"Tinha dias que só
pensávamos em como e quando íamos morrer", lembra refugiada síria.
Rafael
Duque | Madri - 20/06/2014
Após
3 anos de conflitos na Síria, violência obrigou 9 milhões de pessoas (42% da
população) a deixar o país; a estudante Rudaina Al Kindi é uma delas.
O conflito da Síria
completou 3 anos em 2014 e segue sem expectativas de solução. Segundo a ONU (Organização
das Nações Unidas), a violência no país obrigou mais de 9 milhões de pessoas a
deixarem suas casas, cifra que representa 42% da população nacional.
Milhões de
sírios buscam ajuda em campos de refugiados no Líbano, na Jordânia e na
Turquia, mas, devido às péssimas condições sanitárias e de segurança nesses
lugares, muitas pessoas decidem tentar a sorte em países mais afastados,
principalmente no continente europeu.
Rafael Duque/Opera Mundi
|
Rudaina Al Kindi chegou na Espanha há um ano: "A vida de refugiado é uma série de perguntas sem resposta". |
Em 2013, 50 mil sírios
pediram proteção internacional em países da União Europeia, alçando a Síria
como principal origem de novos refugiados na Europa no último ano.
Integrante
deste grupo de recém-chegados, a estudante de direito Rudaina Al Kindi
desembarcou na Espanha no dia 17 de junho de 2013 e ainda trás consigo
lembranças tristes dos primeiros anos de guerra em Damasco, capital síria.
“É difícil falar sobre os
anos que eu morei na Síria durante a guerra. Quando o conflito começou, o norte
da capital estava rodeado de áreas militares. Apesar de o conflito ter começado
em março, Damasco só viu os primeiros bombardeios em abril. No dia 1º começaram
a jogar bombas na zona em que eu morava”, relembra Rudaina.
A jovem estudava direito
em uma universidade na capital e dependendo do dia não podia voltar para casa.
Segundo ela, quando a violência aumentava, a única opção era dormir na casa de
algum amigo ou em um quarto de hotel. A refugiada conta que, com o passar dos
meses, teve que largar os estudos e o trabalho.
“Eu trabalhava em um
programa de ajuda ao desenvolvimento da ONU, mas ele teve que ser interrompido
porque eu não podia ir até as zona rurais porque estavam em guerra”, explica a
jovem. Rudaina também contou que, na mesma época em que teve que largar todas
as suas atividades longe de casa, a capital começou a passar por uma escassez
de alimentos.
Segundo a ONU, desde o início do conflito, o preço de bens de
consumo imprescindíveis para a subsistência humana aumentou entre quatro e
cinco vezes.
Fuga da Síria
A decisão de deixar o país
foi tomada pela família da jovem quando os ataques à capital aumentaram.
“Acordávamos todos os dias com o barulho dos bombardeios, que eram cada vez
mais perto de casa.
Tinha dias que só pensávamos em como e quando íamos morrer.
Foi quando decidimos deixar nossa casa”, lembra.
Outro fator para a fuga do
país foi a situação de saúde de seus pais, que já estavam fragilizados depois
de anos de conflito.
Rudaina conta que sua
família deixou Damasco rumo a Beirute, capital do Líbano, de carro no dia 16 de
junho do ano passado. De lá, foram de avião ao Catar e, depois, compraram
passagens para Madri, capital da Espanha.
A família só pediu refúgio no país
europeu dois meses após sua chegada.
|
Mais de 9 milhões de sírios já deixaram o país; em 2013, 50 mil sírios pediram proteção internacional à UE. |
“Quando você vira um
refugiado sua vida se baseia em uma série de perguntas sem respostas. Quando
vou ter um documento? Quando poderei trabalhar? Onde vou morar? Quando poderei
voltar pra casa?”, relata a jovem.
Ela também conta que sente dificuldade em
planejar o futuro por não saber se poderá voltar para o seu país e se terá uma
vida normal em algum momento.
“De repente, você se
converte em um caso de estudo, mais um número, apenas um refugiado. É uma
escolha que não tomamos, fomos obrigados a sair. Não perdemos apenas nossa
casa, perdemos nosso país”, lamenta Rudaina.
Marcelo Ferla
fonte: Opera Mundi
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.