Museu do Terror. Cinco
décadas de opressão em Budapeste.
Por
Carol Saraiva
Para começar a falar desse
museu tão especial eu vou ter que dar uma pincelada na história da Hungria,
coisa simples, rápida e despretensiosa.
Todo mundo sabe que
durante a Segunda Guerra Mundial alguns países se deram mal, certo?
Mas alguns
países de deram MUITO mal e esse é o caso da Hungria.
A sua aliança com a
Alemanha custou a morte de 40% da sua população, milhares de judeus foram
mandados para campos de concentração e as belas e ricas cidades que compunham o
país viraram destroços.
Se isso não fosse triste o suficiente, com o fim da
guerra o mundo foi dividido, a Hungria
passou para o domínio soviético e ficou décadas sob a ditadura comunista. Mais
um período negro de repressão, prisões, mortes e muito pânico.
Representando todo esse
massacre histórico, em Budapeste, capital e maior cidade da Hungria,
encontramos um prédio importantíssimo, ele foi a sede do partido fascista
e também da polícia soviética, acredita?
Por causa das suas raízes, esse edifício se tornou um dos museus mais
importantes e intensos do mundo, mas que precisa ser conhecido e digerido da
melhor forma possível.
Então, venha comigo visitar as entranhas do terror nesse
edifício que exala crueldade.
O prédio é imponente e
super bonito, a projeção da palavra “terror” nas paredes chama a atenção de
qualquer um que passeia pela cidade.
Mas o que realmente impressiona é que
edifício é inteiro decorado com fotos de pessoas que morreram durante a guerra.
Os retratos são muito delicados e parecem fazer parte da rotina dos moradores
de lá, como um altar para entes queridos.
Quando estava entrando no museu
reparei que uma velhinha estava rezando e colocando flores para um dos retratos
da parede, juro, quase sentei e chorei com ela, foi uma das cenas mais
chocantes que eu já vi.
As vezes perdemos a noção de como esse passado
devastador é recente.
Já dentro do museu, outro
soco no estômago. Bem na entrada, você vê uma parede enorme, toda decorada com
fotos de vítimas do terror mencionado,
logo na frente um tanque de guerra real e uma fonte de onde escorre por todos
os seus lados um óleo escuro e denso.
Tudo no mais bizarro e matador silêncio.
A luz, o cheiro, e esse silêncio fazem com que entremos no clima do que vamos
ver.
Nosso coração fica apertado e nos sentimos totalmente vulneráveis,
exatamente como essas vítimas deviam estar.
O museu tem 3 andares e
você vai ver materiais exclusivos sobre todo esse período: vídeos, depoimentos,
fotos das cidades totalmente destruídas, uniformes, documentos, salas intactas
e, o que eu acho o mais legal, muitas instalações.
Quem produziu o museu
pensou brilhantemente em como fazer as pessoas viajarem no tempo e caírem no
meio desse caos de Budapeste.
Tem coisas que eu acho geniais, entre elas a cena
do Ferents Salashi, o líder do regime nazista húngaro é retratado num fatoche
com o rosto imóvel, nele é projetado um filme do mesmo, levando a cena ao
máximo da realidade.
Outra coisa super criativa é a sala que mostra a posse dos
soviéticos, existe um cabide que fica girando com o uniforme nazista e o
soviético e no mesmo local você vê um livro de assinaturas com um termo mais ou
menos assim:
“Eu, que antes era nazista, e cometi vários crimes para a
humanidade, a partir de hoje, dia tal, ingresso no partido comunista para me
reabilitar deste passado. Prometo que lutarei pela igualdade, justiça”…
Muito
doido. Também adoro a sala secreta escondida na biblioteca e, como publicitária,
outro ponto alto é a sala da publicidade, acho aquilo incrível.
Bom, não vou
contar mais para não estragar as inúmeras surpresas do passeio.
Quando você passar por
todas as salas, ficar chocado com tanta violência e, ao mesmo tempo, ficar
vidrado pelo arquivo que esse museu conseguiu reunir, estará preparado para o
próximo passo do passeio: o elevador.
Pegue o mesmo e abra a sua mente para o
que está por vir.
O elevador desce até os
porões das ditaduras, no começo tudo parece normal, só que, de repente, as
luzes começam a piscar num clima de suspense e rola um vídeo, um depoimento de
um sobrevivente narrando como era a prisão e todos os preparativos para quem
seria executado na mesma. O elevador começa a baixar bem lentamente até a
masmorra. Tudo é de vidro para conseguirmos ver todos os detalhes.
Chegando no subsolo você
vai entrar na prisão usada durante os dois períodos, vai passar por várias
celas e sentir a agonia de se viver lá, algumas têm o teto super rebaixado,
outras são molhas, outras minúsculas.
Nas paredes, fotos dos presos, muitos
artistas que pareciam inofensivos e presos políticos. As salas de tortura, de
pena de morte e as solitárias completam esse cenário sinistro.
Sabe, tem muita gente que
acha esse museu muito pesado, exagerado e tal, mas eu aconselho todo mundo a
dar uma visitada na história negra da Hungria, quanto mais sabermos e sentirmos
o que eles passaram, menos vamos repetir esse comportamento atroz no futuro.
O
Museu do Terror é, no mínimo, inesquecível, um passeio que marca a vida de
qualquer um.
Na saída do museu você vai
dar de cara com escultura que representa a Cortina de Ferro, expressão usada
para designar a divisão da Europa em duas partes, a Europa Oriental e aEuropa
Ocidental durante a Guerra Fria.
Frequentemente há boas
exposições temporárias no Museu do Terror, vale conferir. Para mais
informações, visite o site.
Endereço e Horário:
Andrássy utca 60, metrô linha 1 para Vörösmarty utca, aberto ter/sex 10h-18h,
sáb/dom 10h-19h30
Entrada: 1.200/600Ft
(estudante), mais 1.000Ft com audioguia.
post: Marcelo Ferla
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