Confira uma entrevista com
Alexandre Beck, autor de Armandinho.
Personagem
das tirinhas faz sucesso no Facebook com humor e inocência, convidando leitores
a refletir sobre a vida.
Thiago
Neres
Ele é pequeno e inocente.
E, talvez por ser criança, enxerga o mundo de uma outra forma. Mas não é para
ser subestimado. Armandinho é protagonista de tirinhas divulgadas,
principalmente, via Facebook. E tem cerca de 225 mil curtidores em sua página
oficial, criada no final do ano passado.
É por meio desse perfil
que as conversas do menino - geralmente com adultos - são divulgadas. Além do
humor, elas deixam o convite à reflexão. O personagem de quadrinhos que tem um
sapo de estimação é fruto da mente criativa de Alexandre Beck, 41 anos,
catarinense de Florianópolis.
Desde que concluiu o
ensino médio, Beck passou pelas faculdades de agronomia, publicidade e
jornalismo. Uma busca por encontrar a si mesmo que contrasta com a certeza
absoluta da sua vida: a paixão por desenhar.
Seu primeiro curso numa
universidade foi agronomia. Por quê?
Eu gostava muito de meio
ambiente e bichos, tanto que vivia trazendo animais para casa. Levava gato,
cachorro, rato, porquinho da índia, coelho e até sapo. Gostava de desenhar
esses bichos, mas achava legal biologia e falaram que agronomia tinha futuro,
então fiz.
Você falou que levava
sapos para casa. É daí que vem o sapo do Armandinho?
Na verdade nunca parei
para pensar nesta hipótese. Realmente existe uma história de como ele escolheu
o sapo que pouca gente conhece. Talvez eu trabalhe isso melhor no livro.
Já tem previsão para
lançar o livro?
Ainda estou vendo alguns
ajustes, mas a intenção é que saia neste ano, no segundo semestre, com
histórias inéditas e outras já conhecidas.
Quando começou a fazer
tirinhas?
Eu também estudei
publicidade. Quando acabei, em 2000, o jornal Diário Catarinense estava precisando
de ilustrador e fui por hobby. Dois anos depois apareceu uma vaga para fazer
tirinhas e criei personagens. Alguns eram baseados em amigos meus. Eu ocupava a
metade de um dia fazendo. Geralmente faço os esboços à mão e uso o computador
para vetorizar e colorir. Saí do jornal em 2005 e voltei em 2009.
Certo dia, um
ano depois, pediram três tirinhas para uma matéria sobre economia onde os pais
conversavam com as crianças. Assim surgiu o Armandinho.
De onde veio a escolha do
nome?
Foi um concurso. As
pessoas sugeriram nomes e deram a justificativa. Armandinho, segundo o leitor
que venceu, é porque ele sempre está armando algo.
Por que só vemos as pernas
dos pais?
Não foi algo planejado,
mas que funcionou e eu gostei muito. Levava o dia quase inteiro para pensar
numa tirinha, fazer o rascunho, vetorizar e colorir. Então me pediram três e eu
precisei correr. Só fiz as pernas.
Acabou que hoje eu prefiro assim. Muita
gente pede para ver o rosto dos pais do Armandinho, mas eu acho que o
importante é mostrar a essência da pessoa e não cor, tamanho e aparência.
Por que a cabeça do
Armandinho é tão grande e o corpo dele tão fininho?
Meus outros personagens
tinham uma proporção mais equilibrada. Uma vez estava conversando com uma
colega e comentando que precisava desenhar alguns alguns personagens da cintura
para cima para mostrar bem as expressões. Funcionava, mas eu não estava satisfeito.
Então ela deu a ideia e tentei fazer com proporções diferentes. Gostei do
resultado. Também acho que personagem de tirinha precisa ser compacto.
Você tem filhos? Eles
gostam de desenhar?
Minha filha mais nova tem
dez anos, é a Fernanda. Ela gosta muito de desenhar pessoas patinando e bichos.
Parece comigo quando era criança. Por isso dei a ela um porquinho da índia
quando fez cinco anos. A Fê, que aparece nas tirinhas, é inspirada nela. Tenho
outro filho, com 18 anos, que gosta mais de tecnologia e engenharia mecânica.
Criei um personagem chamado Guto, o apelido dele, que foi usado em materiais
educativos nas escolas de Florianópolis.
Você também fez uma
tirinha sobre o incêndio da boate Kiss. Como foi o processo criativo?
Eu tinha me mudado para
Santa Maria. No dia, acordei e vi algo na televisão sobre um incêndio, só que
não sabia o que era. Então meu pai telefonou e perguntou se meu filho estava em
casa e bem. Aí contou a história.
O que eu tinha visto na TV era o incêndio na
boate Kiss. Minha esposa é professora e perdeu alunos lá. Filhos de vizinhos
também morreram. Foi um dia longo e triste. As pessoas daqui estão sofrendo
muito até hoje. Mas quando caiu a noite, veio uma lua cheia linda e um céu
estrelado. Fiz a tirinha e publiquei no Facebook. Não foi para o jornal. Era um
desabafo nosso.
Marcelo Ferla
fonte: diário de pernambuco
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