Com pouca ajuda de países
ricos, número de refugiados aumenta e atinge maior cifra desde 1994.
Rafael
Duque | Madri - 20/06/2014
Neste 20 de junho, data
escolhida pela ONU para lembrar questão dos refugiados, 45 milhões de pessoas
passarão dia longe de casa por causa de guerras.
Na data escolhida pela ONU
(Organização das Nações Unidas) para conscientizar o mundo sobre os problemas
que afetam os refugiados, mais de 45 milhões de pessoas espalhadas por todo o
planeta passarão mais um dia longe de suas casas por causa de guerras, conflitos
armados ou violações massivas aos direitos humanos. Entre estas pessoas, 81%
são acolhidas em países em desenvolvimento, uma cifra contraditória quando se
tem em conta que dois dos três conflitos que mais produzem refugiados
(Afeganistão e Iraque) foram iniciados por países desenvolvidos.
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20 de junho foi a data
escolhida pela ONU para lembrar o mundo sobre refugiados; na foto, refugiadas
afegãs no Paquistão.
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Segundo o último relatório
da ACNUR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), divulgado em
2013, existem 15,4 milhões de refugiados (sendo 4,9 milhões de palestinos sob a
responsabilidade da missão URNWA), 28,8 milhões de pessoas deslocadas de
maneira forçada dentro das fronteiras de seus próprios países e quase 1 milhão
de pessoas cujas solicitações de asilo estão pendentes de resolução.
A cifra é a maior desde
1994 e pode ser vista como consequência das situações de calamidade vividas no
Mali, na República Democrática do Congo, na Síria e nas zonas de fronteira
entre o Sudão do Sul e o Sudão. Segundo a ONU, o grande crescimento de
refugiados é puxado por cidadãos desses países, mas, apesar disso, os três
principais Estados de origem dos refugiados são o Afeganistão (2,5 milhões de
pessoas), a Somália (1,1 milhão) e o Iraque (746 mil).
A América Latina também
tem um representante entre os dez países que mais geram refugiados. O conflito
armado na Colômbia obrigou 394 mil pessoas a deixarem o país e a buscarem
proteção internacional em outros Estados.
Em muitos casos os países geradores
de deslocamentos forçados são os mesmos que mais recebem pessoas nesta
condição, o que demonstra a dificuldade encontrada pelos refugiados em sua
busca por um lugar para viver.
Gráfico 1: Entrada de
estrangeiros sem documentos na União Europeia por rotas
Gráfico 2: Resoluções
favoráveis e negativas para imigrantes na Europa
Gráfico 3: Solicitantes de
proteção internacional na Espanha por nacionalidade
Conflito sírio
A Síria continua sendo um
dos grandes focos de atenção da ONU devido à extrema violência do conflito
interno que já dura três anos. Segundo dados da ACNUR, mais de 9 milhões de
pessoas foram forçadas a deixar suas casas, o que representa 42% da população nacional.
Dentro desse grupo de pessoas, 6,5 milhões se deslocaram dentro das fronteiras
sírias e enfrentam escassez de medicamentos, água potável e combustíveis. Os
preços dos produtos considerados fundamentais para a subsistência quadruplicou
ou quintuplicou desde o começo do conflito até o começo de 2014.
De 2012 a 2013, o número
de refugiados sírios quintuplicou, chegando a 2,3 milhões de pessoas.
A ACNUR
calcula que até o final de 2014 esta cifra deve chegar a 4 milhões, metade dela
menores de idade.
A maior parte dos refugiados é acolhida pelo Líbano.
Em
dezembro de 2013, 850 mil sírios haviam fugido para o país vizinho, o que
representa 20% da população libanesa. Entretanto, a legislação interna do
Líbano proíbe a construção de acampamentos de acolhida a refugiados, apesar do
número cada vez maior de pessoas que entram no país.
Retrocesso australiano
Considerado durante anos
como um dos países mais aberto aos refugiados, a Austrália passa por um processo
de endurecimento em suas regras de amparo a este coletivo. Desde 2001, uma
série de normas nacionais foi alterada para restringir a chegada por mar de
imigrantes em situação irregular. O processo chamado de externalização das
fronteiras atinge o seu ápice neste país da Oceania.
Toda pessoa que chega às
costas australianas e solicita refúgio no país é enviada a centros de reclusão
em Papua Nova Guiné e Nauru onde devem esperar a resolução de suas
solicitações. O problema é que este processo pode demorar anos e os centros
destinados a abrigar essas pessoas não têm condições médicas e higiênicas para
acolher qualquer pessoa por tanto tempo, segundo relatos de inspetores da ONU.
A ACNUR estima que cerca de 18 mil pessoas que pediram refúgio nas costas australianas
foram encaminhadas aos dois países do Pacífico entre agosto de 2012 e maio de
2013.
Bulgária e a fortaleza
europeia
Em 2013, a Bulgária foi o
país da União Europeia que apresentou o maior crescimento no número de
solicitações de asilo e refúgio.
Segundo
o Eurostat (órgão oficial europeu de estatísticas), entre 2012 e 2013 o número
de pessoas pedindo proteção internacional no país saltou de 1.385 para 7.145.
O
aumento exponencial ocorre devido ao bloqueio e à militarização das fronteiras
europeias utilizadas como rotas tradicionais por imigrantes e refugiados.
Em 2012, a comunidade
europeia tinha olhos fixos na imigração que chegava à Grécia pela fronteira do
país com a Turquia e, para acabar com este fluxo, construiu uma cerca com arame
farpado que recorre toda a linha fronteiriça entre os dois países. Esta medida
forçou os imigrantes que passam pela Turquia a procurarem uma nova rota e, por
proximidade geográfica, o novo país de entrada é a Bulgária.
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Na Itália, igreja siciliana foi transformada em centro para
abrigar refugiados e imigrantes; cerca de 60 mil chegaram neste ano.
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O problema desta nova rota é a falta de preparo do país europeu para acolher apropriadamente os grupos que chegam ao território búlgaro. O Estado não garante alimentação para os imigrantes que se encontram em centros de internação esperando a resposta de suas solicitações de refúgio. Além da falta de comida, não há água quente, calefação e assistência médica. Parte das refeições é oferecida por doadores particulares e chega em quantidade insuficiente.
Para tentar solucionar este problema, a União Europeia planeja construir mais uma cerca em suas fronteiras, semelhante à construída na Grécia e nas cidades espanholas de Ceuta e Melilla. A cerca cobrirá os 274 quilômetros que dividem a Bulgária da Turquia. A União Europeia anunciou também, por meio de sua agência de controle de fronteiras, que, além da cerca, disponibilizará 1,5 mil agentes para deter os imigrantes que entram de forma ilegal pela região.
Em um relatório divulgado no dia 17 de junho, a CEAR (Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado) destacou o problema que muitos refugiados, principalmente os de origem síria, têm em pedir proteção na Europa devido à impossibilidade de aceder ao continente de maneira segura. Por causa disso, muitos deles se aventuram em embarcações precárias no Mar Mediterrâneo.
De acordo com a OIM (Organização Internacional para as Migrações), em 2013 mais de 45 mil pessoas tentaram entrar na Europa pelo Mediterrâneo. Devido ao perigo desta travessia, 801 destas pessoas faleceram no caminho, segundo dados da revista eletrônica Fortress Europe.
Marcelo Ferla
fonte: Opera Mundi
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