutavam cachorros para uma escola próxima à cidade de Hanover, para serem treinados. 
O objetivo era ensinar os cães a falarem e lerem. 
A escola foi inaugurada no início da década de 1930 e permaneceu em funcionamento durante a Segunda Guerra. 
Será que Hitler gostava de cães desde que não tivessem convivido com judeus? Veja aqui.

Moortje era a gata de Anne Frank. Foto Site Puissance Zelda
O gato de Anne Frank
Quem conhece a história de Anne Frank, que ficou escondida dos nazistas num anexo ou sótão do prédio onde seu pai tinha empresa em Amsterdã (Holanda), sabe que no esconderijo havia também um gato, mas ele não era da garota. 
O prédio tinha dois gatos, Moortje, uma gata preta que era da família de Anne (vide foto) e foi abandonada no momento em que a família teve de se esconder, e Mouschi que era mantido no edifício para afastar os ratos e circulava por toda parte.
Mouschi chegou ao anexo pelas mãos de outro “hóspede” foragido e lá ficou por dois anos até o dia em que os nazistas descobriram o cativeiro. 
O gato aparece no filme “O Diário de Anne Frank”, de 1959, baseado nas páginas escritas pela adolescente. 
É um dos clássicos mais assistidos no mundo todo. 
A história, é também contada pelo próprio felino no livro “Mouschi – O Gato de Anne Frank “, de José Jorge Letria. 
A obra, que é conduzida por meio de ilustrações, narra como um gato assistiu ao nazismo tendo como companheira uma garota que sonhava ser jornalista.

Anne Frank ficou escondida em sótão com outras pessoas e um gato. Foto: Domínio público web.
O livro “Faithful Friends: Holocaust Survivors’ Stories of the Pets Who Gave Them Comfort, Suffered Alongside Them and Waited for Their Return”, escrito por Susan Bulanda, sobrevivente do Holocausto, reúne histórias de animais que sobreviveram e outros que até reencontraram seus tutores quando a guerra chegou ao fim. 
São relatos de homens e mulheres que eram crianças durante a Segunda Guerra Mundial. 
Eles contam como perderam pais, irmãos e amigos nos campos de concentração e como os animais lhes deram conforto e coragem criando uma conexão, ainda que em pensamento, com tempos mais felizes, ajudando-os a não perderem a esperança. Veja mais aqui.

Livro conta história de animais domésticos sobreviventes do Holocausto. Foto: Divulgação
O legado
As câmaras de gás para exterminar animais usadas até hoje, inclusive, em países desenvolvidos como EUA, Japão e vários da Europa, são um legado do Holocausto. 
Trancados em cabines metálicas os animais são submetidos a monóxido de carbono – um gás que também foi utilizado para matar judeus. 
“Até 1941, oficiais da SS (a polícia militar de Hitler) eliminavam pequenos grupos de prisioneiros em caminhões de transporte, trancando-os em caçambas seladas que recebiam monóxido de carbono do escapamento. 
A técnica foi adaptada a salas trancadas e logo a fumaça de caminhão foi trocada por pesticida, mais barato e eficiente”, diz matéria da revista Mundo Estranho.

Câmaras de gás tiveram inspiração no holocausto e são usadas até hoje. Foto: web
“O produto Zyklon-B era usado principalmente para eliminar piolhos e insetos dos presos. 
Em Auschwitz, para não desesperar as vítimas, o veneno foi manipulado quimicamente para não emitir odor. 
O Zyklon era colocado em um compartimento de metal para ser aquecido e gerar vapor. 
Após 30 minutos de queima, com todos nas câmaras já mortos, os exaustores sugavam o gás, permitindo a retirada dos corpos. 
O gás venenoso, baseado em cianeto de hidrogênio, interferia na respiração celular, tornando as vítimas carentes de oxigênio. 
O resultado era morte por sufocamento após crises convulsivas, sangramento e perda das funções fisiológicas. 
A morte era lenta e dolorida. Em média, da inalação ao óbito, o processo durava 20 minutos”. Leia mais aqui.
As câmaras de gás que executam cães e gatos são normalmente pequenas, como uma cabine de máquina de lavar roupas, e levam os animais ao desespero exatamente como eram levados os judeus. 
Por algum motivo, algumas pessoas, cães e gatos conseguem sobreviver, inclusive, sem sequelas, o que leva a crer que vários judeus podem ter sido incinerados vivos assim como são, ainda hoje, muitos animais submetidos as câmaras de gás.

Quentin sobreviveu à câmara de gás e faz campanhas contra o método nos EUA. Foto: Randy Grim
Em duas recentes matérias exclusivas da Anda, foram levantados dois casos de animais que saíram ilesos das “câmaras da morte” e continuam vivos. 
Uma vez adotados tornaram-se símbolo da luta contra as câmaras de gás. Um deles é o cão Quentin cuja história pode ser vista aqui. 
O outro caso é o da gata Andrea que, além de sobreviver ao gás, também ficou presa no freezer por quase uma hora. 
A incrível história de Andrea pode ser vista aqui.

Gata Andrea resistiu ao gás e também ao freezer. Foto: Divulgação
post: Marcelo Ferla

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