Reduzir o uso de animais
nos laboratórios prejudica a pesquisa?
Cientistas descartam que a
experimentação com animais esteja com os dias contados, mas saúdam métodos
alternativos como mitigadores da prática.
O que pedem os ativistas
que invadiram na madrugada desta sexta-feira o Instituto Royal, em São Roque
(SP), é a adoção de "métodos substitutivos" na pesquisa científica.
Saem os animais, entram métodos matemáticos e computacionais. Afinal, por que
submeter 178 beagles a experimentos quando um algoritmo daria conta de prever,
por exemplo, os efeitos de uma droga no organismo canino?
A pesquisadora da PUCRS
Mônica Ryff Moreira Roca Vianna confirma que a tecnologia tem reformado a
rotina dos laboratórios, reduzindo o número de cobaias.
- Há recursos
interessantes para o ensino, e é nossa função, como educadores, discutir isso
com os alunos. Temos essa tendência, e aqui praticamente abolimos o uso de
animais no ensino - afirma Mônica, que integra a direção da Comissão de Ética
no Uso de Animais (Ceua) da PUCRS.
Sancionada em 2008, a Lei
Arouca exigiu a criação de Ceuas em instituições de ensino e pesquisa.
Atualmente, a comissão da PUCRS avalia, por exemplo, se deve ser levada adiante
uma tese de doutorado que quer usar o zebrafish (o peixe "paulistinha")
para investigar o autismo. Essa etapa busca não só adequar a pesquisa à
legislação, como garantir a efetivação dos chamados "3 Rs" -
Reduction (reduzir o número de animais), Refinement (refinar os processos para
promover o bem-estar das cobaias) e Replacement (substituir os animais por
outras ferramentas). A ideia é que a pesquisa com animais aconteça apenas
quando o uso de cobaias é justificado.
Afirmar que a pesquisa
"nunca é justificada" não dá conta da complexidade do assunto. Se, de
um lado, há mártires do conhecimento, do outro há beneficiários - nem sempre
humanos. A professora Mônica lembra que "a primeira coisa que uma pessoa
faz quando adota um cachorro de rua é levá-lo a um veterinário para ter certeza
de que ele está bem".
- Por trás desse processo,
que envolve remediar e vacinar, há diversos animais que foram usados para
garantir o bem-estar daquele cão - assinala, observando que parte da
dificuldade do debate se deve ao desconhecimento dos parâmetros e protocolos
que balizam a pesquisa científica.
Cientista-chefe da
Sociedade Mundial para a Proteção de Animais (WSPA, na sigla em inglês), o
britânico Michael Appleby aponta que proteger os animais e reduzir o número de
cobaias nos laboratórios não configuram "desvantagens a outras
prioridades, como pode parecer à primeira vista, mas podem contribuir com esses
interesses [científicos]".
- Países que incentivam
essa proteção, por exemplo na Europa, registram tantos avanços médicos e
veterinários quanto outros países que não se importam com isso - argumenta.
Ativista contra os maus
tratos dos animais usados pela indústria dos alimentos, Appleby descarta que a
exploração dos bichos pelo homem esteja num horizonte próximo.
- Depende do que você
considera "exploração". Se você a compreende no sentido
"forte", o de tirar dos animais o que queremos sem qualquer
consideração pelos interesses deles, então sim, é um fim alcançável, é
fortemente desejável e já tem crescido de várias formas e em muitos países. Se
você quer dizer "Vamos parar de usar os animais completamente, à exceção
talvez como companheiros ou como livres criaturas colegas de planeta?", aí
me parece muito menos provável num futuro previsível. De fato, não está claro
que isso é demandado pela maior parte das perspectivas éticas - afirma,
acrescentando concordar com o filósofo Peter Singer, que "sugere que deve
haver igual consideração de interesses iguais entre espécies diferentes,
incluindo humanos e animais".
post: Marcelo Ferla
fonte: ZERO HORA
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