O mundo está à beira de um
apocalipse dos antibióticos?
Helena
Merriman
BBC
Mundo
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Quanto
mais antibiótico tomamos, mais resistentes as bactérias ficam.
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Todo ano, pelo menos 700
mil pessoas morrem de infecções resistentes a medicamentos.
Não é à toa que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu a resistência aos antibióticos
como uma das maiores ameaças globais do século 21.
Mas o que está sendo feito
para tentar evitar o que poderia ser chamado de "apocalipse dos
antibióticos"?
Primeiramente, há uma
tentativa de reduzir o uso deste tipo de medicamento, uma vez que, quanto mais
antibiótico tomamos, mais resistentes as bactérias ficam.
O psicólogo Jason Doctor,
da Universidade do Sul da Califórnia, vem desenvolvendo experimentos para
verificar se é possível fazer com que os médicos receitem menos medicamentos.
Ele convenceu mais de 200
médicos a assinar uma carta dirigida a seus pacientes, assumindo o compromisso
de serem mais rigorosos na hora de prescrever antibióticos.
As cartas foram
transformadas em cartazes e coladas nas paredes de seus consultórios.
Os experimentos também
adotaram um sistema de classificação.
Os médicos recebiam um e-mail mensal com
informações sobre quantos antibióticos estavam prescrevendo inadequadamente em
comparação aos seus colegas.
Foram criados ainda
alertas nos computadores dos médicos, levando-os a questionar se realmente
precisavam prescrever os antibióticos, e mostrando como poderiam lidar com
pacientes insistentes que exigiam a medicação.
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Nos
Estados Unidos, experimento fez com que médicos receitassem menos antibióticos.
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Quando todas essas
abordagens diferentes foram adotadas juntas, o número de prescrições de
antibióticos foi reduzido drasticamente.
Algumas dessas mudanças
estão sendo implementadas nos Estados Unidos e em outros países.
Mas, mesmo que
as pessoas façam uso de antibióticos apenas quando estão precisando de fato,
isso não resolveria o problema.
Os seres humanos são um grande mercado para
antibióticos, mas há um ainda maior.
Em 1950, foi descoberto
que os antibióticos fazem os animais crescerem mais rápido.
Desde então,
fazendeiros de todo o mundo têm injetado o medicamento em seus animais, mesmo
após estudos científicos comprovarem que a resistência bacteriana poderia
passar dos animais para os seres humanos.
Um país, no entanto,
mostrou que é possível reverter esse cenário.
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Resistência
bacteriana também é disseminada por meio da cadeia alimentar.
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A Holanda tem mais animais
por metro quadrado do que qualquer outro país do planeta e, durante anos, esses
animais foram rotineiramente alimentados com antibióticos.
A proibição de dar
antibióticos como promotores do crescimento aos animais surtia pouco efeito,
uma vez que os agricultores usavam a mesma quantidade e apenas os rotulavam de
forma diferente.
Mas, após uma série de
danos à saúde, o governo decidiu repreender os fazendeiros.
Em 2009, os
agricultores foram avisados que teriam que reduzir em 20% a quantidade de
antibióticos que davam aos seus animais, num período de dois anos, e em 50%,
num prazo de cinco anos.
O veterinário Dik Mevius,
especialista em doenças infecciosas, ajudou os agricultores a elaborar um plano
para atingir essas metas.
Eles criaram um banco de
dados, revelando os agricultores que mais transgrediam a regra, e impediram os
fazendeiros de comprarem antibióticos de diferentes veterinários.
Se um
veterinário ou agricultor prescrevesse ou usasse antibiótico
desnecessariamente, era multado ou perdia a licença.
Então, os fazendeiros
holandeses entraram no eixo e pararam de usar tantos antibióticos. Para muitos
deles, isso significou mudar a maneira como criavam seus animais.
"Foi realmente uma
revolução", disse Mevius.
"Nós reduzimos em 60% a quantidade de
antibióticos usados em apenas alguns anos", completou.
A maioria dos países está,
no entanto, caminhando na direção oposta.
Estima-se que China, Brasil, Rússia,
Índia e África do Sul deverão dobrar seu uso de antibióticos até 2030, o que
levará a resistência a se espalhar.
É por isso que cientistas de todo o mundo
estão vasculhando oceanos, florestas tropicais e desertos em busca de novas
fontes de antibióticos.
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Será
que a saliva do dragão de Komodo pode ajudar a desenvolver um novo tipo de
antibiótico?
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Recentemente, pesquisadores
foram ao Panamá e colheram amostras da pele de uma preguiça de três dedos.
Outros cientistas têm procurado novos antibióticos na saliva de dragões de
Komodo.
Mas ainda é muito cedo para dizer se esses experimentos serão bem
sucedidos.
Comunicação entre
bactérias
Há também aqueles que não
estão procurando novos antibióticos, mas estão lutando contra as bactérias.
A
microbiologista Kim Hardie, da Universidade de Nottingham, na Inglaterra,
estuda a forma como as bactérias se comunicam. Sim, as bactérias se comunicam.
Quando uma única bactéria
chega aos seus pulmões, ela se esconde do seu sistema imunológico e dos
anticorpos que podem matá-la.
Ela não revela suas armas - suas toxinas -, mas
fica ali, esperando.
"Uma vez que a
bactéria percebe que é um bom lugar para se multiplicar, então ela se
comunica", explica a cientista.
As bactérias isoladas se
relacionam umas com as outras, até sentirem que estão em número suficiente. Em
seguida, se armam e atacam o sistema imunológico.
"Se você tem um único
soldado contra um castelo, não vai ameaçar o castelo", afirma Hardie.
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Investigar
a comunicação entre bactérias pode ser outra forma de resolver o problema.
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"Mas, se esperar que
o resto do exército chegue e mostre suas armas ao mesmo tempo, os soldados
podem vencer o castelo."
E se você puder impedir
que as bactérias se comuniquem, fazendo com que, embora você tenha bactérias
nocivas em seus pulmões, elas não consigam se relacionar umas com as outras e
assim lançar um ataque?
Hardie afirma que isso
pode ser feito e conta alguns experimentos em laboratório tiveram bons
resultados.
A pesquisadora estima que um antibiótico baseado neste princípio
poderia chegar ao mercado em cerca de dez anos.
Há muitos outros
experimentos e projetos em andamento.
O sucesso vai depender, em grande parte,
de aprendermos mais sobre as bactérias.
Como ensina o livro A Arte
da Guerra, de Sun Tzu, é preciso conhecer o inimigo para vencer a batalha.
Como
podemos evitar o apocalipse de antibióticos?
Aprendendo a enganar as bactérias.
post: Marcelo Ferla
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