Quase 20% dos alunos do
ensino público não querem ter um colega homossexual.
POR
Thiago de Araújo, de HUFFPOST BRASIL
Um em cada cinco
estudantes do ensino público brasileiro declara abertamente não querer ter um
colega homossexual em sua classe escolar.
Essa é uma das conclusões da pesquisa
Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: Por que frequentam?, divulgada em
novembro do ano passado e que procurou, entre outros temas, traçar os
preconceitos mais comuns entre alunos.
O estudo foi feito pela
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil), Organização dos
Estados Ibero-americanos para a Educação a Ciência e a Cultura (OEI), e do
Ministério da Educação.
Nele, 19,3% dos estudantes disseram que não queriam ter
um colega na escola que fosse homossexual, travesti, transexual ou transgênero.
“A homofobia é um dos
principais tipos de preconceitos nas escolas. Homossexuais, transexuais,
transgêneros e travestis são indicados como pessoas que não se queria ter como
colega de classe por 19,3% dos alunos, sendo os jovens do EM (Ensino Médio) os
que mais se rejeitam essas pessoas”, diz trecho do levantamento.
Ainda de acordo com a
pesquisa, a rejeição é maior entre os meninos, com 31,3% deles afirmando não
quererem ter um colega homossexual – entre as meninas o índice ficou em 8%.
Elas, por outro lado, possuem maior rejeição contra “os bagunceiros, os
puxa-saco dos professores e os egressos de unidades prisionais”.
Em entrevista ao UOL, a
coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, disse ter ficado impressionada com
a contundência no que tange a homofobia no ambiente escolar do País.
“O que
percebemos é que esse número é tão alto quanto na primeira pesquisa, Juventude
e Sexualidade (de 2004)”, avaliou ela.
O preconceito contra
colegas homossexuais e também contra egressos de unidades prisionais mostra, de
acordo com Miriam Abramovay, que a escola não está conseguindo tratar de certos
temas.
“Muitas vezes a escola nem fica sabendo, eles nem se queixam, não têm
onde se queixar. E todas essas questões prejudicam aprendizagem, prejudicam os
alunos”.
No que diz respeito a
temas como drogas, pena de morte e maioridade penal, a socióloga afirma que os
dados apresentam um cenário em que os meninos são muito mais conservadores do
que as meninas.
Depoimentos
Ao longo da pesquisa,
exemplos são apresentados para dar embasamento dos números. Um deles envolve o
relato de um estudante homossexual, que estuda em Cuiabá (MT), o qual descreve
“o sofrimento com a existência de preconceito por parte dos colegas”.
“Vejo muita gente que às
vezes me exclui por eu ser homossexual.
Meus amigos mesmo.
Tem locais que eu
entro, locais públicos, você está lá com seus amigos. Tem uma amiga minha que
se veste como um homem. Então a partir do momento que a gente coloca um pé lá, todo
mundo olha diferente.
Todo mundo mostra, dão um gesto que não estão se
agradando.
Eu sei lá. É coisa que dói bastante.
Quem é homossexual sente tudo
isso. A gente sente, a gente vê.
A gente tenta disfarçar mas não consegue”.
Outro ponto destacado pela
pesquisa é que “alinhamento religioso e moralismo” influem no comportamento e
discussões entre os estudantes no ambiente escolar.
Para os pesquisadores, as
escolas poderiam capitalizar em cima dessas discussões, as quais muitas vezes
expõem preconceitos até mesmo entre aqueles alunos que declaram respeitar os
colegas homossexuais.
“Fui com minha irmã na
faculdade dela resolver uns assuntos.
Aí chegando lá a maioria dos amigos da
classe eram homossexuais e mesmo, mas eles tinham comportamentos normais de homens,
se vestiam como homens, mas tinha as relações deles a parte.
Quando ele levanta
uma bandeira gay acho que isso é o cúmulo do mundo em dizer ‘ah eu sou gay’, tá
com uma bandeira na praia ‘porque eu sou gay’.
É não levanto uma bandeira pra
dizer eu sou hétero.
O que é não tem dúvida”.
A falta de discussão
também atinge temas como o racismo e as cotas, de acordo com o estudo.
post: Marcelo Ferla
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