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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Admirável mundo torto.


Qual a necessidade dos extremos?
Antes de entrarmos propriamente em dois textos que selecionei para encerrar as minhas colocações sobre o atentado ocorrido na França contra o semanário Charlie Hebdo, gostaria de dizer que fiquei quase que uma semana tentando elaborar uma opinião própria a respeito do assunto. 

Não o fiz por me considerar limitado para tal, tamanha a delicadeza e gravidade do que o Jornal fazia e gerou como resultado final, com o que lidava, sobre o que debochava e tudo o que já sabemos.
Minha primeira dificuldade foi encontrar uma palavra que respeitasse a morte brutal dos cartunistas em um ato extremista, mas que ao mesmo tempo condenasse o que era feito por eles. 

Confesso a vocês que a primeira palavra a vir em minha cabeça foi “mereceram", mas não achei nada correta em se tratando de um atentado terrorista que matara 17 pessoas. 

A questão é que ninguém merece morrer da forma como estes morreram mas ao mesmo tempo não parava de pensar no exagero das capas a desenhos destes e cheguei a conclusão a contra sensu do que todos escreveram, um lápis e palavras pode sim matar tanto quanto uma arma ou bomba, prova disto se deu com a forma como os cartunistas morreram, através de um atentado, tupo pelas charges absurdas absurda e sem limites criadas por estes. 

Não tenho religião definida, mas nem por isso acho que exageros não resultam em exageros.
Por outro lado há que se falar um pouco do local do ocorrido, a França e, principalmente, sua capital Paris e, mais ainda os que lá moram, os parisienses, eu disse parisienses, e lhes digo, ao contrário do medo que tive de ser muito mal interpretado usando a palavra “mereceram”, eis que não sou simpatizante de atos terroristas, pelo contrário, os abomino, assim como os extremistas que os executam posso dizer que o que ocorreu naquele dia fatídico demorou até demais a acontecer e isso sim digo sem medo de errar.
Confesso que não compreendo esse respeito exacerbado que alguns grandes intelectuais têm com Paris, poderia ser de importância histórica, mas a questão é que até onde sei os franceses parisienses, para com os não parisienses, quem dirá em relação a outras etnias, sempre foram metidos, de narizes empinados e arrogantes ao extremo, o que mais tarde se chamou de extrema direita européia, xenofobia sem limites, arrogância e prepotência. Total sensação de superioridade.
E agora podem me criticar, mas cuidado tenho provas claras de que todos estes atos partem, justamente, dos parisienses, os mesmos que não lhe dão informações na rua, não olham na sua cara ao saberem que se trata de turista, são eles os soberanos e o resto da França que se exploda, e explodiu.
Recordo-me de uma ocasião dentro de um metrô em Paris, em uma madrugada onde eu fora expulso, literalmente, da torre de ferro mais famosa do mundo como se fosse um toque de recolher, eu não era parisiense. 

Desta forma me dirigi ao metrô. Quando este chegou entrei para ir para a casa do amigo que lá me acolhia, pois ai que veio a surpresa, eis que retrocedi séculos no tempo, me senti como se estivesse em uma balsa saída de Cuba tentando entrar ilegalmente nos EUA, ou pior, em um navio negreiro. 

Racismo meu? Jamais.

Meus pais, eu e meus irmãos sempre tivemos dentre nossos melhores amigos negros, sem exceções. 

O que me espantou e me causou um choque fora a questão de que estávamos em seis brancos dentro de um metrô em que só tínhamos nós de brancos, estava este tomado de negros, e convenhamos, isso não é uma cena normal, não em um país em que eu achava ser civilizado e se mostrou racista ao extremo. 

Quando perguntado por um amigo meu em inglês o porque daquilo a resposta fora mais do que óbvia - "só podemos andar e usar o metrô a esta hora", disse um rapaz. Odiei Paris. 

Ainda na questão do trato parisiense imagino o motivo pelo qual nossos intelectuais devem adorar esse lugar. 

