PSICANÁLISE,
MACROPOLÍTICA, RELIGIÃO E O ‘’PONTO MORTO’’.
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Imagem publicada - Sigmund Freud em 1938, já em Londres, após ser resgatado das garras cruéis e mortais do Nazismo, mas mostrando na face o efeito de mais de 30 cirurgias para o tratamento de seu câncer de palato e da mandíbula direita. Está de óculos redondos, de olhar firme e sereno, enfrentando todas as barreiras que lhe foram interpostas. Está sem o tradicional charuto na boca. A barba já está totalmente branca e o rosto emagrecido, por "sua" neoplasia. Apenas um homem, um homem visionário e persistente. Entretanto, por sua postura, não foi e nem deveria ser vilipendiado nem pela política e muito menos pela religião. Ambas não responderam ao seu desejo de outro futuro diante do mal estar na civilização da humanidade. (fotografia com a letra de Freud abaixo dela, com sua assinatura junto com a data 1938)
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“Se eu governasse um povo
de judeus, restabeleceria o templo de Salomão” (Napoleão, citado por Gustave Le
Bon – Psicologia das Multidões, 1895).
E, a Universal, que não é
a do cinema ou da tv, e cada dia mais utiliza de todos os meios e mídias, mas
das salvações histriônicas, reconstruiu e se “fingiu” e mimetizou como se
judaica fosse lá em São Paulo...
O Napo Edir demonstrou-se ao seu ‘povo eleito’
e ungido. E foi louvado?
Após uma notícia sobre o
uso da Psicanálise para fins de “evangelização” fui lançado novamente a um tema
que pesquisei. Estas investigações e pesquisas foram a base de minha aprovação
no Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
Lá nos anos 70, mais precisamente em 1979,
com a tese: Psiquiatria, Psicanálise e Religião podem coexistir?
Repito agora, nesses novos
tempos pastorais, a interrogação. Apenas modifico com a inclusão da palavra
POLÍTICA. E insistirei na busca de outra resposta: macro política, psicanálise
e religião podem coexistir?
Segundo a matéria
publicada recentemente há, para alguns oportunistas e mistificadores, uma nova
utilidade dos conhecimentos descobertos e inventados por Sigmund Freud.
Os pastores evangélicos utilizariam
psicanálise para “cativar fiéis”. Digo que gostei dessa provocação, pude
retomar um tema já estudado, e, mais ainda demonstrar a ambivalência que o
termo “cativar” nos pode significar.
Para mim não coexistimos e muito menos
compartilhamos quando presos, iludidos, amarrados a quaisquer messianismos.
Torna-se cativo ou cativar
fiéis pode ser também aproximado de cativeiro. Um local, que pode se o Templo
de Salomão, onde mantem-se aprisionados e seduzidos milhares de pessoas. Uma
massa ávida da salvação e de milagres. Um grupo humano que para O Futuro de uma
Ilusão (Freud, 1927) pode estar buscando a repressão:
“Parece mais provável que
cada cultura deve ser construída em cima de ... coerção e renúncia às pulsões.
".
Não é por menos que alguns
Pastores, como Mala&Faia, Marco Feliciano e cia, fazem uma cruzada
homofóbica, tornando-se, neuroticamente, histéricos e vociferadores diante dos
avanços dos direitos humanos para as diversidades sexuais no país.
Como ocupam,
cada dia mais, cargos de poder político torna-se necessário buscar o seu
utilitarismo presente e futuro, inclusive nos discursos eleitorais recentes.
Assim as Macropolíticas e a Religião passam a
andar de braços dados. Quem sabe não estamos vendo aí “o retorno do reprimido”?
Tenho a certeza científica de que, historicamente, desejamos nos nossos âmagos
essa forma de controle. Entretanto também, em alguns corpos e mentes, as
repudiamos, a elas estamos resiliente e ativamente combatendo.
Uma forma de controle que
passa tanto pelas sutis biopolíticas assim como novos micros lugares onde os
poderes serão exercitados e produzidos (Foucault).
Reprimimos tanto quanto
fomos reprimidos pelo Estado, como o caso brasileiro dos Anos de Chumbo, que
ainda passam como verdade alguns discursos políticos de salvação da Ordem e do
Progresso. Oferecem e prometem um lugar neutro e apolítico.
Este é o discurso que mais
temo. Se procurarmos suas raízes histórico políticas encontraremos o “Vital
Center” (Arthur Schlesinger, 1948). Um modelo de passeia entre a democracia e
totalitarismo, hoje, também próximo dos fundamentalismos, que foi chamado de
“meio da estrada”.
