A Eternização de um Mito: os sessenta anos
do suicídio de Getúlio Vargas.
Por Rosana Schwartz
Aos sessenta anos do acontecimento trágico,
que marcou a história brasileira - o suicídio do Presidente
Getúlio Vargas - por meio, de múltiplas ações da memória é reforçada a
construção complexa e ambígua do grande Mito do Brasil. “Vivo” ou “morto”, sua
trajetória política e esse trágico e traumático evento da política nacional
provocam paixões e ódios simultaneamente.
Solapando inimigos, em um derradeiro golpe político, manteve a eleição
de Juscelino, em 1955, a ordem democrática, assim como, adiou por dez anos o
Golpe Militar de 1964.
Governou seu segundo mandato (1950-54),
eleito pelo voto popular, surpreendendo opositores. Enfrentou
instabilidades e oposição sistemática da imprensa e de grande parte dos setores
da política, que acreditavam que um ex-ditador não poderia governar novamente.
Não obstante, a população, referendava sua votação na vida cotidiana, como
evidencia a Marcha de Carnaval campeã de 1951, “Retrato do Velho” (bota o
retrato do velho. Bota o retrato outra vez no mesmo lugar- Haroldo Barbosa e
Marino Pinto).
Após o atentado ao jornalista Carlos
Lacerda, o clima de intranquilidade é adensado e Getulio não consegue mais
superar a crise que se agravava a cada dia. A aguerrida oposição civil e
militar, além de acusar as ações ditatoriais de Getúlio Vargas no período
denominado Estado Novo, também afirmava que o presidente estava envolvido com
um “mar de lamas”. Exigia sua renúncia imediata e deixava explicita a ideia de
que a recusa significaria deposição.
Nesse contexto de intranqüilidade, Vargas
lança sobre os antigetulistas, como se fosse sua última cartada, seu corpo, sua
morte e uma carta-testamento em defesa da nação. A população atônita e revoltada sai às ruas e
demonstra seu apreço, através de incêndios, quebra-quebras e tristeza
imensurável.
Multidões se aglomeram chorando no cortejo
fúnebre. Getúlio morto possibilitou
realinhamento das forças política, a manutenção da democracia através do
bloqueio do golpe que se armava, e a manutenção da legalidade constitucional
com a garantia das eleições para presidente.
A memória de 2014 retoma essas questões de
1954, sua popularidade e o Golpe Militar de 1964. Figura política do movimento revolucionário de
1930, que derrubou a oligarquia do Café com Leite do poder, seu prestigio cresceu
no bojo do Governo Provisório e sua metamorfose em mito inicia-se na
candidatura à eleição indireta em 1934. Entretanto, foi no período do Estado
Novo que ocorre efetivamente essa construção pelas âncoras do governo: rádio,
cine documentários, educação, trabalhismo, propaganda, repressão, cerimônias
cívicas, entre outras ações, somadas ao destaque das “qualidades” de homem
simples, corajoso, esperto de sorriso matreiro.
Sua imagem é colocada no centro de todas as
ações da Nação e sua figura personificada na Pátria/pai, protetor do povo
brasileiro. Muitos aspectos, tanto do ditador como do presidente Vargas,
desvelam a complexidade e importância da sua história. Aos sessenta anos do seu
suicídio, lembramos que Getúlio saiu da política, entrou para a História e se
transformou no maior mito da política brasileira.
Marcelo Ferla
Fonte: *Rosana Schwartz é professora de
comunicação integrada. Doutora em História, pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo - PUC/SP (2007). Professora Pesquisadora da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, desde 1999. Graduação em Comunicação Social:
habilitação em Jornalismo e Publicidade e Propaganda.
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