Só são bem tratados lá os estrangeiros célebres por serem apresentados em sua chegada como célebres e, em sendo assim, só posso pensar que os grandes nomes que falam tão bem deste lugar o fazem justamente por serem grandes nomes  que sempre falam de forma romântica da cidade luz fazendo isto justamente por se tratarem de pessoas especiais, artistas, escritores, celebridades que não sentem as mazelas dos mortais quando de sua ida para lá.
Para quem ainda não foi à França vos digo, a França maltrata seus próprios filhos de pátria, parisienses não, maltrata os distritos como se chamam os bairros lá, salvo Paris, maltratam negros, muçulmanos, brasileiros, sul-americanos ou qualquer pessoa que tenha uma nacionalidade que não seja bem vinda pelos nobres parisienses.
Quanto ao Charlie Hebdo, o que ocorreu por parte da imprensa foi, inicialmente, corporativismo movido por medo, eis que o EI – Estado Islâmico e a ainda viva Al Qaeda, estas duas pragas da modernidade e de extremos absurdos se espalham por todo o mundo com tentáculos que fazem a Europa entrar em pânico.
Os cartunistas do Charlie Hebdo sabiam com quem estavam mexendo, o bem da verdade estavam mexendo com o mundo todo praticamente, eis que usavam de sua libertinagem gráfica contra católicos, muçulmanos e judeus, nenhum destes três prestava, tudo se generalizava e a regra dos profissionais de lá era “a zueira contra as religiões não tem limites”. Pois ele, o limite, veio da pior forma, da forma mais brutal, da mais ignorante e da menos respeitosa das formas, o extremismo do terrorismo.
Não há que se misturar liberdade de imprensa, liberdade de expressão e censura com libertinagem e mal gosto. Somos todos livres quando falamos e nos expressarmos, mas a libertinagem do Charlie Hebdo pagou o preço de sua liberdade de mal gosto.
Para mostrar um único exemplo de tudo que disse acima colocarei uma única foto de capa do semanário e peço que reflitam se coisas assim são realmente necessárias. Fica por sua conta.          


Deus sendo penetrado por Jesus que, por fim, é penetrado pelo Espírito Santo.
Não sou católico, acredito em um Deus próprio, eis que não defendo a doutrina católica por não concordar com muitas coisas que esta proíbe e abomina, mas acho que para ser respeitado devo no mínimo respeitar os diferentes. 

Sou crítico ferrenho da Igreja Católica, dos papas, mas definitivamente a minha crítica é contra os homens do Vaticano e não contra seu Deus, muito menos com charges desse nível. 

Eu não sou Charlie, je ne suis pas Charlie (texto de Leonardo Boff).
10/01/2015
Há muita confusão acerca do atentado terrorista em Paris, matando vários cartunistas. Quase só se ouve um lado e não se buscam as raízes mais profundas deste fato condenável mas que exige uma interpretação que englobe seus vários aspectos ocultados pela midia internacional e pela comoção legítima face a um ato criminoso. Mas ele é uma resposta a algo que ofendia milhares de fiéis muçulmanos. Evidentemente não se responde com o assassianto. Mas também não se devem criar as condições psicológicas e políticas que levem a alguns radicais a lançarem mão de meios reprováveis sobre todos os aspectos. Publico aqui um texto de um padre que é teóloogo e historiador e conhece bem a situação da França atual. Ele nos fornece dados que muitos talvez não os conheçam. Suas reflexões nos ajudam a ver a complexidade deste anti-fenômeno com suas aplicações também à situação no Brasil: Lboff

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Eu condeno os atentados em Paris, condeno todos os atentados e toda a violência, apesar de muitas vezes xingar e esbravejar no meio de discussões, sou da paz e me esforço para ter auto controle sobre minhas emoções…

Lembro da frase de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”. Não acho que nenhum dos cartunistas “mereceu” levar um tiro, ninguém o merece, acredito na mudança, na evolução, na conversão. Em momento nenhum, eu quis que os cartunistas da Charlie Hebdo morressem. Mas eu queria que eles evoluíssem, que mudassem… Ainda estou constrangido pelos atentados à verdade, à boa imprensa, à honestidade, que a revista Veja, a Globo e outros veículos da imprensa brasileira promoveram nesta última eleição.

