11 DICAS PARA NÃO SER UM
LEITOR-COBAIA NA INTERNET.
A
verdade é um alvo em potencial na rede.
O jornalista Leonardo Sakamoto explica
em seu livro "O que aprendi sendo xingado na internet" como não ser
enganado.
POR
LEONARDO SAKAMOTO
Estas são dicas rápidas
para você não ser enganado na guerra cotidiana por corações e mentes que está
deflagrada na internet. Porque, em uma guerra, a verdade (se é que ela ainda
existe) é sempre a primeira vítima:
1. Olhe sempre a data do
texto
Há muita gente que, por
inocência ou sacanagem, replica links antigos como se o fato tivesse acabado de
acontecer.
Como o momento em que um fato ocorre é importante para a sua
compreensão, a impressão que fica é de que o problema se repete por
incompetência de alguém num eterno dia da marmota.
2. Fuja de textos anônimos
A chance de uma denúncia
anônima e sem a fonte da informação circulando no WhatsApp ser séria é a mesma
de um jabuti escalar um poste de luz sozinho.
Se recebeu, demonstre nojinho e
desconfie.
3. Procure o autor
OK, o autor do texto está
identificado, o que significa que ele assume a responsabilidade pelo que
escreve.
Mas… quem é ele mesmo? Pode ser um ilustre fake, um notório hater ou
simplesmente alguém que não manja nada do que está dizendo. Nada como dar um
Google para saber um pouco mais sobre o cara.
Se for um suposto “especialista”,
vale buscar o currículo na Plataforma Lattes para ver se o sujeito é mesmo quem
diz.
4. Desconfie das “evidências”
Para dar ares de verdade a
opiniões bombásticas, muitos textos apresentam “provas” que, para serem mais
verossímeis, são geralmente respaldadas por instituições ou autoridades.
Muitas
vezes, dizer que “a justiça mostrou que Fulano recebe milhões de tal partido”,
“a PF descobriu que Beltrano tem altas contas na Suíça”, e tal e coisa ajuda a
envernizar uma mentira.
Como o papel e a tela aceitam tudo, não custa nada, de
novo, tirar a prova no Google para ver se as evidências são mesmo reais.
5. Busque o contexto
Quando alguém tenta
desacreditar uma ideia, pinça uma frase ou uma imagem fora de seu contexto e a
utiliza para construir seu argumento.
Como parte das pessoas foi condicionada a
agir como gado diante do discurso de quem confia, acaba acreditando no novo
significado que o sujeito tentou impor ao descontextualizar.
Ou seja, na
dúvida, Google nele.
6. Não seja ingênuo, leia
Ler um texto até o final é
fundamental.
O título, a foto e legendas não são capazes de trazer toda a
complexidade de um argumento. Se não tiver tempo para ler, não compartilhe ou
curta.
Você pode, sem querer, estar difundindo uma peça de racismo ou de
violência contra a mulher.
7. Não se deixe levar por
quem escreve bonito
O texto pode até estar te
xingando de uma forma doce, e você nem vai perceber se não observar atentamente
o significado das palavras que o autor escolheu.
Além disso, fique atento: uma
pessoa pode escrever com certeza absoluta do que diz e, ainda assim, estar
errada.
8. Cuidado com os sites
fantasmas
Não é porque um site
publicou um assunto com uma abordagem com a qual você concorda que ele é
honesto ou faz bom jornalismo.
Procure um “quem somos” ou um “expediente” e
veja quem trabalha lá.
Se não encontrar, desconfie.
9. Não se apegue tanto às
imagens
Até uma criança não
alfabetizada é capaz de manipular uma foto com aplicativos on-line.
Então, por
que você acredita que uma imagem é uma prova irrefutável de um argumento?
Ao
mesmo tempo, ao editar uma imagem, deixando partes dela de fora, se excluem desafetos
ou cria-se a impressão de multidões onde elas não estavam.
10. Grite “truco!” com as
imagens
Pouca gente sabe, mas o
Google Imagens tem um mecanismo bem legalzinho.
Na caixa de busca, clique no
ícone de máquina fotográfica e arraste para lá a imagem de que você desconfia.
O robozinho vai mostrar imagens parecidas – ou iguais – e informar de qual site
elas foram tiradas.
É um jeito de você rastrear de onde ela veio, se foi
alterada etc.
11. Leia coisas das quais
discorda
Não é porque você não
concorda com uma opinião ou informação presentes em um texto bem-fundamentado
que ele não merece ser lido.
Considere que o mundo é mais complexo do que você
pode imaginar e que a pluralidade de ideias, desde que não desejem a morte de
alguém, ajuda a crescermos como sociedade.
O contrário disso se chama ditadura.
*Trecho do livro '#O que
aprendi sendo xingado na internet', do jornalista, professor e cientista
político Leonardo Sakamoto. Ele é diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro
do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.
post: Marcelo Ferla
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