TOY STORY: A TRILOGIA DO
INFINITO E MAIS ALÉM
publicado por marisa
figueiredo
No mundo da infância há
soldadinhos e dinossauros, cães de brincar, extraterrestres. Há senhores
“cabeça-de-batata” e porquinhos-mealheiro. Nas brincadeiras que o tempo levou
uma vez, para não mais devolver, há histórias de aventuras e comboios, heróis,
mocinhas e vilões. Há também um Woody e um Buzz Lightyear. E uma trilogia de
animação que mudou para sempre a ideia que temos do nosso baú poeirento, onde
estão guardados velhos brinquedos.
Em 1995, o filme Toy Story
mudou para sempre a face do cinema de animação. Foi a primeira longa-metragem a
ser feita totalmente em computação gráfica e o primeiro filho do casamento
Disney/Pixar. Os desenhos clássicos a traço simples da Disney ganharam corpo e
uma nova estética. E, desde então, os estúdios Pixar não pararam mais de
surpreender.
Porém, a magia da história
sobre brinquedos que ganham vida assim que as crianças viram costas está muito
além do dinamismo gráfico. O cowboy Woody e o astronauta Buzz Lightyear tomam o
lugar dos nossos amigos de infância, aqueles primeiros brinquedos de quem nunca
nos separávamos e a quem contávamos os mais tolos segredos.
Para as crianças, Toy
Story abre a possibilidade encantada da uma vida secreta entre brinquedos. E
motiva a vontade de espreitar devagarinho na frincha da porta, escutando
possíveis conversas entre a Barbie e o ursinho de peluche. Para os adultos, o
filme transporta uma estranha melancolia da infância que se perdeu um dia, sem
avisos, acompanhada da imaginação do improvável.
Ambos, crianças e menos
crianças, começam a ver o mundo pelos olhos de um grupo de brinquedos. Um mundo
onde os cães podem ser um inimigo terrível e os natais trazem a ameaça de
brinquedos mais modernos. Afinal, qual a pior coisa para um brinquedo do que
ser substituído?
Toy Story tem aqui o ponto
de partida para uma narrativa épica de aventuras. Um cowboy quase obsoleto, com
um cordão preso nas costas, vê o seu lugar de brinquedo preferido posto em
causa por um astronauta modernaço e espalhafatoso. Que, ainda por cima, sabe
voar ou, pelo menos, «cair com estilo». A insegurança pelo amor de Andy, a
criança, dá lugar a uma rivalidade hilariante, aguçada pelo facto de Buzz nem
sequer ter consciência de que é um brinquedo e não um astronauta de verdade.
De um pequeno acidente a
uma operação de salvamento, Woody começa a demonstrar de que fibra se fazem os
grandes heróis, mesmo os de plástico e pano. Apenas é preciso coragem q.b., uma
mão-cheia de lealdade e, a compor, um chapéu de cowboy que nunca é deixado para
trás. Enquanto isso, o espectador torce para que os dois rivais, agora amigos,
consigam encontrar de novo a criança que enche de significado as suas
existências.
Quatro anos depois, surge
a sequela e, em 2010, o filme que termina uma das trilogias mais comoventes do
cinema. Em Toy Story 3, todos os brinquedos já estão arrumados num baú,
enquanto Andy se prepara para começar a faculdade. Uma nova etapa tanto para o
adolescente, como para as figuras semi-humanas que ainda sonham com uma última
brincadeira.
O hiato de 15 anos permite
que as crianças que ainda brincavam com os seus astronautas e cowboys na
estreia de Toy Story sejam agora jovens adultos, com os brinquedos guardados
num canto qualquer da casa e esquecidos da memória. Voltar a ver Woody e Buzz
é, assim, voltar à lembrança esquecida. Até porque é do esquecimento e de novas
etapas que esta última narrativa se compõe.
A animação está,
naturalmente, melhor do que nunca. E a coerência das três partes desta epopeia
dos bonecos fecha uma história que, embora com alguns momentos menos
conseguidos, manteve sempre jogo de cintura para fazer rir e emocionar. Característica
difícil de encontrar noutras sequelas de grandes sucessos de bilheteira.
É claro que nem tudo é
magia inocente em Toy Story. A Disney precisava de voltar às grandes receitas
de merchandising - e que fórmula melhor do que dar destaque a um conjunto de
brinquedos falantes, que poderiam ganhar forma em prateleiras de lojas? Além
disso, os traços clássicos da Disney precisavam de se reinventar numa era de
computadores.
Mas tudo isto passa para
segundo plano nas primeiras cenas do filme, seja ele o Toy Story 1, 2 ou 3.
Neste último, os ursinhos cor-de-rosa de cheiro a morango são os vilões
maquiavélicos e o Ken é o brinquedo mais metrossexual que se possa imaginar
(ok, talvez esta última parte já pudéssemos suspeitar). Já os brinquedos de
Andy continuarão a provar porque é que figuras de plástico podem parecer mais
humanas do que muitas pessoas de carne e osso.
O filme ganhou o Óscar de
Melhor Longa-Metragem de Animação e consegue fechar com chave-de-ouro as
aventuras de Woody e Buzz. Que melhor final para duas personagens que nos
recordam, há 15 anos, a magia de ser criança? O melhor mesmo é celebrar a
melancolia feliz trazida por Toy Story e abrir aquele velho baú.
Quem sabe se
não encontra um melhor amigo perdido por lá?
Marcelo Ferla
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