O nosso Saddam enforcado.
O ponto que vem sendo
pesado de uma forma ponderada pela nossa imprensa, o período da ditadura
militar em nosso país, que me chama muito atenção, eis que ainda aprendemos e
conceituamos de forma mais correta o que ocorreu, tanto pelas novas informações
que surgem através das Comissões da Verdade, como pelo que acho essenciais, os
incessantes debates, as novas pesquisas acadêmicas, as pesquisas de
historiadores sobre os fatos á época, todos estes esforços trazem consigo o uso
de novas expressões que vem sendo empregadas quando se fala sobre o período
mostrando que estamos interessados na verdade, bem como, o fato de que ainda
não estamos satisfeitos com o que sabemos, tudo isso monta novos capítulos
imensuráveis para nosso país e aqueles que direta ou indiretamente sofreram.
Disse tudo isto movido por um novo fato que veio a tona dias atrás (escrevi
isso que estão lendo a uma semana atrás), portanto, antes da reviravolta nas
investigações sobre a morte do sósia de Saddam Hussein, o coronel Paulo
Malhães.
A polícia trabalhava, até
pouco tempo, em minha opinião, com a mais fácil, cômoda e pífia das hipóteses,
a de latrocínio (roubo seguido de morte) com a asfixia do coronel pelos
larápios matadores que riam armas, dinheiro e coisas de larápios. O Coronel que
fora encontrado de bruços e com o rosto azulado, características típicas de
quem fora morto por asfixia poderia também ter sofrido um infarto, banal demais.
Outros, e ai me localizam,
eis que considero mais plausíveis e retas as possibilidades da motivação em
acabar com a vida de Malhães trabalham com as hipóteses de, primeiro, queima de
arquivo em decorrência das bombásticas declarações do Coronel a Comissão da
Verdade e, segundo, logo depois do depoimento com as declarações bombásticas, a
de vingança de ao menos uma das tantas famílias que perderam entes queridos na
mão do carrasco no período ditatorial do país. Confesso que bem mais
interessantes estas duas hipóteses. Malhães sabia muito, mas muito mais do que
disse.
Para não ficar em cima do
muro como vem ocorrendo com as autoridades à frente do caso, minha posição se
concentra, mais especificamente, na queima de arquivo.
Chamo atenção aqui para
algo pouco dito por todos até o presente momento. O Brasil é um país que, além
de estar habituado com o insolúvel proposital, o por debaixo do tapete para que
seja esquecido, também não está habituado com algo que poderia muito bem ser um
roteiro de thriller policial americano. Apesar de acharmos, não é só lá que estas
conspirações ala CIA acontecem e, muito menos quando analisamos um caso
extremamente marcante na história de nosso país.
Basta pensarmos de forma
racional e simples. Quem disse que Malhães não falaria mais a Comissão da
Verdade e não tinha mais informações a dar? Quantas pessoas seriam envolvidas e
responsabilizadas nas próximas declarações de Malhães? O quanto de informações
de suma importância e com peso de ouro á título de esclarecimentos e solução de
casos de desaparecimento e morte de civis á época até então sem solução seriam
resolvidos com o que Malhães tinha a dizer? Definitivamente Malhães pode ser
comparado a um enxame de abelhas Apis melífera (a abelha mais venenosa do
mundo), fatal para todos que tiveram contato com ele e fizeram ou auxiliaram no
que ele fez.
O que me parece é que o
Brasil acusa o golpe, claro que no sentido do Boxeador atingido de forma fatal,
eis que nosso país parece não estar interessado em dar o sentido acerca da
ditadura e seus agentes ligados ao período e, exige que se mantenha o silêncio,
mais uma vez por meio da censura e da violência, assim como naquela época,
impedindo que a verdade do que ocorreu no pior período de sua história não
venha à tona.
Uma testemunha ocular como
o Coronel Malhães, visto este ter sido agente de atos e testemunha de tantos
outros, não poderia jamais ter sido tratado com desdém pela Comissão da
Verdade, deveria ser tratado sim, pelo Estado, hoje comandado justamente por
vítimas como as que Malhães por suas mãos no período de chumbo como peça
fundamental que era do esclarecimento dos fatos com a maoir profundidade possível.
A situação para mim é
clarividente. Sua morte, logo após o único, mas comprometedor depoimento feito
por Paulo Malhães lhe custou sim sua vida. A conveniência em dizer que sua casa
fora assaltada e um latrocínio ocorrera no local é mais do que um álibi perfeito,
perfeito porque nós brasileiros, mesmo que maculados por este período temos o
péssimo hábito da memória histórica por demais curta e, desta forma, logo esqueceremos
quem matou e por que matou, ficando tudo como está.
Para muitos
definitivamente não vale a pena mexer na colmeia e ser picado de forma fatal,
mas isso não me surpreende tanto, o que mais me surpreende é que mesmo os
torturados no poder deste país passam pano quente naquilo que justamente marcou
a ferro suas vidas. Parece estarmos diante de uma síndrome de Estocolmo entre
vítima e agressores.
Marcelo Ferla
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