"Histórias mais
chocantes ainda estão por vir", alerta jornalista que denunciou espionagem
do governo americano.
Glenn Greenwald está
no Rio de Janeiro para conferência e falou de sua relação com Edward Snowden
A maior estrela da 8ª
Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que se desenrola no Rio de
Janeiro até terça-feira, não decepcionou. Cercado por microfones e câmeras de
colegas de todo o planeta, o blogueiro e repórter norte-americano Glenn
Greenwald — que revelou ao mundo como os EUA espiona países parceiros, entre
eles o Brasil — deu uma palestra de uma hora na qual agiu como metralhadora
giratória.
Criticou as administrações
Bush e Obama nos Estados Unidos ("rivais entre si, mas iguais nos
métodos"), as agências de espionagem, os governos de países amigos e não
tão amigos dos EUA e bateu pesado na mídia. Mais que aplaudido, foi ovacionado.
Principalmente ao confirmar que vem mais chumbo grosso por aí.
— Algumas das histórias
mais chocantes e reveladoras ainda estão por vir — avisou, ao melhor estilo
"testemunha de acusação".
Assediado na conferência,
que acontece na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ),
Greenwald não deu entrevistas. Tem evitado muita exposição desde que mostrou em
detalhes como os EUA espionam países supostamente "amigos", como o
Brasil, principalmente em busca de segredos em disputas comerciais.
Isso só foi possível
porque ele recebeu um e-mail criptografado de Edward Snowden, hoje
possivelmente o espião mais perseguido do mundo. Ex-agente da Agência de
Segurança Nacional norte-americana (a NSA), Snowden admirava o estilo ferino e
corajoso do blog que Greenwald escreve desde 2005, criticando a tudo e a todos
os poderosos do planeta. E por isso escolheu o jornalista para expor os
segredos da NSA, uma repartição que trabalha em estreita colaboração com a
famosa CIA (agência de contraespionagem norte-americana).
Foi uma aposta que deu
certo. Greenwald investiu seu próprio dinheiro numa viagem a Hong Kong para
ouvir Snowden, de quem nunca tinha ouvido falar. As dúvidas eram muitas, ainda
mais quando o espião mostrou num computador milhares e milhares de documentos
sobre espionagem de países do Terceiro Mundo.
"Será verdade, uma
loucura de um lunático ou uma armadilha para destruir minha reputação?",
foram as principais questões que Greenwald fez a si mesmo. Ao final de seis
horas de revelações num quarto de hotel, nas quais não deixou Snowden nem beber
água — "quase uma tortura", brinca Greenwald — ele ficou convencido
de que estava diante de um tesouro jornalístico.
— Não sou especialista em
computação, mas é fácil deduzir que não poderia ser falsificação. São dezenas
de milhares de documentos. Quem conseguiria escrever tudo aquilo como mentira?
Vimos o crachá dele na NSA, conferimos sua identidade com algumas fontes, mas o
que usei mesmo foi minha intuição: estava diante de um daqueles raros casos de
heroísmo, de um sujeito que sabia que iria perder muito — e assim mesmo
decidira se expor, para revelar ao mundo uma grande sacanagem — descreve
Greenwald.
Dito e feito. Snowden é
procurado pelos EUA, nunca mais voltou lá e teve de pedir asilo à Rússia, onde
vive desde agosto, após morar por semanas num aeroporto de Moscou. O que mais
espantou o jornalista é que Snowden fez questão que seu nome fosse publicado,
mesmo alertado pelo repórter das consequências de seus atos.
A escolha de Greenwald
como confidente não foi casual, acredita o repórter. Ele vive de fazer críticas
a governos e acha que essa é a principal missão da imprensa. Para um crítico do
poder, ele espantou a plateia ao confidenciar que foi candidato a vereador em
Fort Lauderdale (EUA), quando tinha 17 anos.
— Era idealista,
independente e queria agradar a um avô político — justifica.
Os três mais votados no
distrito se elegeram, ele tirou quarto lugar.
— Escapei dos horrores da
política, mas não de ver do que ela é feita.
Greenwald é formado em
Direito e só pegou gosto pela mídia em 2001, após a onda de repressão
desencadeada nos EUA pós ataques às Torres Gêmeas. Como advogado, ele se
comoveu com prisões sem ordem judicial e interrogatórios ilegais promovidos
pelo governo do seu país mundo afora.
Decidiu profissionalizar
as críticas em um blog. Fez tanto sucesso que em 2011 começou a ser publicado
pelo jornal britânico The Guardian, que agora deu abrigo a suas revelações,
junto com a Rede Globo, no Brasil.
— São veículos menos
dependentes dos governos. Nos EUA, a mídia é muito atrelada ao poder. Um
poderoso jornal norte-americano sabia da espionagem praticada pela NSI há
muitos meses, mas evitou publicar — critica Greenwald.
Questionado sobre seu
estado de espírito e sobre sua rotina bastante alterada — ele está sempre
atento e raramente atende ao telefone — Greenwald se mostra conformado com as
restrições e exultante com os resultados.
— Ainda não desci das
nuvens — brinca.
E se alguém acha que ele
já publicou tudo que sabe, pode pôr as barbas de molho.
— Eu falo com o Snowden
quase diariamente. Vem muito mais coisa por aí — conclui Greenwald.
Greenwald alega que, se
algo lhe acontecer, pessoas da sua confiança divulgarão os dados obtidos por
Snowden.
fonte: ZERO HORA
post: Marcelo Ferla
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