WANDERLUST
– ESSA VONTADE LOUCA DE PARTIR PARA QUALQUER LUGAR
POR CRISTINA PARGA
Quem nunca sonhou em pôr a
mochila nas costas e deixar para trás as ruas, travessas, casas, mirantes que
tanto conhecemos – para se perder (e se reencontrar) em paisagens nunca
imaginadas, ouvindo a música de línguas estrangeiras, descobrindo cheiros, sabores,
olhares e costumes que nem sabíamos que existia?
Quem nunca dormiu numa cama,
em outra cidade a horas da própria e, ao acordar, sentiu aqueles segundos
mágicos de não reconhecimento, de não ter ideia de onde se está?
Wanderlust é uma palavra
em alemão formada pela junção do verbo "wandern", que significa andar
sem rumo específico, perambular, explorar um lugar sem direção específica e
"Lust", que poderia ser traduzido como "drive"ou
"craving" em inglês – ou seja, mais que um desejo, uma ânsia
profunda.
Não há tradução específica
para Wanderlust em português.
Não no dicionário.
Mas esse sentimento, que
invade a gente, cutuca e nos promete maravilhas se ousarmos sairmos da zona de
conforto, é tão comum que o termo já faz parte da cultura pop.
Afinal, quantas
vezes não sentimos esse desejo absurdo de voar sem rumo, largar as raízes e
descobrir novos caminhos, descobrindo a nós próprios – na esquina de cada
cidade desconhecida?
Abrir a janela e sentir o
vento.
Abrir o mapa e escolher, de olhos fechados.
Ou com um desejo profundo –
um desejo noturnamente gerado em sonhos, numa hiperatividade inconsciente de
si.
Abrir os olhos e escolher
o destino.
Escolher partir.
Sonhar com encostas, pedras, estrelas, conchas –
seres estranhos, estrangeiros.
Com cheiros e sabores que só se pressentem, que
permanecem à espreita, à espera de existir no real.
Sonhar com rostos róseos,
em cores que explodem a simples menção de um poema.
Mas não é preciso ir
embora. Wanderlust é como uma palavra mágica – ela carrega um sentido e um
sentimento que preenche a nossa alma de um desejo, de uma fome, que pode ser
satisfeita ou não.
Que pode ser abafada/cultivada folheando guias de viagem,
livros de fotos de países distantes, vendo filmes, ouvindo poemas em outras
línguas que não se entenda.
Esbarrando no estranhamento do cotidiano, que só
nutre esse desejo de partir para qualquer lugar onde mais do que se sentir
estrangeiro na terra natal, sejamos estrangeiros de verdade.
[Palavras são mágicas.
Palavras são pedras, estrelas, conchas, mortos-vivos pesados e brilhantes,
existindo muito além.
Fazendo existir.
Palavras são, muito mais do que nós, do
que qualquer um de nós.]
Quando escrevo mar, o mar
entra todo pela janela, diz Al Berto, o poeta português.
Levanto as mãos e o
vento levanta-se nelas, diz Herberto Helder, outro poeta lusitano.
Levanto os
olhos para o mar, despeço-me.
Escrevo Wanderlust no papel e o desejo me
transporta para onde eu quiser.
Hoje vou partir para onde
o sonho levar.
Que seja ele, e só ele, a escolher o destino.
Que seja.
post: Marcelo Ferla
texto: Cristina Parga
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