Cemitério
Clandestino de Presos Políticos
– Dom Bosco.
Imagem: Claudio Rossi / Agência
O Globo / 1990.
O Ministério Público
Federal (MPF) recebeu no último sábado (15) as 614 ossadas que estavam em vala
clandestina do cemitério de Perus, na zona noroeste da capital paulista.
Os
restos mortais de possíveis desaparecidos políticos da ditadura ficarão
armazenados em sala-cofre no subsolo do MPF em São Paulo até que a reforma no
laboratório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) esteja concluída, e
as ossadas possam ser transferidas para a instituição.
No laboratório da
universidade, já há 433 ossadas, o que fez atingir a capacidade máxima do
local, que só deve ser ampliada após a reforma.
O conteúdo de 385 caixas já foi
aberto e verificado.
Por meio de análise antropológica, arqueólogos estimaram o
perfil biológico das ossadas, como sexo, estatura, faixa etária e possíveis
traumas.
Do total já verificado,
85% são ossadas do sexo masculino.
Existe também um percentual de 5% de
crianças.
Em 22% das caixas havia mais de um indivíduo, o que significa que o
número de pessoas a serem identificadas pode ser maior que o estimado.
Participam do trabalho de identificação arqueólogos, médicos, dentistas e
geneticistas da Unifesp.
Laboratório
Segundo o ministro da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Pepe Vargas, o
ministério está em processo de contratação de um laboratório internacional que
também se dedicará à análise genética das ossadas.
O valor a ser gasto gira em
torno de R$ 2 milhões.
O Cemitério Público
Municipal de Perus foi usado durante a ditadura para enterrar secretamente
militantes políticos assassinados e outras vítimas de violência no regime.
“O
direito à memória é fundamental e deve ser garantido pelo Estado e pela própria
sociedade.
A busca da verdade é tarefa fundamental de um estado democrático.
Isso é fundamental tanto para que a sociedade compreenda a forma como a
repressão se estabeleceu, quanto para que isso não se repita”, declarou o
ministro.
O cemitério foi inaugurado
em abril de 1971.
Algumas ossadas foram descobertas na década de 1990 pelo
Departamento de Medicina-Legal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em 1992, foram identificados dois presos políticos cujos restos mortais estavam
na vala clandestina de Perus: Dênis Antônio Casemiro e Frederico Eduardo Mayr.
Naquela época, foram encontradas mais de mil ossadas enterradas na vala clandestina,
colocadas em 1.049 caixas.
Em 2014, foram
transferidas 433 ossadas para o laboratório da Unifesp, mas a permanência das
614 ossadas no cemitério ainda preocupava o Grupo de Trabalho de Perus.
Na
sala-cofre do MPF, segundo a procuradora regional da República Eugênia Gonzaga,
que também é presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos, as ossadas ficam seguras e armazenadas com a climatização e umidade
adequadas.
A estimativa é que a
identificação dos restos mortais feita pela Unifesp e pelo órgão internacional a
ser contratado termine até o final de 2016.
(Assista abaixo
vídeo-documentário sobre as ossadas do cemitério do Perus).
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