Como o autismo ajudou
Messi a se tornar o melhor do mundo.
Roberto
Amado
Os sintomas da Síndrome de
Asperger trabalharam a seu favor.
Messi é autista. Ele foi
diagnosticado aos 8 anos de idade, ainda na Argentina, com a Síndrome de
Asperger, conhecida como uma forma branda de autismo. Ainda que o diagnóstico
do atleta tenha sido pouco divulgado e questionado, como uma maneira de protegê-lo,
o fato é que seu comportamento dentro e fora de campo são reveladores.
Ter síndrome de Asperger
não é nenhum demérito. São pessoas, em geral do sexo masculino, que apresentam
dificuldades de socialização, atos motores repetitivos e interesses muito estranhos.
Popularmente, a síndrome é conhecida como uma fábrica de gênios. É o caso de
Messi.
É possível identificar,
pela experiência, como o autismo revela-se no seu comportamento em campo — nas
jogadas, nos dribles, na movimentação, no chute.
“Autistas estão sempre
procurando adotar um padrão e repeti-lo exaustivamente”, diz Nilton Vitulli,
pai de um portador da síndrome de Asperger e membro atuante da ong Autismo e
Realidade e da rede social Cidadão Saúde, que reúne pais e familiares de
“aspergianos”.
“O Messi sempre faz os
mesmos movimentos: quase sempre cai pela direita, dribla da mesma forma e
frequentemente faz aquele gol de cavadinha, típico dele”, diz Vitulli, que
jogou futebol e quase se profissionalizou. E explica que, graças à memória
descomunal que os autistas têm, Messi provavelmente deve conhecer todos os
movimentos que podem ocorrer, por exemplo, na hora de finalizar em gol. “É como
se ele previsse os movimentos do goleiro. Ele apenas repete um padrão
conhecido. Quando ele entra na área, já sabe que vai fazer o gol. E comemora,
com aquela sorriso típico de autista, de quem cumpriu sua missão e está aliviado”.
A qualidade do chute,
extraordinária em Messi, e a habilidade de manter a bola grudada no pé, mesmo
em alta velocidade, são provavelmente, segundo Vitulli, também padrões de
repetição, aliados, claro, à grande habilidade do jogador. Ele compara o
comportamento de Messi a um célebre surfista havaiano, Clay Marzo, também
diagnosticado com a síndrome de Asperger. “É um surfista extraordinário. E é
possível perceber características de autista quando ele está numa onda.
Assim,
como o Messi, ele é perfeito, como se ele soubesse exatamente o comportamento
da onda e apenas repetisse um padrão”. Mas autistas, segundo Vitulli, não são
criativos, apenas repetem o que sabem fazer.
“Cristiano Ronaldo e Neymar criam
muito mais.
Mas também erram mais”, diz ele.
Autistas podem ser capazes
de feitos impressionantes — e o filme Rain Man, feito em 1988, ilustra isso.
Hoje já se sabe, por exemplo, que os físicos Newton e Einstein tinham alguma
forma de autismo, assim como Bill Gates.
Também fora de campo, seu
comportamento é revelador.
Quem já não reparou nas dificuldades de comunicação
do jogador, denunciadas em entrevistas coletivas e até em comerciais protagonizados
por ele? Ou no seu comportamento arredio em relação a eventos sociais? Para
Giselle Zambiazzi, presidente da AMA Brusque, (Associação de Pais, Amigos e
Profissionais dos Autistas de Brusque e Região, em Santa Catarina), e mãe de um
menino de 10 anos diagnosticado com síndrome de Asperger, foi uma revelação
observar certas atitudes de Messi.
“A começar pelas
entrevistas: é visível o quanto aquele
ambiente o incomoda. Aquele ar “perdido”, louco pra fugir dali. A coçadinha na
cabeça, as mãos, o olhar que nunca olha de fato. Um autista tem dificuldade em
lidar com esse bombardeio de informações do mundo externo”, diz Giselle.
Segundo ela, é possível perceber o alto grau de concentração de Messi: “ele
sabe exatamente o que quer e tem a mesma objetividade que vejo em meu filho”.
Giselle observou algumas
jogadas do argentino e também não teve dúvidas:
“o olhar que ‘não olha’ é o mesmo que vejo em todos. Em uma jogada, ele
foi levando a bola até estar frente a frente com um adversário. Era o momento de
encará-lo. Ele levantou a cabeça, mas, o olhar desviou. Ou seja, não houve
comunicação. Ele simplesmente se manteve no seu traçado, no seu objetivo, foi
lá e fez o gol. Sem mais”.
Segundo Giselle, Messi tem
o reconhecido talento de transformar em algo simples o que para todos é
grandioso e não vê muito sentido em fama, dinheiro, mulheres, badalação.
“Simplesmente faz o que mais sabe e faz bem. O resto seria uma consequência.
Outra aspecto que se assemelha muito a meu filho”.
Outra característica dos
autistas, segundo ela, é ficarem extremamente frustrados quando perdem, são
muito exigentes. “Tudo tem que sair exatamente como se propuseram a fazer, caso
contrário, é crise na certa. E normalmente dominam um assunto específico. Ou
seja, se Messi é autista e resolveu jogar futebol, a possibilidade de ser o
melhor do mundo seria mesmo muito grande”, diz ela.
A ideia de uma das maiores
celebridades do mundo ser um autista não surpreende, mas encanta. Messi nunca
será uma celebridade convencional. Segundo Giselle, ele simplesmente será
sempre um profissional que executa a sua profissão da melhor forma que consegue
— mas arredio às badalações, às entrevistas e aos eventos.
“Ele precisa e quer que sua condição seja
respeitada.
Nunca vai se acostumar com o assédio. Sempre terá poucos amigos. E
dificilmente saberá o que fazer diante de um batalhão de fotógrafos e fãs
gritando ao seu redor. De qualquer modo, certamente a sua contribuição para o mundo
será inesquecível”, diz ela.
Marcelo Ferla
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