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sábado, 19 de julho de 2014

Admirável mundo torto.


"Tinha dias que só pensávamos em como e quando íamos morrer", lembra refugiada síria.
Rafael Duque | Madri - 20/06/2014
Após 3 anos de conflitos na Síria, violência obrigou 9 milhões de pessoas (42% da população) a deixar o país; a estudante Rudaina Al Kindi é uma delas.
O conflito da Síria completou 3 anos em 2014 e segue sem expectativas de solução. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a violência no país obrigou mais de 9 milhões de pessoas a deixarem suas casas, cifra que representa 42% da população nacional.

Milhões de sírios buscam ajuda em campos de refugiados no Líbano, na Jordânia e na Turquia, mas, devido às péssimas condições sanitárias e de segurança nesses lugares, muitas pessoas decidem tentar a sorte em países mais afastados, principalmente no continente europeu.
Rafael Duque/Opera Mundi
Rudaina Al Kindi chegou na Espanha há um ano: "A vida de refugiado é uma série de perguntas sem resposta".
Em 2013, 50 mil sírios pediram proteção internacional em países da União Europeia, alçando a Síria como principal origem de novos refugiados na Europa no último ano.

Integrante deste grupo de recém-chegados, a estudante de direito Rudaina Al Kindi desembarcou na Espanha no dia 17 de junho de 2013 e ainda trás consigo lembranças tristes dos primeiros anos de guerra em Damasco, capital síria.
“É difícil falar sobre os anos que eu morei na Síria durante a guerra. Quando o conflito começou, o norte da capital estava rodeado de áreas militares. Apesar de o conflito ter começado em março, Damasco só viu os primeiros bombardeios em abril. No dia 1º começaram a jogar bombas na zona em que eu morava”, relembra Rudaina.
A jovem estudava direito em uma universidade na capital e dependendo do dia não podia voltar para casa. Segundo ela, quando a violência aumentava, a única opção era dormir na casa de algum amigo ou em um quarto de hotel. A refugiada conta que, com o passar dos meses, teve que largar os estudos e o trabalho.
“Eu trabalhava em um programa de ajuda ao desenvolvimento da ONU, mas ele teve que ser interrompido porque eu não podia ir até as zona rurais porque estavam em guerra”, explica a jovem. Rudaina também contou que, na mesma época em que teve que largar todas as suas atividades longe de casa, a capital começou a passar por uma escassez de alimentos.
Segundo a ONU, desde o início do conflito, o preço de bens de consumo imprescindíveis para a subsistência humana aumentou entre quatro e cinco vezes.


Fuga da Síria
A decisão de deixar o país foi tomada pela família da jovem quando os ataques à capital aumentaram.

“Acordávamos todos os dias com o barulho dos bombardeios, que eram cada vez mais perto de casa.

Tinha dias que só pensávamos em como e quando íamos morrer. Foi quando decidimos deixar nossa casa”, lembra.

Outro fator para a fuga do país foi a situação de saúde de seus pais, que já estavam fragilizados depois de anos de conflito.
Rudaina conta que sua família deixou Damasco rumo a Beirute, capital do Líbano, de carro no dia 16 de junho do ano passado. De lá, foram de avião ao Catar e, depois, compraram passagens para Madri, capital da Espanha.

A família só pediu refúgio no país europeu dois meses após sua chegada.

Mais de 9 milhões de sírios já deixaram o país; em 2013, 50 mil sírios pediram proteção internacional à UE.
“Quando você vira um refugiado sua vida se baseia em uma série de perguntas sem respostas. Quando vou ter um documento? Quando poderei trabalhar? Onde vou morar? Quando poderei voltar pra casa?”, relata a jovem. 

Ela também conta que sente dificuldade em planejar o futuro por não saber se poderá voltar para o seu país e se terá uma vida normal em algum momento.
“De repente, você se converte em um caso de estudo, mais um número, apenas um refugiado. É uma escolha que não tomamos, fomos obrigados a sair. Não perdemos apenas nossa casa, perdemos nosso país”, lamenta Rudaina.
Marcelo Ferla
fonte: Opera Mundi

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