A Charlie Hebdo é uma revista importante na França, fundada em 1970, é mais ou menos o que foi o Pasquim. Isso lá na França. 90% do mundo (eu inclusive) só foi conhecer a Charlie Hebdo em 2006, e já de uma forma bastante negativa: a revista republicou as charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten (identificado como “Liberal-Conservador”, ou seja, a direita europeia). E porque fez isso? Oficialmente, em nome da “Liberdade de Expressão”, mas tem mais…

O editor da revista na época era Philippe Val. O mesmo que escreveu um texto em 2000 chamando os palestinos (sim! O povo todo) de “não-civilizados” (o que gerou críticas da colega de revista Mona Chollet (críticas que foram resolvidas com a demissão sumaria dela). Ele ficou no comando até 2009, quando foi substituído por Stéphane Charbonnier, conhecido só como Charb. Foi sob o comando dele que a revista intensificou suas charges relacionadas ao Islã, ainda mais após o atentado que a revista sofreu em 2011…

A França tem 6,2 milhões de muçulmanos. São, na maioria, imigrantes das ex-colônias francesas. Esses muçulmanos não estão inseridos igualmente na sociedade francesa. A grande maioria é pobre, legada à condição de “cidadão de segunda classe”, vítimas de preconceitos e exclusões. Após os atentados do World Trade Center, a situação piorou.

Alguns chamam os cartunistas mortos de “heróis” ou de os “gigantes do humor politicamente incorreto”, outros muitos os chamam de “mártires da liberdade de expressão”. Vou colocar na conta do momento, da emoção. As charges polêmicas do Charlie Hebdo, como os comentários políticos de colunistas da Veja, são de péssimo gosto, mas isso não está em questão. O fato é que elas são perigosas, criminosas até, por dois motivos.

O primeiro é a intolerância. Na religião muçulmana, há um princípio que diz que o Profeta Maomé não pode ser retratado, de forma alguma. Esse é um preceito central da crença Islâmica, e desrespeitar isso desrespeita todos os muçulmanos. Fazendo um paralelo, é como se um pastor evangélico chutasse a imagem de Nossa Senhora para atacar os católicos…
Qual é o objetivo disso? O próprio Charb falou: “É preciso que o Islã esteja tão banalizado quanto o catolicismo”. “É preciso” porque? Para que?

Note que ele não está falando em atacar alguns indivíduos radicais, alguns pontos específicos da doutrina islâmica, ou o fanatismo religioso. O alvo é o Islã, por si só. Há décadas os culturalistas já falavam da tentativa de impor os valores ocidentais ao mundo todo. Atacar a cultura alheia sempre é um ato imperialista. Na época das primeiras publicações, diversas associações islâmicas se sentiram ofendidas e decidiram processar a revista. Os tribunais franceses, famosos há mais de um século pela xenofobia e intolerância (ver Caso Dreyfus), como o STF no Brasil, que foi parcial nas decisões nas últimas eleições e no julgar com dois pessoas e duas medidas caos de corrupção de políticos do PSDB ou do PT, deram ganho de causa para a revista.

Foi como um incentivo. E a Charlie Hebdo abraçou esse incentivo e intensificou as charges e textos contra o Islã e contra o cristianismo, se tem dúvidas, procure no Google e veja as publicações que eles fazem, não tenho coragem de publicá-las aqui…

Mas existe outro problema, ainda mais grave. A maneira como o jornal retratava os muçulmanos era sempre ofensiva. Os adeptos do Islã sempre estavam caracterizados por suas roupas típicas, e sempre portando armas ou fazendo alusões à violência, com trocadilhos infames com “matar” e “explodir”…). Alguns argumentam que o alvo era somente “os indivíduos radicais”, mas a partir do momento que somente esses indivíduos são mostrados, cria-se uma generalização. Nem sempre existe um signo claro que indique que aquele muçulmano é um desviante, já que na maioria dos casos é só o desviante que aparece. É como se fizéssemos no Brasil uma charge de um negro assaltante e disséssemos que ela não critica/estereotipa os negros, somente aqueles negros que assaltam…

