Ao Mestre.
Escrito em 12/04/2015
A muito não encontrava
motivos ou assuntos que me fizessem ter a vontade, a excitação de cuspir minhas
opiniões a cerca do que viria a escrever ou estava acontecendo em nosso mundo
nestes últimos tempos.
As coisas andam muito
iguais, nada muda, só pioram e, na maioria delas, já formei minha opinião em
textos anteriores, o que de certa forma, resseca meu poço de ideias e faz com
que meu ímpeto de opinante em textos autorais (medíocres, mas meus) pareça ter
se esvaído por ai, dado um tempo a si mesmo, tirado férias mais prolongadas,
pois tudo que leio e vejo em jornais e na mídia como um todo, principalmente na
internet, me enjoa, me dá tédio, mal estar, como uma comida que se come e esta
encontrasse estragada e, por isso, se fica, depois, anos sem poder sequer ver
ela na sua frente.
Mas cá estou. Infelizmente
fui movido a escrever estas humildes palavras em decorrência de um
acontecimento, que em minha opinião e na de muitos vêm em péssimo momento, o
falecimento de Paulo Brossard de Sousa Pinto que nos deixou ontem aos 90 anos
de idade.
Brossard era homem de
poucas palavras, mas com uma capacidade de escrita fulminante e de oratória
arrebatadora a quem o escutava, sempre a favor da nossa lei maior e sempre
contra aqueles que entravam em sua alça de mira em seus textos, na sua maior
parte todos abatidos por ele no decorrer das linhas que escrevia, eis que que
Brossard era homem que falava, escrevia e fazia, tudo com o devido fundamento
exigido, sem brechas aos criticados.
Nascido em Bagé no dia 23
de outubro do ano de 1924, este homem que aqui tento homenagear foi quase tudo
que um político deseja para a sua carreira pública.
Fora deputado estadual,
federal, pelo Rio Grande do Sul, secretário de Estado, senador, ministro da
república e do STF.
O que mais poderia querer ou o que mais pode querer alguém
que como jurista exemplar, de estudo profundo do direito, biblioteca pessoal
invejável a qual tinha a capacidade de dizer aos que a visitavam quando tomavam
uma obra dela em mãos, qual o título, autor e orar fluentemente do que se
tratava esta.
Paulo Brossard era
conhecido e respeitado de forma tão veemente por seus conhecidos que uma
máxima, infelizmente hoje não mais existente e tão pouco respeitada nas casas
do legislativo que dizia: “Brossard vai falar”. Era o que bastava para o
Congresso nacional se calar por total, algo hoje inimaginável.
Foi jurista, foi político,
fora advogado.
Apesar de ele mesmo ter
confessado em entrevista uma vez que chegou a simpatizar com o Regime Militar,
com sabedoria e reflexão logo escolheu o lado certo, se tornando um dos mais
emblemáticos “subversivos” de sua época. Ele o era com as palavras que dizia,
não com armas em punho, um verdadeiro baluarte.
Como político, talvez um
de seus maiores momentos fora a candidatura à vaga no senado na qual tinha como
adversário Nestor Jost, candidato e nome da ditadura.
Com o código penal em
mãos, firme com sua postura no púlpito, destroçou seu adversário em debate
ocorrido á época na TV Gaúcha (hoje RBS TV), o que inevitavelmente lhe conduziu
até a vitória em um golpe esmagador contra o regime ditatorial da época.
Em 1954, em outro momento
delicado, elegeu-se deputado estadual, em plena convulsão provocada pelo
suicídio de Getúlio.
Era político, apesar de
suas fortes convicções, articulado, não sabia só falar, mas sabia, antes de
tudo, ouvir, sendo um dos exemplos disto a crítica que recebera por manter
contato com o então presidente João Figueiredo em 1979.
Dizia Brossard
mostrando seu patriotismo e defesa da Carta Magma intransponíveis e
inabaláveis:
“Converso
até com o diabo para tirar o país da desordem, do caos institucional.”
Não há dúvida de que o
homem que morrera ontem fora um dos últimos grandes personagens da política
brasileira da segunda metade do século passado.
As palavras de outro
grande homem da política, Pedro Simon resumem o que fora Brossard:
“A
perda de Paulo Brossard é algo profundamente lastimável, porque ele é o último
dos líderes de uma geração que, a rigor, deixa o Brasil órfão. Brossard era uma
figura única.”
Brossard, sem dúvida
alguma nos deixa mais frágeis, eis que estou aqui soltando letras sobre homem
que se compara aos grandes de nosso país, a homem que não existe mais hoje em
dia, uns porque se foram, outros porque estão cansados de lutar, já fizeram sua
parte e, quando digo isto falo de nomes como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães,
Leonel Brizola e Pedro Simon, homens que já não tem pupilos, nem tão pouco
semelhantes nos dias de hoje.
Realmente Senhor Paulo
Brossard de Sousa Pinto, Vossa Excelência nos deixa ainda mais desamparados a
partir de agora.
Nos fará falta com suas colunas semanais, elucidações sempre
precisas, escrita esclarecedora sobre assuntos para a maioria espinhosos.
Descanse em paz, no sono
dos justos.
Marcelo Ferla
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