O modelo que foi abraçado
por Ronald Reagan e Bill Clinton, tentando eliminar as competições entre o
liberalismo e o conservadorismo, mas mantendo, para tal, uma postura “em cima
do muro”, nem esquerda, nem direita. Muito pelo contrário uma forma de
governabilidade que geraria e gerou um “ponto morto”. O ponto que não é de
mutação, e, mesmo negando, é conservador e hipercapitalista.
Esse ponto foi também o
que gerou algumas das crises econômicas que saíram do bojo do Império, nascente
histórica de novas recessões, novos horrores econômicos.
Horrores que
justificam e justificaram a busca de posturas fascistas ou totalitárias, ou em
sua máscara usada e velha com o acréscimo do termo NEO.
O Neoliberalismo aí se
cultiva, e, a muitos e muitas, cativa. Os “pontos mortos” são areias movediças
para a História.
Há, então, que compreender
e buscar respostas diante das novas estratégias de controle seja pela política,
aqui como bio, das novas ondas de fundamentalismo religioso ou até mesmo pelos
usos midiáticos ou evangelizadores da Psicanálise, mais uma vez anunciados.
Freud não teve a pretensão
de que a psicanálise pudesse ser uma alternativa à política. Entretanto, deve
se sentir ofendido pelos que usurpam sua Terra Psicanalítica com bíblias nas
mãos. Ele, com certeza, se sabia e se sentia um judeu, mas não um rabino.
Apropriações ideológicas
ou mistificadoras de quaisquer conhecimentos devem ser por princípio
rechaçadas.
O que faria Sigmund entrando ou participando de uma festa de
reinauguração do Templo da Universal?
Duvido que muitos achem que ele
aceitaria. Eu digo que não.
A sua vida e obra caminham em outra direção, buscam
solver outros mistérios, outras verdades.
Os novos vendilhões seriam expulsos
do Templo? Ou com o Tempo?
Segundo Chemouni:”...
Freud era um explorador modesto. Elaborou com tanta paixão a ‘sua’
psicanálise que, mesmo se tivesse
desejado, não teria tido tempo para entregar-se a outras tarefas”. E, vivendo
em uma virada de séculos, com o recrudescimento do antissemitismo, a Primeira
Guerra Mundial, a Revolução Comunista e muitos “ismos” surgindo, não se tornou
um ‘sionista’.
Hoje, acho eu, ele não
autorizaria um massacre genocida da Palestina para que a Declaração de Balfour
(1897) em seu objetivo de “encorajamento da colonização da Palestina por
fazendeiros, camponeses e artesãos (judeus)”, utilizasse a guerra e a invasão
como recentemente tele assistimos. Freud desconfiava da política. Nós somos
treinados para desconfiar dos políticos e sua representatividade.
Ele teria, hoje, que
reconhecer os desvios teóricos que a Psicanálise vem, historicamente, padecendo
e/ou reproduzindo. O “Pai da Psicanálise” teria que re-conhecer as demolições
de conceitos feitas por Guattari e Deleuze.
Ambos seriam iconoclastas? Quem sabe o criador, para além dos
freudismos, leria com outros olhos o Anti-Édipo?
Aceitaria a afirmação
deleuziana “de que não devia considerar o desejo uma superestrutura subjetiva
mais ou menos no eclipse”?
O desejo e suas máquinas não cessam, não se limitam,
podem transbordar, mas podem ser capturados pelas políticas.
Na sua Ilha Deserta,
Deleuze, nos lembra, em debate com François Chatelet, Pierre Clastres, Roger
Dadoun, Serge Leclaire e outros, a visão Guattari-deleuzeana de que “o desejo
não para de trabalhar a história, mesmo nos seus piores períodos. As massas
alemãs acabaram por desejar o nazismo...”.
E, em nossos debates macro políticos
atuais que desejo estamos pressentindo das nossas massas?
O do ressentimento?
Ainda somos os mesmos
daquelas massas, não-multidões, que foram para as ruas em Junho de 2013?
Onde
foi parar a nossa indignação e revolta?
Guattari e Deleuze no debate citado nos
dizem: “- Em certas condições as massas exprimem a sua vontade revolucionária,
os seus desejos varrem todos os obstáculos, abrem horizontes inauditos, mas os
últimos a se darem conta disso são as organizações e os homens que se supõem
representá-las...”.
Repetirei ou não o convite
à interrogação, no texto de 14 de junho de 2013: A PRAÇA É DO POVO? AS RUAS SÃO
DOS AUTOMÓVEIS E ÔNIBUS? E DIREITOS HUMANOS SÃO DE QUEM? Ou vou convidá-los a
uma posição mais ativa e participante, micro e macro politicamente? Vamos
retornar, retroceder, ceder e optar pela chamada “Nova Política”?