E aí colocamos esse tipo de mensagem na sociedade francesa, com seus 10% de muçulmanos já marginalizados. O poeta satírico francês Jean de Santeul cunhou a frase: “Castigat ridendo mores” (costumes são corrigidos rindo-se deles). A piada tem esse poder. Mas piada são sempre preconceituosas, ela transmite e alimenta o preconceito. Se ela sempre retrata o árabe como terrorista, as pessoas começam a acreditar que todo árabe é terrorista. Se esse árabe terrorista dos quadrinhos se veste exatamente da mesma forma que seu vizinho muçulmano, a relação de identificação-projeção é criada mesmo que inconscientemente. Os quadrinhos, capas e textos da Charlie Hebdo promoviam a Islamofobia. Como toda população marginalizada, os muçulmanos franceses são alvo de ataques de grupos de extrema-direita. Esses ataques matam pessoas. Falar que “Com uma caneta eu não degolo ninguém”, como disse Charb, é hipócrita. Com uma caneta se prega o ódio que mata pessoas…

Uma das defesas comuns ao estilo do Charlie Hebdo é dizer que eles também criticavam católicos e judeus…
Se as outras religiões não reagiram a ofensa, isso é um problema delas. Ninguém é obrigado a ser ofendido calado.
“Mas isso é motivo para matarem os caras!?”. Não. Claro que não. Ninguém em sã consciência apoia os atentados. Os três atiradores representam o que há de pior na humanidade: gente incapaz de dialogar. Mas é fato que o atentado poderia ter sido evitado. Bastava que a justiça tivesse punido a Charlie Hebdo no primeiro excesso, assim como deveria/deve punir a Veja por suas mentiras. Traçasse uma linha dizendo: “Desse ponto vocês não devem passar”.

“Mas isso é censura”, alguém argumentará. E eu direi, sim, é censura. Um dos significados da palavra “Censura” é repreender. A censura já existe. Quando se decide que você não pode sair simplesmente inventando histórias caluniosas sobre outra pessoa, isso é censura. Quando se diz que determinados discursos fomentam o ódio e por isso devem ser evitados, como o racismo ou a homofobia, isso é censura. Ou mesmo situações mais banais: quando dizem que você não pode usar determinado personagem porque ele é propriedade de outra pessoa, isso também é censura. Nem toda censura é ruim…

Deixo claro que não estou defendendo a censura prévia, sempre burra. Não estou dizendo que deveria ter uma lista de palavras/situações que deveriam ser banidas do humor. Estou dizendo que cada caso deveria ser julgado. Excessos devem ser punidos. Não é “Não fale”. É “Fale, mas aguente as consequências”. E é melhor que as consequências venham na forma de processos judiciais do que de balas de fuzis ou bombas.

Voltando à França, hoje temos um país de luto. Porém, alguns urubus são mais espertos do que outros, e já começamos a ver no que o atentado vai dar. Em discurso, Marine Le Pen declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada”. Essa fala mostra exatamente as raízes da islamofobia. Para os setores nacionalistas franceses (de direita, centro ou esquerda), é inadmissível que 10% da população do país não tenha interesse em seguir “o modo de vida francês”. Essa colônia, que não se mistura, que não abandona sua identidade, é extremamente incômoda. Contra isso, todo tipo de medida é tomada. Desde leis que proíbem imigrantes de expressar sua religião até… charges ridicularizando o estilo de vida dos muçulmanos! Muitos chargistas do mundo todo desenharam armas feitas com canetas para homenagear as vítimas. De longe, a homenagem parece válida. Quando chegam as notícias de que locais de culto islâmico na França foram atacados, um deles com granadas!, nessa madrugada, a coisa perde um pouco a beleza. É a resposta ao discurso de Le Pen, que pedia para a França declarar “guerra ao fundamentalismo” (mas que nos ouvidos dos xenófobos ecoa como “guerra aos muçulmanos”, e ela sabe disso).

Por isso tudo, apesar de lamentar e repudiar o ato bárbaro do atentado, eu não sou Charlie. Je ne suis pas Charlie.

post: Marcelo Ferla

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