Ação que pleiteia
autorização para aborto de bebês com microcefalia divide especialistas.
Médico
contrário ao procedimento alega que danos ao sistema neuropsicomotor podem ser
leves, e defensor da interrupção da gestação afirma que será dada às gestantes
a possibilidade de optar.
Por:
Larissa Roso
A iniciativa do grupo
liderado pela antropóloga Debora Diniz, que prepara uma ação pleiteando, junto
ao Supremo Tribunal Federal (STF), a autorização para o aborto em casos de
microcefalia, divide a opinião de especialistas na área da saúde.
Marcelo Porto,
vice-presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, coloca-se
contra a possibilidade de interrupção da gestação de um bebê diagnosticado com
a má-formação que provoca comprometimento neuropsicomotor e faz um paralelo com
a anencefalia.
Os casos de fetos com ausência total ou parcial do encéfalo
tiveram o aborto liberado pelo STF em 2012, na culminância de um processo
iniciado, também por Debora, em 2004.
– Temos de ter muito
cuidado com esse tipo de postura.
Microcefalia não é anencefalia. O anencéfalo
não tem a menor perspectiva de vida.
A microcefalia tem diferentes graus. Pode
ter um caso de microcefalia com um grau de comprometimento extremamente grave e
outro com um grau leve – explica o
pediatra e neonatologista. – Se generalizar,
transforma-se em algo perigoso: poderia ser permitido o aborto de uma criança
que talvez tivesse um grau de de sequela mínimo – exemplifica.
Thomaz Rafael Gollop,
coordenador do Grupo de Estudos sobre o Aborto (GEA) e referência na discussão
do tema no Brasil, é favorável ao movimento de Debora.
Livre-docente em
genética médica pela Universidade de São Paulo (USP), o ginecologista e
obstetra acredita que a criança e a família não devem ser penalizadas por algo
que não pôde ser previsto ou evitado.
– Na microcefalia há uma
perspectiva de sobrevida, que é diferente de vida, mas são crianças com
gravíssimas limitações do desenvolvimento neuropsicomotor, que terão uma vida
altamente comprometida.
Trata-se de uma lesão cerebral que não se vai conseguir
corrigir.
É uma agressão à saúde do feto – argumenta Gollop.
O médico destaca ainda que
o que está em discussão é a possibilidade de se permitir o aborto à mulher que
espera um bebê com microcefalia – a mãe
poderá optar ou não por esse recurso.
– Precisamos de uma
discussão democrática.
Ninguém está dizendo que as mulheres devem interromper a
gestação. Estamos dando uma alternativa.
post: Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.