Um recente manifesto do
Clube Militar, que abre os braços para esta “nova política”, afirma que a
candidata evangelizadora será a melhor opção para não tocarmos nas feridas
abertas pelos Anos de Chumbo.
Vamos realmente reconhecer
que são os corpos torturados, destruídos e lançados no Cemitério de Perus?
E os
responsáveis, inclusive o Governo da época, seus generais, almirantes,
comandantes, seus subordinados ou seus algozes autorizados irão ser julgados,
para além da Anistia?
Por que estes senhores de pijamas com estrelinhas
aposentadas estão com o poder de se afirmar os herdeiros da Ditadura Militar?
Acredito que eles desejam
a manutenção de um Estado repressor, um Estado que possa ser tão sedutoramente
“novo” que suas antigas repressões políticas sejam “esquecidas”. Volto, então,
a Deleuze e Guattari que nos indagam: “Se é verdade que a revolução social é
inseparável de uma revolução do desejo, enquanto a questão desloca-se: em que
condições poderá a vanguarda revolucionária libertar-se da sua cumplicidade
inconsciente com as estruturas repressivas e frustar as manipulações do desejo
das massas pelo poder...?”
Estamos ávidos de servidão
ou de salvação? E os pastores políticos serão nossos salvadores ou nossos
“novos” senhores? Na vida política, seja nas macro ou micro políticas, ou nas
psicanálises não deve haver espaço para neutralidades, mitificações ou
mistificações.
Vamos acordar, ou seja,
vamos colocar nossos corações e mentes em sintonia, e aí a Psicanálise talvez
possa contribuir, mas nunca poderá substituir nossa busca de vontade política e
de outras cartografias para o viver.
Para a resposta sobre a
coexistência das práticas políticas, das psicanálises e das religiões, instigo
a todos e todas buscarem as implicações que cada campo do viver citado propõem.
Olhemos as fotografias ou imagens maquiadas com outras visões e pontos
críticos.
A de Freud, lá em cima,
nos traz alguém que resistiu, com determinação, tanto ao Nazismo/Fascismo
quanto ao próprio câncer do palato e de mandíbula. Sua memória fotográfica aí é
a da re-existência que tanto falo e escrevo.
Photoshops, há outros sendo
midiatizados, seja de candidatos, candidatas, pastores ou não, mas que nos
anunciam ‘novas-já velhas máquinas de Poder’ ou de “Glória”.
Concordo aí com Debray que
nos diz que: “Reconhecer que existe algo mais do que a máquina na máquina
destinada a transmitir é sugerir que, na arte de governar, há menos arte do que
se possa presumir e mais mecanismo do que o próprio artista possa imaginar...”.
Somos a Sociedade do Espetáculo, do Controle e da Hipermidiatização do viver?
Por isso, olhando para o
nosso futuro sem ilusão, novamente, me/nos pergunto: - somos apenas
espectadores televisivos, marionetes midiáticos, fanáticos religiosos ávidos da
Salvação e da imortalidade, ou tornamos insondáveis que somos como um Inconsciente
Maquínico, apenas criticamente mais e mais humanos que não abrem mão e negociam
seus princípios éticos e seus direitos?
Copyright/left – sem estar
no centro, muito pelo contrário jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o
autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de
comunicação para e com as massas).
Matérias citadas e
“visíveis” da Internet
Indicações para leitura
crítica e reflexiva
O FUTURO DE UMA ILUSÃO
/TOTEM E TABU/ MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO – Sigmund Freud, Editoras Imago e
Companhia das Letras, com edições diferenciadas pelas traduções e pelos
tradutores.
FREUD E O SIONISMO (Terra
Psicanalítica Terra Prometida) – Jacqui Chemouni, Editora Imago, Rio de
Janeiro, RJ, 1992.
A ILHA DESERTA e outros
textos – Gilles Deleuze, Editora Iluminuras, São Paulo, SP, 2006.
DIFERENÇA E REPETIÇÃO –
Gilles Deleuze, Editora Graal, Rio de Janeiro, RJ, 1988.
O ESTADO SEDUTOR (As
Revoluções Midialógicas do Poder) – RÉGIS DEBRAY, Editora Vozes, Petrópolis,
RJ, 1994.
LEIA TAMBÉM NO BLOG
Para não se esquecer do
Pastor/Deputado - A ILHA DE FELIZ SEM ANO E SEU INTRUSO, E, NÓS TAMBÉM. (apenas
um re-conto)
Postado por Jorge Márcio
Marcadores: Felix
Guattari, Biopolítica, Direitos Humanos, Eleições, Evangélicos, Fanatismos
Religiosos, Gilles Deleuze, Massas, Multidões, Neoliberalismos, Política,
Psicanálise, Religião, Sigmund Freud
Post: Marcelo Ferla
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