Um dia, fiquei na agência até mais tarde e resolvi voltar pra casa de táxi. Tudo ia bem, até que um carro fechou a frente do táxi onde eu estava e deu uma leve encostadinha. O carro da frente deveria ter parado, mesmo intuindo a ausência de dano material, mas não foi o que aconteceu. Ele se mandou.
E o motorista do meu táxi, macho, se mandou atrás dele.
Começava assim uma perseguição pelas ruas de Porto Alegre.
Nenhum deles respeitava os sinais fechados, era uma roleta-russa, e eu rezando no banco de trás, que nessa hora todo mundo deixa de ser ateu.
Implorava para o motorista me largar em qualquer canto, já estava com o dinheiro devido nas mãos, mas ele nem ouvia, relinchava.
Quando dei por mim, estávamos num bairro ermo, com pouca movimentação. O carro da frente dobrou numa estrada de terra mal iluminada, e o meu táxi na cola. Até que o fugitivo parou, e meu táxi parou alguns metros atrás.
Foi quando meu prevenido motorista levantou o tapete do chão do copiloto, onde não havia assento (quem nasceu no século passado lembra) e retirou dali um facão.
E saiu porta afora disposto a resolver a pendenga da forma menos civilizada possível. Saí porta afora também, mas correndo na direção oposta, à procura da avenida pavimentada pela qual recém havíamos passado.
Escutei uns gritos ao longe, mas não fiquei para recolher os cadáveres.
Logo reencontrei o asfalto, peguei outro táxi e voltei para casa aos soluços.
O dinheiro que eu ainda trazia em mãos serviu para pagar a segunda corrida.
Pedi a ele para levá-la com mais cuidado, e deixei claro que logo entraria em contato para saber se ela havia chegado bem. Meia hora depois trocamos um WhatsApp: ela disse que minha recomendação não havia servido pra nada, mas ao menos estava a salvo.
Autoridade nunca foi o meu forte.
Que regulamentem o Uber de uma vez.
E minha cordial saudação a todos os taxistas que não são nervosinhos.
post: Marcelo Ferla
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