Rafael Tonon
A captura de Weiwei gerou protestos e manifestações pelo mundo. Museus renomados como o Guggenheim de Nova York e a Tate Modern de Londres emitiram comunicados pedindo sua libertação. Nas ruas de grandes cidades como Berlim, Dresden, Copenhague, Barcelona, pichações perguntavam "Where is Weiwei?" (Onde está Weiwei?).
Sites, blogs e um perfil no Facebook foram criados para dar informações sobre seu confinamento. Organizações que lutam pelos direitos humanos fizeram petições em prol do artista.
No caso de Weiwei essa relação entre arte e política está muito mais intrínseca. "Não dá para separar no trabalho dele o que é arte e o que é ativismo", afirma Moacir dos Anjos, que foi curador da 29ª Bienal de São Paulo, realizada no ano passado, e que reproduziu a obra Círculo de Animais do artista chinês.
"As obras de Weiwei são baseadas em ações de choque que visam criticar o regime opressor chinês, portanto seu trabalho tem uma enorme conotação política", diz. Do lado mais ativista, ele é um fervoroso crítico do governo comunista chinês, condenando abertamente a falta de liberdade de expressão e de direitos humanos em seu país. Depois de ter sido solto, Weiwei prometeu ao governo se calar em troca da liberdade.
Mas esteticamente ele investiu, com maior notoriedade, no campo das esculturas, construindo estruturas de forte valor simbólico. "Suas obras têm uma grande riqueza, robustez artística e formal, além de um aspecto estético muito apurado", analisa Dos Santos.
Um dos exemplos é uma de suas obras que usou mochilas estudantis para representar crianças mortas em um terremoto na província de Sichuan em 2008, enfileiradas em uma estrutura suspensa e curvilínea denominada Snake (segundo Weiwei, as crianças só morreram no tremor porque as escolas foram construídas pelo governo com materiais pouco resistentes e de baixo custo; ele chegou a elaborar um dossiê provando as irregularidades nas construções, apresentadas junto com a obra).
Esse tipo de trabalho crítico é o que fez o diretor da Tate Modern, Vicente Todolí, considerar as obras do chinês como "os mais socialmente engajados trabalhos artísticos feitos hoje no mundo".
O governo achou uma afronta. Em seu perfil no Twitter (@aiww), ele continuou a postar críticas ao regime comunista para seus mais de 40 mil seguidores, o que fez dele um dos maiores usuá¬rios dessa rede social na China - e provavelmente o maior detrator aberto do governo.
Sua conta bancária foi vasculhada e o poste em frente a sua casa-estúdio ganhou um par de câmeras de segurança. Recentemente, e apesar da sua promessa de silêncio após a prisão, Weiwei publicou um artigo na revista americana Newsweek em que acusava o regime chinês de negar aos cidadãos "seus direitos básicos". "Sem confiança [no país], não se pode identificar nada: é como uma tempestade de areia. Tudo muda constantemente segundo a vontade de outro, de quem está no poder", criticou o artista.
O artigo foi reproduzido internacionalmente por centenas de revistas e sites.
A verdade é que essa ambiguidade entre ativista e artista fez com que Weiwei passasse a ocupar o topo de uma nova categoria de personalidade artística da qual, aliás, foi um dos precursores - e que possui outros nomes que estão ganhando mais repercussão, como o fotógrafo francês J.R. ou o grafiteiro inglês Banksy.
"Muitos dizem que Ai está fazendo uma forma de arte performática", disse em uma entrevista à New Yorker o pintor chinês Chen Danqing, contemporâneo de Weiwei inclusive nas críticas sociais. "Mas eu acredito que ele já ultrapassou essa definição. Ele desenvolve algo mais interessante, mais ambíguo. Acho que ele quer, no fundo, ver quão longe a força de um indivíduo pode chegar.".
O blog do Marcelo Ferla selecionu este texto para que melhor fosse compreendida quem é a pessoa de Wei Wei, um dos maiores artistas de nossa época e referência na atualidade.
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