As escravas sexuais da 2ª
Guerra que estão no centro de novo conflito diplomático entre Japão e Coreia do
Sul.
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Ativistas
colocaram estátua de protesto em frente à embaixada japonesa na Coreia do Sul
em 28 de dezembro.
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Por causa de uma estátua,
o Japão retirou temporariamente seu embaixador em Seul, na Coreia do Sul, dando
início a um novo conflito diplomático entre os dois países.
A escultura de bronze, de
1,5 metro de altura, representa uma "mulher de conforto" - termo
usado para designar mulheres escravizadas sexualmente por militares japoneses
durante a Segunda Guerra Mundial - jovem, descalça e sentada em um banco.
A obra foi colocada por
ativistas em frente ao consulado japonês em Busan, a segunda maior cidade
coreana.
Mulheres da China,
Indonésia, Filipinas e Taiwan também foram forçadas a trabalhar nos bordéis
militares, mas as coreanas constituíram a grande maioria.
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Estima-se
que cerca de 200 mil mulheres foram escravizadas por tropas japonesas
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Calcula-se que cerca de
200 mil passaram por essa situação - a Coreia do Sul estima que 46 delas ainda
vivem no país.
"Somos muito velhas.
Vamos morrendo ano a ano - uma por uma", disse à BBC, em 2013, Lee
Ok-seon, então com 88 anos.
'Como um matadouro'
Grande parte dessas
mulheres mora em um asilo na cidade de Gwangiu.
Localizada em uma estrada
secundária na zona rural, a construção se destaca em meio a cabanas e fazendas
de tomates que a rodeiam - é cheia de placas e estátuas que contam as histórias
de suas habitantes.
São histórias como a de
Ok-seon, raptada aos 15 anos e enviada para uma região da China sob controle
japonês na época.
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Lee
Ok-seon foi raptada aos 15 anos e escravizada sexualmente por três anos
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A coreana contou à BBC ter
tentado convencer seus pais a mandá-la para a escola, mas, com mais de uma
dezena de filhos para alimentar, a família não teve condições de atender ao
pedido.
Ela acabou sendo enviada
para longe de casa, para trabalhar como empregada doméstica.
Foi assim que
acabou sequestrada e levada para a China.
Uma vez lá, foi
escravizada sexualmente por três anos em uma das chamadas "estações de
conforto", instaladas pelo exército japonês para atender a seus soldados.
"Era como um
matadouro, mas não para animais e sim para humanos. Ali faziam coisas
horríveis", disse Ok-seon.
Enquanto contava sua
história, mostrava cicatrizes nos braços e nas pernas, que afirmou serem
resultado de punhaladas.
Ela tentou escapar do
bordel várias vezes.
"Mas me apanharam."
Por causa de
espancamentos, Ok-seon perdeu parte da audição e dos dentes.
Segundo um voluntário da
instituição que atende as vítimas, outras lesões a tornaram estéril.
Desculpas recentes
Apesar de dezenas de
testemunhos sobre o sofrimento a que eram submetidas, mulheres como Ok-seon
vieram a público pela primeira vez em 1981.
Mas o Japão só reconheceu o uso de
bordéis de guerra 12 anos depois.
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Ativistas
instalaram estátua por não concordar com acordo firmado entre Coreia do Sul e
Japão para encerrar a questão.
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Tóquio pediu desculpas
pela primeira vez em 2007, mas muitos não consideraram o pedido sincero, já que
vários japoneses seguem negando que mulheres foram escravizadas sexualmente
durante a Segunda Guerra.
No dia 28 de dezembro de
2015, as autoridades da Coreia do Sul e do Japão selaram um acordo com o qual
desejavam finalmente virar essa página da história - foi exatamente quando
comemoravam 50 anos do restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois
países.
"O primeiro ministro
(Shinzo) Abe expressa suas mais sinceras desculpas e arrependimento a todas que
padeceram incomensuráveis e dolorosas experiências e sofreram feridas
psicológicas e físicas incuráveis como mulheres de conforto", declarou em
Seul à época o chanceler japonês Fumio Kishida.
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O
Japão se desculpou pelas 'mulheres de conforto' pela primeira vez em 2007
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O acordo incluía ainda um
fundo de compensação de um bilhão de yens (R$ 26 milhões) para apoiar as
sobreviventes.
Pelo pacto, Seul se
comprometia a dar o assunto por resolvido de forma final e irreversível.
Mais estátuas
Mas com a instalação da
estátua e a retirada do embaixador japonês de Seul, a história ganhou um novo
capítulo.
Os ativistas instalaram a
escultura em frente ao consulado do Japão em Busan em 28 de dezembro de 2016,
aniversário do acordo.
A ação foi uma crítica ao
pacto - as vítimas não teriam sido consultadas e o Japão não assumiu sua
responsabilidade legal no caso.
E ela não é a única
estátua representando "mulheres de conforto" na Coreia do Sul.
Acredita-se que o total no país seja de 37.
Outra foi colocada na Austrália, o
que provocou uma disputa entre as comunidades japonesas e coreanas locais.
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A
estátua de 'mulher de conforto' provocou polêmica entre comunidades
australianas do Japão e da Coreia do Sul.
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A polícia de Busan
inicialmente retirou a estátua, sob protestos de habitantes locais, segundo o
jornal The Korean Herald.
Mas as autoridades locais
permitiram que ela fosse instalada novamente porque a ministra da Defesa do
Japão, Tomomi Inada, visitou o santuário de Yasukuni, onde se encontram
listados os nomes de 2.466.532 militares japoneses, 27.863 coreanos, 21.181
taiwaneses e de outras nacionalidades que morreram pelo Japão imperial.
Críticos criticam o local,
que é polêmico por dar lugar também a combatentes classificados como criminosos
de guerra.
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Japão
pediu que Coreia do Sul lidasse com a questão de forma apropriada.
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O Japão afirma que a
estátua viola o acordo de 2015, que determinava que as reparações feitas pelo
Japão resolveriam o assunto de forma irreversível.
Em uma declaração na
sexta-feira, o primeiro ministro japonês Shinzo Abe disse ser importante que os
países cumpram o acordo.
Além do embaixador, Tóquio
também retirou do país seu cônsul-geral em Busan, suspendeu a troca de moedas e
adiou importantes negociações econômicas.
"Nós pedimos
repetidamente à Coreia do Sul para resolver essa questão de forma apropriada,
mas a situação não melhorou, então tomamos essa ação", disse o chefe da
Secretaria de Gabinete do Japão, Yoshihide Suga.
A Coreia do Sul, por sua
vez, afirmou: "Ainda que haja questões difíceis, os governos dos países
deveriam continuar desenvolvendo sua relação com base na confiança".
post: Marcelo Ferla
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