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terça-feira, 9 de agosto de 2016

Falando nisso - publicação pendente.


“Ligações Perigosas”: Por que na Globo um beijo gay é polêmico e uma cena de estupro é aceitável?
editado em 08.01.2016


Andréa Martinelli - Editora de Blogs & Mulheres do HuffPost Brasil 
*Atenção: este texto contém relatos de cenas de estupro
A microssérie Ligações Perigosas estreou nesta semana na Rede Globo prometendo um enredo fiel ao texto original, o clássico Les liaisons dangereuses (As Ligações Perigosas, em tradução livre), romance epistolar do século 18, com cenas e estética sensuais, envolvente e um beijo entre duas mulheres.
Uma fórmula que costuma dar certo, mas que, desta vez, não agradou.
Os motivos?
Primeiro, o capítulo da última quinta-feira (7).
Nele, Cecília (Alice Wegmann) permite que Augusto (Selton Mello) vá ao seu quarto todas as noites entregar cartas de amor de Felipe (Jesuíta Barbosa), por quem Cecília é apaixonada.
Ingênua e romântica, ela não imagina que, por trás da atitude de Augusto, está Isabel (Patrícia Pilar), e que a intenção dele é, na verdade, seduzi-la para tirar sua virgindade a mando da tia.
E foi isso o que Augusto fez.
Mas não foi seduzindo, envolvendo a adolescente, como a Globo anunciou.
Ele estuprou Cecília.
Na cena, Cecília pede repetidas vezes para Augusto ir embora, mas ele insiste em ficar e diz que só vai sair após um beijo. 
Ele diz que quer ensiná-la a dar "um beijo de verdade".
Ela cede ao beijo, mas insiste para que ele vá embora depois. 
Mas Augusto continua investindo contra Cecília, que diz que vai gritar para interrompê-lo.
E é neste momento em que Augusto tapa a boca dela e deita a menina na cama.
Assim se consuma o estupro.
O capítulo acaba com o foco no rosto de Cecília, que demonstra estar sentindo prazer após a penetração, romantizando uma violência vivida por muitas mulheres.
E as telespectadoras ficaram incomodadas -- e com razão:
Eu to pedindo a Deus que Ligações Perigosas não romantize o estupro. SÉRIO. — Nalu (@_NoAnna) 8 janeiro 2016;
"Gente, a cena ontem de #LigacoesPerigosas foi sim de estupro, inclusive no filme também foi (pelo que me lembro no livro também).
Mistura de nojo e raiva! #LigacoesPerigosas — Fabiola Viana (@VianaViiana) January 8, 2016"
"Aí galera que não sabe o que relação abusiva e cultura do estupro, foi essa cena de Cecilia e Augusto aí #LigacoesPerigosas"
Você pode até questionar que a cena citada acima se passou no século 18 (e na década de 1920, quando a série global ocorre) e que isso, para o livro, e para a época, se encaixa... Afinal, a mulher não tinha tanta liberdade quanto tem nos dias atuais, não havia internet e, sim, grande maioria delas era submetida a situações assim e acreditava ser "natural".
Mas a principal questão não é essa!
A crítica não é sobre o livro, sobre a trama. 
E é aí que está o segundo motivo e ponto crucial do repúdio de telespectadores. 
O comentário da jornalista Daniela Lima se encaixa perfeitamente:
Daniela Lima
“A Globo passou anos debatendo se faria uma cena de beijo gay ou lésbico. Consultou várias vezes o público. 
No entanto, para mostrar uma cena longa e perturbadora de estupro, como aconteceu ontem em Ligações Perigosas, não houve nenhum tipo de preocupação ou consulta. 
Ainda estou tentando entender essa "moral" que interdita o amor e romantiza a violência.”.
Inicialmente, a trama prometia um beijo gay entre duas personagens.
No primeiro capítulo, em uma brincadeira, a personagem Alice (Hanna Romanazzi) tentaria beijar Cecília. 
No primeiro capítulo, de fato, elas ficaram bem próximas. 
Não houve beijo.
Em outro momento, o personagem de Selton Mello estava em uma cena com outras duas mulheres e, no momento em que elas insinuaram um beijo entre si, a câmera mudou de plano. Mais uma vez, sem beijo entre mulheres.
A Globo já colocou um beijo gay entre duas mulheres no primeiro capítulo de uma novela no ano passado em Babilônia. 
Mas, para isso, tomou todos os cuidados -- o que também causou expectativa nos telespectadores e na comunidade LGBT. 
E foi com toda essa parcimônia também que, depois de cinco décadas, a Globo resolveu levar ao ar um beijo de dois homens, na novela Amor à Vida, no início de 2014.
Por que esse cuidado todo que a TV Globo tem com as cenas de beijo gay não se repete na exibição das cenas de estupro, como o sofrido por Cecília?
A "moral", citada no comentário acima, que interdita o amor e abre espaço para a violência é real.
A verdade é que questões como esta estão diretamente ligadas à cultura do estupro, que culpabiliza vítimas e coloca agressores em posições de grandeza desde sempre.
Cenas de estupro podem ser consideradas "aceitáveis" porque, na lógica machista e patriarcal, a mulher é apenas um objeto e existe em função do homem e para servir ao homem. 
Então, qual o problema, não é mesmo?
No caso de Cecília, em Ligações Perigosas, o estupro foi romantizado quando mostra a personagem sentindo prazer e demonstrando gostar do ato.
A cena coloca Cecília no lugar de "menina inexperiente que só disse 'não' porque não sabia o que era bom" e reforça a falta de liberdade sexual da mulher. Também enfatiza que um "não", quando parte de uma mulher, nunca é realmente um "não".
E por que, por sua vez, o beijo gay é tão velado e escondido?
Porque fere com a sexualidade alheia de uma forma moralmente inaceitável dentro da mesma lógica patriarcal, que é também homofóbica.
Homens devem apenas se relacionar com mulheres. 
"Amores n u n c a JAMAIS em hipótese alguma romantizem o estupro JAMAIS #ligaçoesperigosas".
E mulheres devem se relacionar apenas com homens.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ocorreram, pelo menos, entre 136 mil e 476 mil casos de estupro no Brasil só em 2014. 
É uma violência velada em que apenas 10% dos casos são notificados.
Nunca, jamais, em tempo algum, romantizem o estupro.

Seguir Andréa Martinelli no Twitter: www.twitter.com/deamartinelli

post: Marcelo Ferla

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