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terça-feira, 17 de abril de 2018
Por unanimidade, Primeira Turma do STF transforma Aécio em réu.
Por
unanimidade, Primeira Turma do STF transforma Aécio em réu
Todos os cinco ministros
votaram pelo recebimento da denúncia contra o senador
POR CAROLINA BRÍGIDO
/ ANDRÉ DE SOUZA
O senador Aécio Neves
(PSDB-MG) - Givaldo Barbosa / Agência O Globo 16/04/2018
BRASÍLIA — A Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu, nesta terça-feira, denúncia contra o
senador Aécio Neves (PSDB-MG) por corrupção passiva e obstrução da Justiça. O
parlamentar agora é réu em ação penal. Ele é acusado de receber propina de R$ 2
milhões da JBS e também de tentar atrapalhar as investigações da Lava-Jato. A
decisão foi unânime no caso de corrupção passiva. No crime de obstrução, quatro
dos cinco ministros foram favoráveis ao recebimento da denúncia.
— Há transcrições de
conversas telefônicas das quais se extrai que estaria tentando influenciar na
escolha de delegados da Polícia Federal para conduzir inquéritos alusivos à
Operação Lava-Jato, buscando assegurar a impunidade de autoridades políticas
investigadas.
Surgem sinais da prática criminosa — disse o relator, Marco
Aurélio.
O ministro Luís Roberto
Barroso, primeiro a votar depois do relator, também foi favorável ao
recebimento da denúncia.
Ele destacou que a ação controlada da Polícia Federal
filmou os repasses de dinheiro.
— Os indícios de corrupção
são mais sólidos do que em relação à obstrução.
Mas também há indícios
suficientes — disse Barroso.
— No mundo dos negócios lícitos, o pagamento de R$
2 milhões em quatro parcelas de R$ 500 mil se faz com transferência bancária ou
com cheque.
Nos dias de hoje ninguém sai por aí com malas de dinheiro, a não
que haja alguma coisa errada — afirmou.
Ele voltou a defender a
suspensão de Aécio do mandato de senador, como chegou a ser feito no ano
passado, mas não votou nesse sentido.
— Não vou encaminhar nesse
sentido, porque tendo feito isso anteriormente, o plenário entendeu que a
matéria deveria ser remetida ao Senado.
E o Senado "cassou" a decisão
da Turma.
Como não há nenhum fato novo, em respeito à separação de poderes, não
estou encaminhando nesse sentido — afirmou Barroso.
Também votaram na sessão
desta terça-feira os ministros Luiz Fux, Rosa Weber e Alexandre de Moraes.
Apenas Moraes votou contra o
recebimento da denúncia quanto ao crime de obstrução da justiça.
Para ele, essa
prática só é configurada quando um investigado tenta atrapalhar investigações
sobre crime organizado.
E Aécio não foi denunciado por participação em
organização criminosa.
— Em relação à acusação de
corrupção passiva, entendo que o atual momento de recebimento da denúncia estão
presentes os requisitos necessários.
O conjunto probatório neste momento é
suficiente para que seja recebida a denúncia — disse Moraes.
A denúncia da PGR apontou
que Aécio tentou atrapalhar a Lava-Jato ao tentar selecionar os delegados da
Polícia Federal (PF) que tratam da operação e ao pressionar pela troca do
ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio, a quem a corporação estava subordinada.
A PGR apontou ainda outra frente em que Aécio teria tentado atrapalhar a Lava-Jato:
projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional.
Ele teria articulado a
anistia do crime de caixa dois, e a aprovação de projeto que trata do abuso de
autoridade, como forma de constranger Judiciário e Ministério Público.
Marco Aurélio aceitou a
denúncia quanto à pressão sobre PF, mas rejeitou quanto à atuação de Aécio no
Senado. Segundo ele, isso seria criminalizar a atividade parlamentar.
Mas houve
maioria, com os votos de Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux, para
aceitar integralmente a denúncia.
Em nota, Aécio voltou a
dizer que não cometeu crime.
Também afirmou receber com serenidade a decisão da
Primeira Turma e que está "confiante de que, agora, haja espaço para a
apresentação e avaliação das provas da defesa".
Ele voltou a dizer que
houve uma armadilha feita por "criminosos confessos", ou seja, os
delatores da JBS, em conluio com integrantes do Ministério Público.
Atacou
ainda a validade das provas obtidas e defendeu a não criminalização da
atividade parlamentar.
"Não cometi crime
algum. Minha prioridade será apresentar à Justiça todos os fatos que demonstram
a absoluta correção dos meus atos e de meus familiares.
Não tenho dúvida de que
isso será demonstrado.
A verdade há de prevalecer", diz trecho da nota,
acrescentando:
"Não esmorecerei enquanto não provar minha inocência.
Vou
fazê-lo em respeito à minha vida pública, à minha família e aos milhares de
brasileiros, e especialmente mineiros, que confiaram em mim durante 32 anos de
mandatos consecutivos.”
PROVAS DA JBS SÃO VÁLIDAS
No início do julgamento, os
ministros rejeitaram pedidos preliminares da defesa.
Os advogados queriam, por
exemplo, invalidar as provas obtidas com a delação da JBS, o que foi rejeitado.
Também ficou decidido que o processo continuará na Primeira Turma, composta por
cinco ministros e tida como dura em matéria penal, não sendo remetido para o
plenário da corte, integrada por todos os 11 ministros do STF.
Além disso, o processo não
será dividido para remeter para a primeira instância a parte da investigação
que diz respeito a quem não tem foro privilegiado. Assim, todo o processo
permanece na corte.
Em sua fala, o advogado de
Aécio, Alberto Toron, disse que o simples fato de seu cliente ser senador não o
impede de pedir dinheiro emprestado ao empresário Joesley Batista.
— O fato de ser senador da
República, por si só, não impede que ele peça emprestado o dinheiro — declarou
Toron.
Em nome do Ministério
Público Federal (MPF), o subprocurador-geral da República Carlos Alberto
Carvalho de Vilhena Coelho usou a maior parte do tempo a que tem direito para
defender a validade das provas no inquérito.
Segundo ele, como há "farto
material comprobatório" em razão de uma ação controlada da PF que filmou
parte dos repasses, a defesa preferiu pedir a nulidade das provas, em vez de
rebater as acusações em si.
— É importante frisar que a
partir da segunda entrega de valores, ou seja, os pagamentos de R$ 500 mil
realizados nos dias 12 e 19 de abril e 3 de maio de 2017, foram acompanhados e
registrados em áudio e vídeo pela Polícia Federal no âmbito das ações
controladas 4315 e 4316, autorizadas por esta corte, havendo portanto nos autos
farto material comprobatório.
Talvez por isso os fatos não tenham sido tão
explorados pela defesa dos acusados. Preferiram eles apontar supostos vícios
quanto às provas que dão sustentação à presente denúncia — argumentou o
subprocurador-geral da República.
O pedido de Aécio
A entrega de dinheiro para o
primo de Aécio, Frederico Pacheco
1º entrega
2º entrega
Portando uma mochila, Fred,
primo de Áecio Neves, chegou à sede da JBS, em São Paulo.
Ricardo Saud, diretor
da JBS, recebeu Fred com um almoço.
Na filmagem é possível ver Saud
transferindo o dinheiro de uma mala para a mochila de Fred.
Saud e Fred saem juntos.
Fred estava carregando a mochila com R$ 500 mil
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