Tinha os olhos bem azuis, as roupas eram todas escuras, de forma que era indecifrável se usava um vestido cheio de camadas ou uma camisa larga e uma saia.
Parte da família, nos visitava no hospital por toda a primeira semana de vida da minha segunda filha e observava com uma certa prepotência nossa dificuldade para lidar com a recém-nascida.
Usar chupetas facilita sua vida imediatamente, mas complica sua vida pelos próximos três anos.
Não vamos usar chupetas. Vamos conseguir fazer a criança parar de chorar. Meu deus, ela está chorando há horas. É a sua vez de segurar. Balança assim, ó. Não, não.
Não chora, neném. Upa, upa.
Tirou da bolsa uma chupeta e um pote de funchicória, colocou o pó no bico e deu pra criança. Silêncio imediato.
"Os pediatras passam e a chupeta fica", ela disse.
Foi um ar fresco na nossa cara, aquele momento. Um alívio. E, como previsto, um estorvo para o resto da vida.
"Tu não sabia que bico deixa os dentes tortos?", pra, um segundo depois, colocar na boca o seu próprio.
Outra vez, andando na rua de bico na boca, passou um menino e apontou pra minha filha: "Olha, pai. Um neném".
A menina tirou a chupeta da boca, disse pra eu guardar no bolso e foi tirar satisfação: "Quem é neném?! Quem tu chamou de neném?!".
Fomos até o shopping e entregamos o bico pro bom velhinho. Na volta pra casa ela já gritava, como uma viciada:
"Eu tô com muita vontade! Não consigo controlar, pai! Eu preciso de um bico!". Adquirimos uma chupeta reserva.
Combinamos que só será usada em casos extremos de abstinência.
Minha filha disse que vai largar, só precisa de um tempo.
Vamos apoiá-la nesse momento difícil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.